Parte I - #01

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A luz luta para entrar pelas aberturas da pesada cortina bordô cobrindo a janela que ocupa toda a parede. O ventilador sobre sua cama gira de novo e de novo, o som macio das pás movendo pelo ar enchendo o quarto. Seus cobertores estão enrolados ao redor de sua cintura, frio demais para descartá-los. De qualquer forma, foram empurrados para fora de seu tórax nu, quente demais para mantê-los. Sua pele está corada e coberta de suor por revirar, sem mencionar os comprimidos para dor, os quais parecem afetar a temperatura do seu corpo da forma mais estranha possível.

O quarto cheira a suor, álcool derramado e comida estragada. Na mesa ao lado há um prato de café da manhã intacto, os ovos borrachudos demais para comer, o bacon frio demais, a torrada encharcada, uma bagunça incontrolável. Há também um prato de jantar da noite anterior, algo de massa que possuía um cheiro forte de alho além do que ele pudesse suportar. Se ele rolar pela cama, o que ele provavelmente não vai fazer tão cedo, ele conseguiria ver a garrafa de vinho tinto derrubada, manchando o tapete, que uma vez fora perfeitamente branco e fofo, que lhe custou mais do que ele gastaria em algo tão estúpido, mas seu decorador pareceu pensar que fosse uma necessidade para qualquer solteiro milionário em seus vinte e poucos anos.

Ele não se move de sua cama há dois dias e meio. Não tem tomado banho o dobro do tempo. As únicas pessoas com quem ele tem conversado na última semana são sua mãe, seu médico e seu agente. Alguns outros tentaram, mas Liam afundou seu celular no vaso sanitário três dias atrás, então nunca se sabe se ainda estão tentando entrar em contato com ele. Eles não são importantes o suficiente para que ele se importe. Qualquer um que fosse importante já teria estado em seu apartamento para ter sua atenção. O resto pode ir se foder.

A televisão de tela plana na parede oposta está quase completamente muda, mas isso não o impede de ouvir a mulher na tela dizer seu nome. Ele se atenta, com as sobrancelhas arqueadas, e luta para encontrar o controle remoto, aumentando o volume imediatamente.

"Ainda sem notícias do astro do futebol Liam Payne", ela diz enquanto sorri abertamente, lábios cor de rubi, grandes de um jeito que apenas alguém com genes excepcionais, ou uma boa cirurgia plástica, teria. "Um dos representantes de Payne alega que ele preferiu ter uma vida de solidão enquanto espera notícias se seu recente ferimento vai encerrar sua carreira permanentemente. Alguns especuladores temem que esse deve ser o caso. Alguém bem próximo alega que o ferimento--,"

Liam desliga a televisão e, para completar, joga o controle na direção do aparelho. Entretanto, a tela é dura e nem ao menos racha. O barulho do plástico atingindo o vidro ecoa pelo quarto, mas, além disso, nada acontece.

O que a âncora do jornal desinformada não sabe é que não há especulação se o ferimento vai ou não encerrar sua carreira permanentemente. Eles foram positivos quase desde momento em que Liam entrou de cadeira de rodas na sala de emergência. Uma fratura no quadril como essa não vai deixá-lo numa cadeira de rodas pelo resto de sua vida, mas ele vai andar mancando para sempre, e correr é algo que somente vai existir em seu passado. Jogar futebol não é nem ao menos uma possibilidade remota.

Ele não pode acreditar que isso é algo que está realmente acontecendo com ele. Ele estava no auge de sua carreira. No seu quarto ano consecutivo jogando depois de se formar na universidade. Ele tem vinte e seis anos, pelo amor de Deus. Ele deveria ter outros quatro anos em sua carreira, pelo menos. Nesse verão ele fora classificado como o mais valioso (e bem pago) jogador do ano. E por jogar bem, ele também tinha a maior base de fãs. Ele era um dos poucos atletas famosos que não tiveram algum tipo de escândalo escrito sobre eles nos jornais. Ele era o menino de ouro, o prodígio. Quando se aposentasse aos seus trinta anos, ele era estimado ter bancado cento e vinte milhões de dólares (e isso sobre as propriedades e bens materiais que ele possuía). Não que o dinheiro importasse muito para ele daquela forma. Ele se importava mais com o jogo do que com as regalias. O jogo que ele não poderia mais jogar.

Permanent [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora