Pullth's Dinner

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POV Dylan

Com minha música no último volume, a aula de química passou mais rápido do que nunca. Depois de deixar Scarlett claramente irritada, resolvi ignorar ela um pouco, pelo menos por hoje. Eu já entendi o jogo dela. Ela é assim para chamar atenção, igual àquelas crianças mimadas que abre o berreiro no mercado pros pais fazerem o que elas quiserem. Scarlett quer meninos se rastejando atrás dela, quer meninas a botando num pedestal porque esse é o único jeito que ela aprendeu a não se sentir sozinha, mas acredite, isso é muito pior do que ficar só.

Parece que não fui o único que tomou a decisão de ignorar. Scarlett não tirou os olhos do professor por pelo menos um instante só pra não olhar pro lado e me ver. Birrenta.

Depois da aula, fui dar umas voltas na cidade para conhecer e ver o que tinha de melhor. Meus pais saem para trabalhar ao meio dia e só voltam lá pelas nove da noite nos dias de semana, então eles não iam sentir falta da minha presença em casa. Fui andando sem nenhum rumo, sem nenhuma pressa, realmente o que eu gosto de fazer. Tava com uma fome do cacete e o primeiro restaurante que vi foi onde o meu estômago decidiu se abastecer.

Se tem uma coisa que eu sou, é desatento. E eu sinto que isso algum dia vai me ferrar. Atravessei a rua sem olhar e só pude ouvir o barulho dos pneus de alguma moto freando bem próximo de mim. Demorei um meio tempo pra perceber e CARALHO EU QUASE FUI ATROPELADO. Mas como não é a vida, não é mesmo? Não sei se é Deus zoando com a minha cara ou se foi o destino, só sei que dirigindo aquela Harley Davidson era a Scarlett. Se eu tava branco, ela tava muito mais. A gente se odeia e tal, mas isso não muda o fato em que ela quase me atropelou. Os olhos verdes dela estavam maiores do que nunca.

- CARALHO COLLINS! TU NÃO OLHA POR ONDE ANDA CARA? PORRA, EU QUASE TE ATROPELEI MANO. EU PODIA TER ME MACHUCADO OU QUEBRADO MINHA HARLEY DAVIDSON. TU IAS PAGAR O CONSERTO DA MINHA MOTO? NÃO, NÃO IA. – ela disse quase cuspindo fogo na minha cara.

- MENOS PARKER, PORQUE EU TO TÃO ASSUSTADO QUANTO TU. SE EU TO ERRADO, TU TAMBÉM TÁ. NÃO VIU QUE EU TAVA ATRAVESSANDO?

- Ah, vai se foder. Começa a olhar por onde anda ou tu pode tropeçar nessa tua própria escrotisse, babaca. – e ela acelerou a moto, me deixando branco, com fome e com uma experiência de quase morte. Exagerado? Só um pouquinho.

Finalmente entrei nesse tal restaurante que se chamava Pullth's Dinner e me sentei no banquinho na frente do balcão. Em um dia normal eu não sentaria ali nem que me pagasse porque só senta ali gente bêbada pra ficar pedindo doses de pinga, mas eu tava tão assustado ainda que nem me importei. Sim, eu sou um pouco medroso e eu tento esconder isso das pessoas ao máximo.

- Tá tudo bem aí, branquelo? – uma menina que já estava sentada do meu lado (tava tão mal que nem percebi) me perguntou. Cara, ela era linda. Mesmo. Cabelo castanho ondulado, com provavelmente baby liss porque ninguém tem cabelos tão ondulados e bonitos naturalmente. Ok, muito gay, Dylan. Ela tinha a pele branca também, mas não tanto quanto eu e seus olhos castanhos demonstravam um pouco de preocupação. Aonde tava essa mina até agora?!

- E-Eu.. e-eu... – eu não sabia se tava gaguejando por causa da cena anterior ou por causa dela. Limpei minha garganta, agora vai. – Eu to bem sim, obrigada. Dylan Collins. – estendi minha mão e abri um sorriso.

- Alexa Hills. – ela sorriu também e apertou minha mão. Hills? Eu conheço esse sobrenome de algum lugar e aquele rosto também é familiar... Ah, tanto faz. Hills é um sobrenome comum, acho que to pirando.

- Prazer. O que uma moça bonita tá fazendo no balcão no meio desses bêbados bebendo pinga? – ela riu, olhando em volta.

- Na verdade, nenhum motivo especial. Eu simplesmente gosto desse lugar. Sabe aqueles lugares que você se sente bem, que você vai quando precisa de um refúgio? – concordei com a cabeça – Poisé, é o que Pullth's Dinner é pra mim. Eu sei que esses refúgios geralmente são lugares afastados, ou bonitos, não um restaurante com um bando de bêbados ao redor, mas eu gosto disso. Sei lá, é esquisito. Eu sou esquisita. E eu nem sei o porquê de eu ter falado tudo isso. – ela riu baixo e me olhou sem graça.

- Eu te entendo 100%. Sério. Eu também faço isso, claro que não com bêbados – nós dois rimos – mas em algum lugar que também me desperte isso. Só que aqui em San Francisco eu ainda não sei onde será o meu refúgio mas prometo descobrir o quanto antes e te mostrar também.

- Você é novo na cidade? – ela disse olhando fixamente nos meus olhos. Cara, ela me transmite uma paz. Ela não é egoísta e mimada como a Scarlett, dá pra ver isso só no seu jeito e vir pra esse restaurante foi a melhor coisa que fiz hoje.

- Sim, vim lá de Seattle e... – de repente o celular dela começou a tocar. Ela me olhou como se me pedisse desculpa – Tudo bem, vai atender.

Ela se afastou um pouco e foi falar no telefone. Parecia um pouco chateada e veio se despedir de mim.

- Desculpa Dylan, eu tenho que ir... Mães, sabe como é né? – ela riu. Eu não podia deixar ela ir sem pegar o telefone dela. – Enfim, tchau Dylan, foi um prazer te conhecer.

Ela tava perto da porta quando segurei seu braço. Não ia ficar sem nada sobre ela.

- Hey... é.. você podia me dar seu telefone? Sabe, pra gente se encontrar pra conversar de novo e...

- Não precisa se justificar. Anota logo. – ela sorriu e eu também.

Guardei o telefone dela como se fosse um prêmio de 10 milhões de dólares e decidi ir embora pra casa. Quando já tava na metade do caminho eu lembrei: PORRA, ESQUECI DE ALMOÇAR.



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