Chuvosa

Ventos

O frio cortava minhas bochechas, as nuvens estavam rabugentas e o banco frio como pedra. Iria ir embora hoje, nunca irei me esquecer dessa data,nunca vou esquecer de St Hillary, nunca! O vejo ao longe, ele me vê e fingi um sorriso fraco. Seu cabelo estava bagunçado, seus olhos inchados e vermelhos, sem contar que estava muito pálido. Fui até ele e o abracei forte, não queria solta-lo. Seus braços eram fortes, confortáveis e expressavam tudo o que ele carregava no coração: Amor...
- Não vá.

Sua voz está fraca e ele não me olha nos olhos ao falar isso. Eu derramo algumas lágrimas e respondo sorrindo entre elas.
- Não tenho opção...
Ele corta minhas palavras com beijo leve e calmo na minha bochecha, me deixando vermelha Isso só iria piorar as coisas! Me afasto olhando para o chão.
- Desculpa.
Fala ele se afastando e eu respiro fundo, não poderia acreditar no que ia dizer.
- Espero que você seja muito feliz Noah, que encontre tudo o que precisa pra viver e que me esqueça para que possa seguir em frente, não quero partir seu coração, mas a distância é horrível! Acredite, eu sei que é! Amo você e quero que siga em frente.

Ele me encara por intermináveis segundos e se aproxima, uma pequena lágrima brotava de seu olho esquerdo, mas quando ela invade sua bochecha é como se alguém tivesse me dado uma facada no coração. Ele beija novamente minha bochecha direita e se afasta somente pouco centímetros.

- Não se esqueça nem por um segundo que eu te amo e que a chuva é tudo o que eu preciso pra sorrir, Deus sabe disso. Quer eu que lhe esqueça Clarice? Então, me faz um favor?

Seus olhos são intensos e ele passa a mão freneticamente no seu cabelo.
- Noah eu acho melhor...
- Só me responda.

Deixo algumas lágrimas caírem.
- Sim, qualquer coisa.

Ele sorri triste.
- Me prometa que um dia você vai voltar pra mim.

Como eu queria gritar "SIM", mas decidi optar pelo silêncio. O silêncio pode ter mais valor do que qualquer palavra que eu poderia dizer ou melhor gritar. Ele parecia abalado com esse vácuo de silêncio que parecia mais barulhento do que um show de Heave Metal.
- Mesmo se eu quisesse nunca me esqueceria de você.

Ele diz isso e saí com passo firme, sem olhar pra trás. É como se alguém tivesse me dado um soco no estômago, tenho uma vontade imensa de ir atrás dele. Mas é como se eu estivesse presa em mim mesma, observo ele e no final antes de virar a esquina ele olha pra trás. Sim, olha pra trás... Como a alguns meses atrás no parque, mas agora seu olhar é de desespero e ele não acena. Ele só me encara por uns minutos e faz um movimento de negação com a cabeça, como se não acreditasse no que estava acontecendo. Eu que não acredito! Abaixo o olhar pro chão e quando levanto, ele não está mais lá. Começo a chorar naquele segundo, queria que ele voltasse, queria ver seus olhos de novo. Era uma vírgula e não um ponto. Não teve um final, sempre odiei um Adeus, mas aquilo não foi um adeus e parecia doer mais do qualquer adeus que eu já ouvi. Fui voltando pra casa aos poucos, já havia me despedido de todos, quer dizer quase todos. Nunca me esqueceria daquele momento, nunca! Fui pra casa quase não me aguentando dentro de mim, as malas já estavam prontas e na porta de casa. Felipe me viu, eu estava acabada. De repente ele veio e me abraçou, chorei mais ainda.
- Desculpa Clair por tudo, eu vou cuidar de você. Eu juro!

Aquelas simples palavras me reconfortaram. Ele me soltou limpando minhas lágrimas e falou:

- Vai ficar tudo bem!

Sorrio e me lembro que Bia me falou isso não a muito tempo, pego sua mão e respondo contendo as lágrimas.
- Eu sei, um dia vai!

Mamãe chega com Sophia que vem no meu colo.
- Não chora Mana, Noah sempre estará aqui.

Ela coloca sua mãozinha minúscula no meu coração. Mais lágrimas e eu digo a abraçando.
- Vamos cuidar uma da outra, isso é uma promessa.

Ela está no meu colo e fica falando com Felipe no caminho.
- Que linda sua blusa Sophia, quem te deu?