Um Café Meio-Amargo Parte 2

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— Huh?

— Mano, eu tô gaguejando? - ele perguntou gritando. — Passa a porra do dinheiro. LOGO!

— Cara, eu...

— Será que eu vou ter que te bater, é? - ele gritou, se aproximando de mim com o punho voltado para cima e me imprensando contra a parede.

— Solta ele agora. - disse Enzo na maior confiança no mundo. — E eu não quero ter que pedir de novo.

— Enzo... Olha, você não precisa se encrencar por minha caus...- gaguejei, tentando amenizar as coisas.

— Hahaha

Higor riu.

— Eu não tenho tempo para discussões de namorados. - debochou Higor. - Vamos logo passando essa porra, senão eu...

— Senão eu, o quê? Se acha muito valentão, não é mesmo? Quero ver você se achar valentão agora. - Disso Enzo se aproximando e enfrentando Higor.

Enzo dá o primeiro soco e Higor cai no chão.

— Vai embora daqui. AGORA! - ordenou Enzo.

Eu corri enquando Enzo enfrentava aquele rapaz para me defender. E eu mal conhecia ele. Os dois brigaram feio. Feio mesmo. Higor carregava sempre um canivete no bolso, então você já sabe o que aconteceu... O Enzo não morreu, se é o que quer saber. Mas teve um enorme arranhão no braço esquerdo.

Logo ele me procura e me encontra no banheiro.

— Ai meu Deus, você tá bem? - perguntei desesperado.

— Eu pareço bem? - Ele me perguntou sorrindo. Seu sorriso era lindo e seus lábios róseos o destacava mais ainda.

— Precisava tudo isso? Era só eu dar o meu dinheiro e tava de boa, cara, você é louco. - perguntei totalmente aflito e preocupado.

— Então é assim que você me agradece? Me dandro bronca? - Ele perguntou fazendo uma carinha de filhote de Vira-lata perdido e esquecido de seu dono, numa praça qualquer, num lugar qualquer.

— Olha, eu não pedi sua ajuda, tá legal? Eu mal te conheço. — disse passando água em seu braço ensanguentado.

— Eu não ia deixar você apanhar, além do mais, eu esqueci meu dinheiro, quem sabe você não poderia me emprestar? - ele disse dando uma gargalhada.

Nós dois sorrimos.

— Você é um idiota, sabia? - disse desligando a torneira e dando um tapinha em seu ombro. — Vamos, a próxima aula já vai começar. Você tá bem mesmo, não está?

— Vou ficar. Prometo. - Ele sussurrou em meu ouvido sorrindo. — Agora vamos. Já entramos em encrencas demais no primeiro dia de aula.

Nem tudo naquele dia acabou. Ainda tivemos mais algumas aulas e largamos. O Enzo perguntou se não queria companhia até a parade de ônibus, já que ele também ia para lá. E eu? Aceitei.

— Onde você mora? - Enzo me pergunta.

— Rua Walkstreet, 312. Não é muito longe daqui. - respondi.

— Espera... Você também mora lá? Como eu nunca te vi? - Ele me pergunta enquanto entramos no ônibus.

— Eu me mudei para cá não faz muito tempo. A minha família é daquele tipo de família que sempre está a viajar à trabalho. Mas dessa vez, viemos pra ficar.

— Nossa, como você consegue? Perder amigos, e tals não deve ser fácil. - ele diz passando a mão nos cabelos caídos em minha testa.

— Ahn... É por isso que eu não faço amigos. Sempre era excluido em trabalhos de escola, sempre sentava sozinho nos refeitórios...- falei totalmente constrangido pelo o que ele fez e triste por lembrar de cenas que eu queria apenas esquecer.

— Isso não vai mais acontecer. - Enzo diz com toda certeza do mundo.

— E como você sabe que não, bundão? - perguntei.

— Porque agora, você tem a mim. E vamos sempre estar juntos, não importa o que aconteça. - ele responde com a ele mesmo sorriso lindo de antes.

Vemos com clareza, um Ector corado.

— Esta é nossa parada. Vamos? - Enzo diz, me dando um murro não tão forte no ombro.

— Sim. - pego minha mochila e desço junto com ele.

Nós dois andamos um pouco, já havia escurecido. E enquanto andamos, jogavámos conversa fora e, eu pude perceber, o quanto o Enzo me entendia. E eu me sentia em casa com isso.

— A minha casa é essa aqui. - disse, estendendo a mão para um aperto.

— Meu trabalho está cumprido! - ele disse gargalhando.

Eu me viro para entrar, e vou em direção a porta. Quando de repente, ele pega em minha mão e me vira para a frente dele.

— Até amanhã, Ector. Te mando uma mensagem quando chegar.

— T-Tudo bem... Até amanhã. - naquele momento, eu tremi na base.

Algumas horas se passam, e me deito para tentar dormir. Quando o celular vibra.

"Boa noite, Ector. Tenha bons sonhos! :)"

"Terei sim, pode deixar. Boa noite. ^~^"

Eu sorrio. Fecho meus olhos.

— Boa noite, Enzo. - sussuro para mim.

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A Rua WalkstreetOnde histórias criam vida. Descubra agora