You shook me all night long

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POV Dylan

Acordei com o despertador tocando "You shook me all night long" do AC/DC às 7:15 da manhã. Não gosto e nem sou acostumado a acordar cedo, – principalmente nos domingos – mas nem tudo na vida são decisões agradáveis.

Fui direto pro banheiro, tomei banho, me arrumei e desci pro café. Diana já preparava os bacons e os ovos enquanto Richard lia o jornal na ponta da mesa. Típica mesa americana. Na cozinha, apenas os produtos necessários para nosso último café da manhã, já que o resto estava empacotado em caixas de papelão com fitas escritas "cuidado", como se alguém realmente ligasse para essas recomendações.

Não gosto de drama mas um momento melancólico tomou conta de mim. Não fiquei nada feliz com a ideia de sair da casa que vivo há 16 anos em Seattle para se mudar para San Francisco por causa do trabalho do meu pai. Ele é representante empresarial e Diana uma colunista numa revista de moda. Nenhum dos meus pais ganhava muito, mas tinham o suficiente para termos uma vida com alguns luxos usualmente.

- Querido, nem vi você chegar. Sente-se e coma seu bacon – Diana me deu um beijo na testa e colocou o bacon no meu prato.

Não gostava de chamá-la de "mãe" e nem Richard de "pai", afinal, se eles tinham um nome, era com ele que deviam ser chamados. Nenhum deles realmente se importava com isso, contanto que eu não demonstrasse falta de respeito – o que é difícil quando se é adolescente.

- Preparado para viagem, filho? – Richard abaixou o jornal, mostrando finalmente uma leve atenção na minha presença.

- Preparado ou não, não tenho escolha. Então, foda-se. Vou deixar meus amigos para trás, minha escola para trás, então o que menos me importa é a viagem, Richard.

- Não fale assim com seu pai, Dylan. Nós sabemos como é e está sendo difícil para você, mas veja como uma nova oportunidade, uma mudança de vida. Sei que vai fazer amigos e se adaptar a nova escola, seus primos vão te ajudar com isso.

Pelo menos ai tinha um fato interessante. Por mais que não conhecesse San Francisco, meus primos (com praticamente minha idade) moravam lá, o que não me faria ficar totalmente sozinho e isolado. Mas, porra, como foi difícil ter que me despedir dos meus amigos.

Nunca fui um garoto popular. Digo, não era o tipo de cara que quando passava as líderes de torcida mexiam os pompons em busca da minha atenção, não, mas nunca ficava sozinho, principalmente quando o assunto era meninas. Não me considero "pegador", mas conseguia conquistar uma menina facilmente, talvez pela minha aparência. Tenho 1,80m, cabelos pretos levemente bagunçados e olhos castanhos tão escuros que só eram distinguidos da pupila perto da luz. Realmente, eu não tinha nada de especial, então de fato não sei o porquê de ser desejado. Não gosto de relacionamentos sérios e duradouros, acredito que a vida é muito curta para aproveitarmos ao lado de poucas pessoas. Sou devoto da ideia de não se apegar, só se divertir.

Acabei com meu bacon e subi para o meu quarto empacotar as últimas coisas. Às 8h30 AM estávamos saindo de Seattle e no momento que sai da cidade, senti que minha vida ia mudar. Só não sabia se era pra melhor.

Chegamos em San Francisco por volta das 6:40 PM. Nossa nova casa era grande, espaçosa, com um enorme jardim, para a felicidade da Diana, e um escritório maior ainda, para sossego do Richard. Era uma casa amarela, com vários quartos e uma piscina que me deixou louco por um mergulho.

Meus primos, Terry e Sean, já estavam nos esperando na nova casa. Pela primeira vez fiquei feliz, pois no momento em que vi os dois, lembrei-me das nossas bagunças quando criança. Terry tinha a mesma idade que eu, 16 anos, era alto, com cabelos castanhos e óculos (que o deixavam meio gay em minha opinião) e também ia cursar o segundo ano do ensino médio. Sean tinha 15, não muito grande, mas forte e loiro. Jogava no time de futebol americano da escola e claramente pegava todas. Os dois estudavam na mesma escola, Blackbath High School, a minha futura escola também. Dava um bocejo só em pensar em ter que começar o inferno de fazer amigos tudo de novo.

Não conversei muito com eles, a viagem tinha sido longa e infelizmente, no dia seguinte eu já teria aula. Fui me deitar um pouco antes das 10 PM (uma grande surpresa pra quem geralmente dormia depois das 3) e não demorei mais de 5 minutos para começar a roncar.

Acordei de novo ao som de "You shook me all night long" do AC/DC. Não ouvia muitas músicas deles, mas não sei por que, essa realmente me eletrizava. Fui para o banho e demorei mais do que eu devia – devia estar na escola em 10 minutos, mas não seria o tempo nem de eu tomar café.

A casa ainda estava bastante bagunçada, não tínhamos desempacotado quase nada. Saí o mais rápido possível, sem tomar café e com meus pais dormindo. Não, eu não sabia precisamente onde ficava a escola, só sabia que era perto de casa e que tinha que virar alguns quarteirões. Depois de algumas perguntas pras pessoas que estavam na rua, cheguei a minha escola.

Fui encaminhado para a sala do diretor quando me apresentei como aluno novo e ele logo me atendeu, sendo gentil, ao contrário do que sua imagem mostrava. Ele era velho, cabelos grisalhos, bochechas caídas e com olhos claros, mas que te davam medo.

- Sr. Collins, fico feliz com a entrada do senhor em Blackbath. Vi pelo seu histórico que é um ótimo aluno, portanto, nos daremos bem – disse o diretor

- Pode me chamar só de Dylan, diretor..

- Phillips.

- Diretor Phillips. – olhei para o relógio e percebi que já estava atrasado para a primeira aula – Se o senhor não se importa, eu preciso do horário das minhas aulas. Pelas minhas contas, já estou atrasada para a primeira – sorri fraco

- De fato Dylan; A sua primeira aula é Biologia, a sala é no fim do corredor, à esquerda. Pegue seus horários e qualquer dúvida, venha falar comigo.

- Obrigado diretor, com licença.

Sai da sala do diretor e fui em busca da sala de Biologia, foi mais fácil do que eu pensava, na verdade. Bati na porta meio tenso, afinal, ninguém fica totalmente seguro no primeiro dia de aula (que na verdade, era um dia normal pros que já estudavam ali, seria o primeiro só para mim);

A porta se abriu e fui recepcionado por uma mulher alta, com cabelos lisos e saltos. Jovem e bonita até, não parecendo ser professora.

- Está atrasado, sr. Collins. Perdoado por ser seu primeiro dia – ela me encarava com um sorriso, apesar de estar falando sério.

Entrei vagarosamente na sala e pude perceber que todos me encaravam, os meninos com uma ponta de inveja e as meninas com inquietação, talvez desejo. Bom, quase todos reparavam em mim. Lá no fundo, na última carteira, tinha uma menina que não estava dando a mínima para o que estava acontecendo na sala, estava ocupada demais mexendo no seu iPod com muito interesse. Ela era bonita: jaqueta com estampa do exército, regata cinza e short jeans, junto com um coturno surrado. Cabelo castanho e ondulado, junto com um delineador que ressaltavam seus olhos verdes. Não sei como reparei tudo isso em menos de 1 minuto.

De repente ela se tocou que alguma coisa estava acontecendo na turma e seu olhar veio diretamente para mim, mas não olhou como todas as meninas, que demonstravam desejo. Não, ela me olhou com um jeito esnobe, como se não se importasse com minha presença e meu deu um sorriso cínico, como se mostrasse que eu não faria diferença.

O que ela não sabia é que, se ela queria um joguinho, eu era ótimo em brincar. Respondi com o mesmo sorriso e ali então pude perceber que os desafios de Blackbath iam só começar.







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