POV Dylan
Sentei-me logo atrás do Terry, no fundo da sala, e ele falava incansavelmente que eu era seu primo. Aquela escola não me parecia ser acostumada com novidades e percebi que causei um grande tumulto. Ouvia os meninos perguntarem "Da onde que ele é?" e "Será que sabe jogar futebol americano?" enquanto as meninas davam risinhos e falavam quase ao mesmo tempo "Será que ele tem namorada?". Não me interessei por nenhuma das garotas, a grande maioria realmente era pegável, mas nenhuma chamou minha atenção. Nenhuma tirando a Garota-Esnobe-Que-Não-Estava-Nem-Aí-Para-Nada-Do-Fundo-Da-Sala.
- Sr. Collins, não tive tempo de me apresentar. Sou a Professora Hills e ensino Biologia – sorria para mim e logo se virou para turma – Turma, esse é Dylan Collins, o mais novo colega de vocês. Peço que o recebam com carinho e tenho certeza que ele vai falar tudo para vocês. Mas não agora. Páginas 157, hoje começaremos o Sistema Neurológico.
Abri meu livro sem nenhuma vontade e encarava a Garota Esnobe de vez em quando. Ela me olhava com uma mistura de dúvida e de prepotência e mais do que nunca eu queria saber seu nome.
- Terry, hey – cutuquei as costas deles – Quem é aquela menina de jaqueta do exército?
Terry riu baixo e virou-se para mim.
- Sério cara? Tantas por aqui, logo a Scarlett? – ele me olhava incrédulo.
- Scarlett? Me fala mais sobre ela.
- Scarlett Parker, 17 anos, de Nova York. Entrou na escola ano passado e, cara, você não sabe como os meninos caíram em cima. Aí está o diferencial dela: ela rejeitou todos.
- Todos? – isso estava ficando cada vez mais interessante.
- Todos. Até os mais populares. Ela não tem amigos e não é por falta de opção: ela é como todas as meninas gostariam de ser. Linda, desejada e esnobe. Não liga a mínima pro que falam dela e seus únicos companheiros são seu iPod e sua moto. Não fala com ninguém e aqui na sala temos uma teoria que ela não tem dentes.
- Não tem dentes?
- É, nunca vimos ela dar um sorriso – disse Terry entre risos.
Confesso que me senti um pouco especial por saber que ela sorriu para mim hoje. Por mais que fosse um sorriso de superioridade, ela agiu diferente comigo. Eu costumo me interessar pelo o que não tenho até a hora que aquilo for meu e vejo a Scarlett como um desafio. Que maneira melhor de conseguir amigos conquistando a garota mais difícil do colégio? Com certeza ia dar o que falar.
- Os dois aí, chega de conversa. Para frente, Terry. – disse a professora com tom bravo.
No recreio, me sentei com Terry e Sean, que me apresentavam para seus amigos e para as garotas mais bonitas, mas elas não me deixavam interessado. Scarlett, sim. Vi que ela estava na mesa mais distante do refeitório e com a minha melhor cara-de-pau fui até ela, mesmo sabendo que não seria a melhor ideia de todas. Me aproximei por trás e vi que no seu iPod tocava Seven Nation Army – além de linda, tinha bom gosto. Puxei a cadeira ao lado dele e me sentei, chamando sua atenção.
- Dylan. Dylan Collins – ergui minha mão.
Tirou um dos seus fones, me olhou de cima a baixo com o mesmo olhar esnobe e tornou pondo ele de volta na sua orelha. Dei um sorriso torto, essa menina estava me provocando.
Peguei e tirei um dos seus fones e ela me olhou irritada, mas sei que no fundo estava esperando por isso.
- Parece que não é muito sociável, Menina-Sem-Nome.
- Menos, Collins. Até parece que já não sabe meu nome e as minhas histórias nesse colégio.
- Olha quem resolveu falar – sorri irônico – Sim Scarlett, parece que você é bem famosa aqui, você e sua prepotência. Fiquei inquieto ao ver que uma menina assim, tão bonita, não gosta de fazer amigos e prefere ficar sozinha em tudo.
- É aquele famoso ditado, Collins, "melhor só do que má acompanhado". Nesse caso, era como eu estava até você chegar e atrapalhar minha música, com seu discurso pronto e seu jeito de bom-menino. Mas sabe, Collins, você não me engana. É igual aos outros: só se interessa por aquilo que não é seu e, se for assim, parece que você vai ficar interessado por mim por muito tempo.
Aquilo me deixou surpreso por um momento: pra quem acabara de me conhecer e mal tinha dado atenção para minha presença, Scarlett tinha feito uma análise certeira. Suas palavras tentavam me afastar, mas seus olhos queriam que eu ficasse ali, apesar que fosse algo que ela não confessaria. Não tão cedo.
- Por muito tempo não quer dizer para sempre, Scarlett. Tá tentando dizer que um dia vais ser minha? Bom, isso não é nenhuma novidade. Te vejo na aula, menina do Exército – fazendo referência a sua jaqueta. Olhei para ela pelo canto do meu olho enquanto estava saindo e vi aquele sorriso de novo, com ela murmurando "não deve mexer comigo, Collins". Isso é uma pena, porque eu já tinha mexido.
Fui para o banheiro para mijar e o sinal bateu bem na hora. "Droga, vou chegar atrasado de novo" pensei até porque não faço ideia de onde fica o Laboratório de Química. Depois de uns minutos procurando, entrei na sala e o professor me esperava calmamente.
- Sr. Collins, chegue mais perto, por favor. O Laboratório de Química não é muito grande, então a sala foi dividida em duplas fixas. O senhor está sozinho então vai sentar com.. – analisou a sala em busca de alguém também sozinho e sorrio quando percebo a única pessoa sem dupla – Scarlett. Me chame de Professor Still, sente-se por favor.
Scarlett me olhava com raiva e pude perceber que a qualquer momento ela voaria no meu pescoço. Aquilo ia ser divertido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Double Desire
FanfictionCidade nova, desafios novos. Ir para Blackbath High School não foi uma decisão feliz mas nem tudo na vida são decisões agradáveis e eu sinto que minha vida vai mudar agora em San Francisco. Nada desse lugar me surpreendeu, nada me deixou inquieto, e...