Uma Queda

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O sol começava a ser escondido pelas enormes nuvens negras que começavam a manchar o céu azul da tarde.


Já se passava das 16H, era sábado, e sábado eu só trabalhava até as 14H; algo que eu agradecia demasiadamente.


Sentado olhando os caras que desciam a pista de skate, enquanto caíam ou faziam algumas manobras. Havia algumas pessoas nas outras pistas, outras sentadas na pequena arquibancada conversando distraidamente.


- Ai, toma. - Ofereceu Eva me empurrando para poder se sentar; o refrigerante que ela havia ido buscar para nós dois.


Eva também andava de skate, e era a única garota que andava com a gente. Eu sabia que ela gostava de mim, mais do que aquela conversa de bons amigos; ela não havia me confessado, mas eu não era idiota.


Eva era loura, loura dos cabelos curtos; dos olhos escuros, de um castanho que eu realmente gostava; era baixa, devia ter seu um metro e meio, e perto de nós era ainda menor. Nós a pirraçavámos, Eva ficava demasiada furiosa e começava a nos socar; as vezes doia, mas a maioria das vezes apenas nos fazia rir mais ainda.


Eva era bonita, legal e tudo mais. Mas não era alguém que me prenderia atencão. Mesmo que começassemos a ficar, eu enjoaria logo; era sempre assim com qualquer garota.


O que há?


Eu sou dificil, oras.


Ao menos dificil para conseguirem me prender.


Uma semana era o máximo. E se acontecesse algo a mais com Eva ... No final daria em merda.


Voltamos nossa atenção pros caras, e finalmente eles subiram no alto da pista, até onde estavámos e se sentaram ao nosso lado.


- Eu melhorei, não ? - Perguntou Thiago para nós dois.


- Ah, claro. - Ironizei


- Passou do nível péssimo para o super merda. - Respondeu Eva; começamos a rir e Thiago fez uma careta e resmungou alguma besteira.


- Por favor, nos ensinem, óh grandiosos mestres do Kung Fu Panda. - Disse Thiago fazendo voz de garotinha. Rimos ainda mais.


Eva e eu nos levantamos. Tirei meu boné que antes estava na cabeça de Eva; ela me olhou feio, e eu sorri.


- Aprendam com os melhores. - Aconselhei dando uma piscadela para os dois; Thiago fez outra careta, Augustos sorriu confiante.


- Na sua primeira queda, eu estarei aqui para rir de você Rodrigo. Não se esqueça, é claro que não vai, eu não vou dei... - Devolveu Thiago, mas eu não ouvi o resto da frase. Fui tomado pela adrenalina, e aquele frio na barriga que sempre sentia, quando descia a pista.


- Grava isso Augustos. - Gritei lá de baixo. Sabia que Thiago devia estar morrendo de raiva, mas era passageiro; o fato de eu ser melhor que ele no skate não o incomodava tanto, mas o fato de eu ser seu irmão mais velho e melhor com skate, garotas, e tocar guitarra melhor que ele o incomodava. Eu ignorava, e o caçoava, era uma bobeira de irmão mais novo. Thiago tinha seus quinze anos, enquanto eu estava na porta dos vinte anos.


Tirei meus olhos da pista para a pequena arquibancada, que ficava à frente da mesma, porém mais distante.


E Deus!


Esqueci de tudo a minha volta, até do skate, da pista, dos molques que gritavam algo pra mim lá de cima. Meus joelhos encontraram ao chão, o skate seguiu seu rumo sem mim desta vez. Talvez tenha doído um pouco, mas eu não havía sentido nada.


Me distraí, mais que distração, me perde deste mundo; e caí, caí feio ao chão da pista.


Oa caras ainda gritavam alguma coisa pra mim, mas eu estava distante.


Voltei a olhar pra aquela pequena arquibancada, e seus olhos azuis encontraram os meus, que eram de um castanho comum. Me perde neles outra vez.


Ela havia se levantado e levado as mãos a boca; suas unhas eram de um vermelho sangue, suas mãos pareciam pequenas e delicadas; sem entender eu quis toca-lá.


Afastei aquela ideia de minha cabeça no mesmo instante.


Algo a assustara e eu me perguntei o quê.


Levei um soco forte no ombro, e encontrei uma Eva, Thiago e Augustos ao meu redor. Me perguntei como teriam chegado ali e eu não havia notado a presença deles até então.


- O quê que te aconteceu moleque? - Perguntou Thiago com os olhos arregalados. Eu ri de sua expressão.


- Ele não se machucou. - Concluiu Eva, se levantando em seguida.


- Deste sorte. Se não soubesses cair direito, poderia ter se machucado feio Rodrigo. - Disse Augusto.


Voltei a encara-lá. Então entende, a queda devia ter sido feia, quando rolei lá de cima até aqui em baixo.


Ela voltou a se sentar ao lado do que supus ser suas amigas, mas ainda me encarava; agora que suas mãoz não tapavam parte de seu rosto, nem sua boca, percebe que ela era mais linda ainda do que de relance, quando há vi, segundos antes de cair.


Usava um botom claro, tinha cabelos compridos de um castanho chocolate; e seus olhos ? Seus olhos eram tão belos e azuis quanto o oceano, nos quais eu queria afogar-me neles.



Simples assim, ela me apareceu e tudo dentro de mim mudou.


Sem querer me afundei mais e mais


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