Você leu?

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Dulce : Tenho "vômito e desmaio" marcados para as nove. Fica. Vai ser divertido.

Estou prestes a pegar os livros quando o telefone toca. Tiro o aparelho do bolso e vejo o número da minha mãe.

Dulce:Volto num segundo. Vou para a sala, pois sei por que ela está ligando. - Oi, mãe.

Blanca: Querida! Feliz aniversário! Coloco a mão sobre o bocal e olho por cima do ombro.

Dulce:Valeu, mãe.

Blanca : Ah, docinho, eu queria estar com você. Está se divertindo? O que vai fazer de noite?

Dulce: Hum, nada de mais. Estudar.

Uckermann coloca a cabeça para fora do quarto e diz:

Christopher : saviñon, onde estão os livros da biblioteca? Vou começar a pesquisa.

Minha mãe está falando, mas eu cubro o telefone e sussurro.

Dulce : Na minha mochila, na cama.

Ele assente e desaparece. Minha mãe para.

Blanca: Quem foi esse?

Dulce: Só um menino da minha turma. Estamos estudando juntos.

Há um momento de silêncio antes de ela dizer:

Blanca : Está sozinha com um menino no apartamento? Ai, Senhor. Lá vamos nós.

Dulce : Mãe, não é o que você está pensando. Estamos estudando.

Então, Christopher grita:

Christopher : Jesus, saviñon sua cama é desconfortável pra caralho! Como você dorme nesse troço? Ou é essa a questão? Você não quer que os caras tentem cochilar quando você já fez tudo que queria com eles?

Eu me contorço e minha mãe perde o ar.

Dulce : Mãe...

Blanca:Dulce Maria! Eu não te criei para saltar na cama com o primeiro cara que encontra.

Dulce:Nós somos... amigos.

Blanca:Meio que.

Dulce : Não é assim. Sério.

Blanca:Por que eu não acredito em você?

Christopher:Corre, saviñon! Acho que sua cama deslocou minhas costas. Não consigo levantar!

Vou matar esse menino!
Minha mãe entra num surto tagarelando sobre quantos estupros acontecem

em campus de faculdade, e quão irresponsável estou sendo, e que isso é o que
acontece quando ela não está por perto para me supervisionar. Geralmente, deixo
que ela fale tudo, para manter a paz, mas tenho um Christopherzinho na minha cola
fazendo com que eu me defenda.

Dulce : Mãe, pode parar. Eu ter ou não um homem aqui não é da sua conta. Sou
adulta agora e não preciso da sua aprovação em cada decisão. Eu te amo, mas
tem um homem bem bonito na minha cama e preciso ir.

Ela fica em silêncio por alguns segundos, e morro de medo da ideia de ter
provocado um ataque cardíaco nela.
Dulce: Mãe?-
Há mais silêncio. Visualizo minha mãe deitada com olhos vidrados na sala, o
telefone ainda agarrado em sua mão.

Dulce:Mãe?!

Blanca:Bonito quanto? - ela finalmente pergunta.
Eu suspiro.

Dulce:Você não faz ideia.

Ela ri. É falso, mas pelo menos ela está tentando.

Blanca:Cuidado com esses bonitões, docinho. Vão partir seu coração.

Dulce : Mãe, o papai é bonitão.
Ela faz uma pausa.

Blanca : Sim, bem, seu pai te manda um beijo. Ele te liga mais tarde quando voltar
do trabalho.

Dulce: Valeu, mãe.

Sinto uma pontada de saudade de casa. Apesar de reclamar deles, tenho
saudade de verdade dos meus pais. Eu me despeço e sinto um baita orgulho por
falar o que eu penso. Nunca enfrentei minha mãe antes, e passei por isso sem
chorar ou matá-la.
Talvez uckermann esteja provocando alguma mudança, afinal.
Sorrio enquanto caminho de volta ao quarto.
Ele está sentado no canto da
cama, debruçado sobre um livro, passando os dedos pelo cabelo.

Dulce: Uau, parece uma leitura empolgante.
Ele salta, surpreso.
Christopher : Dulce..... eu não queria. Estava na sua mochila. Um dos outros livros o
deixou aberto, vi meu nome e...

Uma onda de terror passa por mim quando me dou conta do que está na mão
dele.
Engulo a vergonha e a náusea enquanto meu rosto queima.

Dulce:Quanto você leu? - digo, minha voz rouca de vergonha.

Christopher :o suficiente.

Dulce : Tudo o que escrevi hoje?

Christopher:Sim. - Ele faz uma pausa. - É seu aniversário?

Vou ficar enjoada. Ele leu tudo. Eu surtando com minha virgindade.
Sobre o
tesão que sinto por ele. O quanto eu o quero e a seu pênis vencedor de prêmios.

Tudo.

Dulce:uckermann, se disser "feliz aniversário" para mim agora vou acabar com a sua raça.

Cubro meu rosto e me recuso a chorar, mas ele não pode mais ficar aqui. Não posso ficar perto dele. Nunca mais. Talvez além de nunca mais.

Christopher : dulce... - ele diz. - O que você escreveu sobre mim? Não posso saber disso. Puta merda, não posso mesmo...

Dulce: Vai embora.

Eu o escuto suspirar, mas não olho para ele.

Christopher : Dulce .

Dulce : Vai. Embora. Daqui. Agora.

Escuto um baque e vejo que ele jogou o diário na cama.
Ele vem e pega a mochila do chão atrás de mim.
Quando seu corpo passa pelo meu, ele faz um ruído e se afasta.
Abro os olhos e ele está bem na minha frente, estudando meu rosto. Sinto que, se ele não parar, minha pele vai mesmo explodir em chamas.

Christopher : Como é possível? - ele pergunta baixinho.

Dulce : O quê? - Pressiono as costas na porta do armário enquanto ele se move à frente e continua a encarar.

Christopher : Como é possível que você nunca... Nenhum homem nunca?...

Quero que ele termine a frase, mas ele só fica olhando para mim com uma expressão incrédula.

Christopher : É um puta crime você nunca ter sido beijada direito. Olho para seu peito. Está subindo e descendo rápido. Como o meu. Fecho os olhos.

Dulce : Então beija você - escapa da minha boca antes que eu possa impedir, mas não retiro o que disse - Me mostre como eu deveria ser beijada.

Abro os olhos e o vejo olhando para mim com tanta intensidade que perco o fôlego.
Ele se aproxima, tão lentamente que meu peito dói. Suas mãos vão para minha cintura e eu me inclino de volta contra a porta enquanto seus dedos me apertam e me soltam.
Seu hálito é quente e doce. Eu abro os lábios, quase chorando com a atencipação em ter sua boca na minha.

Christopher : Você acha que depois de ler tudo aquilo há alguma chance de eu te dar a porra de um beijo? Não consigo nem ficar no mesmo quarto que você!

Quando abro os olhos ele colocou a mochila no ombro e está saindo pela porta.

Humilhação e vergonha tomam o espaço dos meus pulmões. Eu deslizo pela parede e cubro o rosto, querendo ficar invisível.

Só quando escuto a porta da frente se fechar é que consigo respirar novamente.

MEU ROMEU{vondy}Onde histórias criam vida. Descubra agora