Capítulo 3

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POV Lauren.

Voltar a Miami depois de cinco anos estava me trazendo várias lembranças, e a maioria delas eram ruins. Nunca fui a melhor filha para meus pais, por mais que eu tenha tentado ser. O fato de sempre quererem um filho homem para tomar de conta da empresa de arquitetura de meu pai, fez com que todos eles me desprezassem assim que completei três anos de vida. Eu não entendia na época o que estava acontecendo, todos me desprezaram, todo o amor caiu sobre Christopher o que seria nomeado o filho perfeito, que só traria alegrias a família. Enquanto eu, eu fui criada pela empregada, que é a única pessoa que eu chamei de mãe a vida inteira. Adeline, a mulher que foi minha mãe, que enxugou minhas lágrimas e me ensinou muitas coisas sobre a vida.

Eu estava parada de frente a minha antiga casa, o que ainda deve ser a casa de meus pais. Estava tudo ainda mais luxuoso quanto antes.

- boa tarde, senhora. O que deseja? – o segurança que estava em frente à casa de meus pais se aproximou de mim. Eu o olhei dos pés à cabeça e neguei com a cabeça. Retirei meus óculos e sorri pra ele. – senhorita Lauren? – perguntou espantado e eu assenti.

- não se assuste, eu sei que faz muito tempo que não venho aqui! – falei voltando a pôr o óculos em meu rosto. – não vim visitar meus pais, eu só quero saber se a Adeline ainda trabalha por aqui.

- sim, senhorita. Ela ainda é a uma das funcionárias antigas que permanecem por aqui.

- não precisa falar comigo desse jeito, não sou nada dessa família, não mais. – fitei minha antiga casa e suspirei. – será que tem como eu entrar pra falar com ela?

- sim senhorita, aqui é sua casa. – encarei-o e neguei com a cabeça.

- meu lar é em Madrid, señor! – sorri abertamente pra ele. – primeiro quero saber se meus pais estão em casa.

- eles só chegam a noite, senhora. Só seu Christopher que chega à tarde, mas esse horário deve estar dando aula na faculdade.

- então por favor, me põe aí dentro e não avisa nada a ninguém.

- claro, senhorita! Me acompanhe por favor. – eu assenti e acompanhei seus passos.

Cada passo que eu dava caminhando dentro daquela mansão, meu coração acelerava e o medo percorria meu corpo. Eu tinha saudades daqui, mas também queria muito sair correndo. Esse não era meu lar, eu realmente me encontrei em Madrid.

Parei de frente a porta da cozinha e escutei uma movimentação de pessoas e pratos. Haviam alguém falando em espanhol e eu deduzi que certamente seria a Adeline que é mexicana e nunca soube falar bem o inglês. Toquei a maçaneta e fechei meus olhos, eu estava pensando em desistir, mas algo em mim pedia por esse reencontro. Virei a maçaneta e a porta foi destrancada.

- ¡yo no puedo creer que hayas venido por la puerta de trasera, Christopher! (eu não acredito que você entrou pela porta de trás, Christopher) – eu sorri ao vê-la de costas enxugando um prato, ela virou-se pra mim e soltou o prato no chão. – ¡mí Jesucristo! ¡No puedo creer en lo que mis ojos ven! No eres real, nena! ¡Vete de aquí! ¡No eres real! ¡No eres real! ( Meu Jesus! Não consigo acreditar no que meus olhos veem! Você não é real! Vai embora! Você não é real! Você não é real!)

- ei, calma! Sou eu! Sou eu, a Lauren! – falei esticando minhas mãos na tentativa de me aproximar lentamente. – eu voltei, mãe! Sou eu, sua filha! – ela estava em estado de choque, se encostou no balcão da pia e levou a mão ao peito. – fica calma por favor, eu não queria te assustar!

- não eres de verdade, nena! Por que está a fazer isso? Tu queres me matar do coração? – me aproximei e toquei-lhe o ombro.

- eu sou real, eu juro! Sou eu, mãe. – ela me olhou por alguns segundo e seus olhos começaram em uma leve formação de lágrimas. – eu senti tanto sua falta. – alisei seus braços e suas lágrimas começaram a escorrer.

- como chegou? Quando chegou? Por que sumiu? Yo senti tu falta! – me abraçou forte sem se importar com os cacos de vidro no chão. Eu estava ficando emocionada de finalmente receber um abraço sincero. Talvez o único abraço sincero de toda a vida.

- eu estava com medo de voltar e saber que você já não existia! – lágrimas se formaram em meus olhos e escorreram por minha face enquanto o abraço só ficava mais forte e protetor. – me perdoe por não ter voltado, me perdoe por não ter me comunicado com você, mãe! Eu estava muito triste, eu queria mudar minha vida, e você sabe! Você sabe tudo que eu passei, eu precisava sair de perto de tudo isso, e prometo que vou te levar comigo, eu vou te tirar dessa casa. – falei me desvencilhando de seu corpo.

- não se preocupes, mí hija! Yo senti su falta! Pero, entendi sus motivos! Tu eres uma menina genial e merece todo de bueno em esa vida! – sorriu abertamente mesmo usando suas palavras enroladas. – yo estoy feliz em saber que tu estas bem! – ela levou a mão até meu rosto e alisou. – está mais bonita! Está mais mujer! Yo estoy orgullosa de ti!

- orgulhosa por eu ter abandonado tudo e ficar em um país desconhecido?

- orgullosa por usted ter refeito su vida e não esquecer que eu sou su mama.

- eu jamais esqueceria que você é minha mãe! – segurei suas mãos e a beijei. – se não tivesse você, minha vida teria sido muito pior. Eu quero te agradecer por tudo que fez, por ter me criado quando ninguém mais se importava comigo. Obrigada por ser a mãe que eu nunca vou ter. – beijei sua testa e soltei suas mãos – me deixe limpar isso. – falei apontando para o chão.

- no mí hija! Tu vas a se cortar! Yo limpo! – ela começou a me empurrar para que eu me afastasse dos vidros e foi atrás de algo. Eu olhei ao redor da cozinha e suspirei. Esse era meu local favorito na casa, era o lugar no qual eu passava mais tempo, justo por poder ficar no pé da Adeline. – afaste nena! Yo voy limpar! – Lhe vi limpar a cozinha com bastante cuidado, como sempre fazia e sorri. Eu tinha saudade de vê-la fazendo essas coisas.

Conversei um bom tempo com a Adeline e depois resolvi voltar para o hotel. Eu estava bastante abalada, principalmente por reencontrar Camila. Eu nunca deixei de ama-la. Saber que ela era a noiva do Christopher foi irônico, não que eu tenha achado ruim, mas o fato dela nunca saber que era eu sua cunhada foi engraçado e irônico, ela que me aguarde, pois esses dias que passarei em Miami, não sairei de sua cola nenhum segundo. Só preciso saber onde ela mora. Quero vê-la, quero ver até onde vai essa sua heterossexualidade, quero ver até quando terá medo de ser quem ela realmente é.



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Ei gente, é um capítulo pequeno, apenas para vocês entenderem um pouco sobre essa Lauren. Espero que tenha gostado e obrigada por comentarem e estarem acompanhando, eu amo vocês. ♥

Twitter: jaqueelinerocha


Past Endless - CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora