Questions

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POV Scarlett

Sabe quando você acaba de se machucar e alguém põe o dedo na ferida? Metaforicamente é muito pior do que fisicamente e foi isso que o Collins fez comigo. Talvez eu nunca vou ficar completamente sarada do machucado chamado Alexa ou talvez daqui a uns anos eu nem vou lembrar da existência dela, mas atualmente, isso doía. Acho que não teve só uma razão pra ser tão doloroso, e sim várias. Foi como um... foi como um combo. Acho que foi o fato de ter sido com aquelas pessoas e naquele momento (no qual eu já não estava muito bem). Eu via ela como uma melhor amiga e ela me via como uma garotinha inocente e fraca. Talvez eu fosse inocente mesmo, afinal Alexa é 4 anos mais velha que eu e sua mente pervertida realmente me abalou.

Eu não gosto de falar sobre isso e nunca me abri com ninguém quando o assunto é sobre ela. É bem provável que o fato de eu nunca ter me aberto e desabafado só ajudou pra me deixar pior, mas não sou o tipo de garota que vai buscar fim nos seus problemas com psicólogo ou automutilação ou drogas. Sou uma garota que resolvi guardar tudo dentro de mim, e assim fiz. E isso com certeza me deixou mais forte.

Na verdade, não. Não me deixou mais forte. Me deixou mais esperta no que eu ia enfrentar dali pra frente e eu fiz uma armadura pra me proteger. Uma armadura que afasta as pessoas. Por isso não tenho mais amigos, namorados e coisas que adolescentes de 16 anos deveriam ter. Eu entendo a curiosidade do Collins em saber o que aconteceu, afinal, se fosse ao contrário eu também gostaria de saber, só que eu não confio nele. Talvez, não ainda. Só percebi que estava presa em meus devaneios quando uma lágrima gelada escorreu pela minha bochecha quente. Não, eu nunca chorei por causa disso, e nem estava agora. Eu chorei porque lembrei da minha mãe, de como seria bom se ela tivesse comigo quando eu precisava, como seria bom deitar em seu colo e receber cafuné até conseguir pegar no sono. Como eu sinto falta dela.

- Scarlett? – Collins me olhava preocupado – Tá tudo bem?

Momento de menina com 16 anos melodramática acabou. Nesses minutos com esses pensamentos me tornei aquela garotinha frágil que sempre detestei e isso me deixa muito enojada. Mas, talvez, essa dor possa ser usada pra algo bom.

POV Dylan

Ok, talvez não tenha sido uma boa hora pra perguntar sobre isso, mas o que ela esperava que eu fizesse? Puxasse assunto sobre como o tempo estava ensolarado? Cara, eu precisava de respostas ou pelo menos algo próximo a isso. Eu não ia ficar 3 horas com a Scarlett sem saciar pelo menos um pouco da minha curiosidade e talvez eu tenha sido um babaca por ter feito isso agora.

- Tá, Collins. – ela me disse depois de uns 15 minutos que eu já tinha perguntado.

- Talvez eu não devesse ter feito isso, mas porra, eu só quero algumas respostas. Por favor. Por que... Por que você odeia ela? – eu disse olhando pra ela.

- É complicado...

- Não, não é complicado. – eu a interrompi – Se está sendo complicado Scarlett, é porque você tá tornando isso assim. Olha pra mim. Olha. Pra. Mim. – eu me aproximei e levantei sua cabeça, seus olhos verdes agora se desgrudaram do chão e se voltaram para mim – Me fala. O que te fez tão mal assim?

- Eu não confio em você, Collins. Eu nunca falei sobre isso com ninguém e não vai ser você, um menino que eu odiava até hoje de manhã, que vai me fazer desabafar. – ela me olhava fixamente.

- Você não confia em mim? Sério? Eu te trouxe na minha casa e você tá trancada no meu quarto, como tu sabe que eu não sou um assassino? Um estrupador? Sim, você confia em mim, nem que seja por um pouco. Para de ser durona com todo mundo, para de ser durona consigo mesma.

- Eu sou assim para me proteger, Dylan. – ela disse com a voz falha – Eu sou assim porque esse foi o jeito de nunca mais me machucar. Talvez um dia eu te conte, mas eu acho isso bem difícil. Pra isso eu preciso confiar em você e, mesmo assim, ninguém aguenta ficar perto de mim por muito tempo.

- Me fala o que eu preciso pra você confiar em mim, Scarlett. Planejar uma vingança? Contar o-que-sei-lá ela fez para a Sra. Hills? Ir atrás do namorado dela e arrancar suas bolas? – ela riu – Eu aguento ficar perto de você. Você sabe que sim. Eu sei que você está sofrendo com isso, mas também está sendo um teste pra mim, não é? Um teste pra ver se eu vou ficar do seu lado. Até com a sua dor você brinca, Scarlett. Eu sei disso porque adoro brincar e vou nessa até o fim. Você quer confiar em mim? Ótimo. Você irá. Ah, e a propósito... Dylan? Parece que você tá ficando íntima minha, Scarlett.

- Sabe, essa ideia de planejar vingança até que não foi nada mal. Só não superou arrancar as bolas do Jackie – eu ri – Eu achei que você não gostasse de brincar, Collins, afinal foi o que você me disse hoje, não é mesmo? E talvez você esteja certo. Talvez eu queira ver até o máximo em que você possa fazer. E não se preocupe, te chamei assim num momento de distração. Pra mim, você sempre será o Collins.

- Eu não gosto de brincar com sentimentos, é diferente. Agora, – eu me aproximei – com garotas que me desafiam, – me aproximei mais – é sempre divertido. – e fiquei a poucos centímetros da sua boca. Vi que a respiração dela ficou mais acelerada, mas não vou dar o que ela quer. Ainda. – Mas teremos que trabalhar muito nisso ainda. – eu disse me afastando totalmente.

Ela me olhou incrédula por eu não ter feito o que ela esperava, mas logo abriu um sorriso bem grande, tipo Coringa no lugar.

- Ótimo. – ela disse arqueando uma das sobrancelhas.

Nossa conversa foi interrompida pelo barulho de uma porta batendo. Olhei pela janela e vi o carro saindo com Richard e Diana dentro. Agora sim isso aqui vai ser bom.

- Hey, Scarlett. Agora temos a casa só pra gente. – e sorri.


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