Capítulo 24 - TUDO

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Anne não sentia seu corpo, a não ser a dor latejante em sua cabeça. Tentou abrir os olhos, mas eles não responderam ao seu comando, conseguiu somente apertá-los com mais força. Pensou em se sentar, mas nada do que queria fazer estava parecendo ser possível. Seu corpo estava paralisado. Ela sentiu a presença de mais alguém, estava próximo, era como se ela pudesse senti-lo mais do que sentia a si própria. Tentou, com todas as suas forças abrir os olhos e se mover, mas seu esforço parecia em vão. Ela ouviu gritos, era uma voz familiar, de onde ela conhecia essa voz? Mas isso agora não importa, tenho que me concentrar em me mover, pensou.

Sentia um gosto horrível na boca e tudo que queria era água. Concentrou toda a sua atenção e força para que conseguisse falar algo. Finalmente, com muito esforço, moveu suas pálpebras e viu o belo homem que segurava a sua mão. Ela o conhecia, mas não se lembrava, e, como fleches algumas memórias passaram em sua mente e sua cabeça latejava de tanta dor. E quanto mais se esforçava mais doía. Ela percebeu então que o homem estava falando com ela, mas tudo estava tão confuso, as memórias se misturavam com o presente. Ela tentou se concentrar na voz dele. Mas tudo escureceu.

***

Havia uma luz forte, foi difícil abrir os olhos. E quando conseguiu observou que estava no quarto de hospital, aquele mesmo que estivera tempo antes quando acordou e apagou instantes depois. Olhou em volta pensando em chamar uma enfermeira, mas isso não a ajudaria, precisava se lembrar e ajustar suas lembranças, tirar toda essa confusão que estava em sua cabeça. Recordou do que tinha acontecido antes no quarto e forçou-se a lembrar daquele homem magro e bonito. As memórias foram chegando lentamente, e assim, voltando gradativamente e aumentando a velocidade. Sua cabeça doía cada vez mais com o seu esforço, mas ela queria descobrir tudo até o final.

Ela estava em seu aniversário, Dexter ajoelhado a sua frente a pedindo em namoro, muitas pessoas ao redor, seu pais estavam lá. Quando piscou os olhos mudara de cena, agora ela estava em um quarto e uma mulher a cercava mexendo em seu vestido. Ele era longo e branco, parecia até um vestido de... sim, era um vestido de noiva, pensou. Ela iria se casar com Dexter. Na lembrança seguinte, ainda no dia do casamento, Dex corria em sua direção e a pegava no colo, as pessoas ao redor sorriam, pulavam e davam gritos de alegria e ela nunca estivera tão feliz. Agora ela estava em um carro, Dexter estava ao seu lado dirigindo e com a mão esquerda em cima da sua, houve um clarão, som de vidro se estilhaçando e nada. Depois disso não se lembrava de mais nada.

Então é por isso que estou aqui, pensou. Olhou para o lado e viu o aparelho para chamar a enfermeira, quando começou a se esticar para pegá-lo, sentiu uma dor que jamais sentira antes. Então voltou rapidamente a sua posição e ouviu o som da porta se abrindo, sentindo uma pontada de alívio ergueu os olhos viu Dexter.

Ele usava uma camiseta polo azul e uma calça cáqui, nos pés ele tinha um tênis que ela lembrou que dera de presente em seu último aniversário. Quando seus olhares se encontraram ele abriu um sorriso torto e ela teve vontade de abraçá-lo.

- Hey - sorriu - Boa tarde. – Dexter a examinou, queria muito abraçá-la, mas os médicos disseram para ir com muita calma. Ainda não sabiam as sequelas e ela pode ter perdido partes da memória.

- Pensei que fosse de manhã. – houve um breve silêncio – Boa tarde - ela retribuiu o sorriso.

- Como você está? Precisa que eu chame a enfermeira?

- Não precisa. Pode se sentar aqui, Dexter – Ela disse tocando o espaço na cama ao seu lado.

Dexter suspirou aliviado. Como era bom ouvir seu nome ao som dessa linda voz. Ele sorriu e se sentou ao lado de Anne.

Ele tentou começar a falar, mas desistiu. Levantou a cabeça, suspirou algumas vezes até que pigarreou e perguntou:

- Do quanto se lembra? – aguardou a resposta e a observou ansioso.

Ela se aproximou mais, se inclinou e suavemente roçou seus lábios nos de Dex. – De tudo.


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