A casa estava silenciosa, ficou assim desde o acidente. A ausência de Anne de longe era notável. Ela sempre irradiava os lugares em que estava, trazia alegria consigo. Dexter estava sentado na beirada da cama olhando o álbum de casamento, tantos sorrisos. Ele passou as páginas até chegar em sua foto favorita, que ele mesmo havia tirado, Anne estava com seu cabelo semi preso em um coque, ela olhava para a câmera com um sorriso zombeteiro, antes disso ela tinha brigado por ele ter pego a câmera do fotógrafo, alegando que ele deveria sair em todas as fotos assim como ela. Mas Dexter queria capturar o olhar dela quando olhava para ele, e assim o fez. A fotografia congelou o momento em que apareceu o brilho no olhar de sua mulher. Suas maçãs do rosto acentuadas, seu sorriso largo e pequenas mechas do seu cabelo roçando seus ombros. Como ele sentia falta dela.
Enquanto ele observava a foto, o telefone da sala tocava. Depois de um tempo o som irritante parou e seu celular começou a vibrar, ele observou o visor, era Nick.
- Nick?! – disse com a voz meio rouca.
- Oi, cara. Como você está? – Dexter notou um tom de ansiedade e preocupação na voz do amigo.
- Estou legal, dentro do possível. Por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada. Só que eu e a Ronnie estávamos preocupados contigo. Ela pediu para que você viesse jantar na minha casa hoje. Vou fazer lasanha.
- Não vou prometer, ok?! Estou indo daqui a pouco para o hospital. – Dexter engoliu em seco, ultimamente vinha tentando forçar a comida para o seu estômago. Era só pensar em comer que já ficava enjoado.
- Pense bem, tá?! Vamos te esperar.
Assim que desligou, ele entrou no banheiro, tomou banho, se arrumou e dirigiu até o hospital. Aquele caminho se tornou tão familiar, que dirigir para lá se tornou meio que automático. Ao empurrar as portas de vidro da frente a enfermeira já o reconheceu, deu um sorriso triste e falou que ele podia ir para o quarto de Anne. Dexter conseguia sentir o peso da pena nos olhos das pessoas. Mas a dor era tão grande que não dava para se importar com isso.
Dexter estava andando pelo corredor quando a mesma enfermeira o chamou.
- Senhor! - ele se virou e encarou a mulher baixinha de cabelos grisalhos que segurava uma linda tulipa na mão.
- Sim.
- O senhor é o Dexter? – ela disse meio ofegante por ter corrido atrás dele.
- Sou eu. É para a Anne? - ele perguntou olhando para a flor nas pequenas mãos da enfermeira.
Com a tulipa na mão, Dex empurrou a porta do quarto 201 e entrou.
Aparentemente não havia mudanças, Anne estava como ele a havia deixado de manhã, exceto pela posição na cama, as enfermeiras sempre a massageavam e a trocavam de posição para evitar as feridas e tromboses. Seus olhos fechados, seus longos cílios pretos que a deixava linda de qualquer forma. Suas mãos agora estavam sobre a barriga, e como sempre, tinha uma expressão de paz. Como se estivesse em um sono bom.
Dex se aproximou e sentou na cadeira ao seu lado. Ele olhou para a tulipa e as lágrimas vieram. Tudo havia sido culpa dele, ela estava assim por causa dele. Ele queria tanto ver seus olhos de novo, ver aquele brilho tão lindo como na fotografia. Só de pensar que isso poderia nunca mais acontecer, seu coração apertava, as lágrimas desciam com mais força e a vontade de gritar era grande.
Ele respirou fundo e se aproximou dela, passou seus dedos levemente sobre o braço dela até chegar em sua mão, a segurou ao lado de seu rosto sentindo a superfície fria onde estava a aliança. Soltou a mão dela com cuidado e beijou sua testa. "Eu te amo tanto" sussurrou entre lágrimas.
Dexter observou que ainda segurava a tulipa em sua mão, caminhou até a janela do quarto, abriu a cortina, e, com surpresa, viu um beija-flor voando um pouco abaixo dali. Segurou a flor com mais força e uma pequena memória passou em sua cabeça.
Anne estava no jardim de casa, cuidando das flores, não havia tulipas ali devido ao clima muito quente, mas ela cultivava diversas outras flores. Ela viu Dexter se aproximar e deu aquele sorriso. E antes que ele dissesse qualquer coisa ela começou:
"A natureza tem o poder de curar. Eu creio que é um dom dado por Deus. Me sinto tão viva perto disso, do verde, das flores, dos pássaros. Amor, você pode sentir isso também?"
"Sinto" Ele gostava de estar ali, mas não conseguia entender muito bem o que Anne queria dizer.
Ao olhar novamente para a tulipa em sua mão, Dex pensou nas palavras de Anne "A natureza tem o poder de curar". E repetindo isso em sua cabeça, se aproximou novamente de Anne, segurou sua mão macia, passou com suavidade a tulipa sobre sua pele, começando pela maçã do rosto, indo pelo pescoço, ombro, com movimentos lentos e calmos roçou a flor pelo seu braço e por sua mão. Até que percebeu um movimento, ou achou que tinha percebido, ele já não sabia ao certo se sua mente estava lhe pregando peça.
Mas continuou seu carinho com a delicada tulipa.
A mão de Anne estava perto de seu próprio corpo, Dexter passou a flor bem de leve sobre ela, então como um choque de reconhecimento ela se moveu, agora ele tinha certeza, Anne tinha mexido seus dedos, não era ilusão, não era sonho, era simplesmente um milagre.
Dexter correu para porta, gritou a procura de uma enfermeira e voltou para abraçar sua mulher.
Nota da Autora:
Quero um Dexter pra mim!
Espero que estejam gostando, deixem comentários...
Que o Senhor os abençoe!Beijos e tulipas :*
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Mil Tulipas
Lãng mạnUma história marcante sobre uma mulher que não sabe demonstrar seus sentimentos. Um amor mal correspondido, Deus e "mil tulipas". Anne não entendia que tudo acontece no tempo de Deus, Dexter luta para manter as esperanças. Até onde Deus age para cum...