MEU ROMEU{vondy}

Não consigo

No dia seguinte, saio para o primeiro dia de ensaio, ainda sem saber ao certo como vou lidar com ele. Viro a esquina do bloco de teatro e lá está ele, apoiado num corrimão do lado de fora, de óculos escuros, um copo de papel em cada mão. Quando me aproximo, ele me vê e ajeita a postura. Paro na frente dele.

Dulce: Oi.

Chritopher:Oi.

Ele me olha e morde o interior da bochecha.
Ficamos lá por alguns segundos até ele me passar um dos copos de papel.

Christopher : Ai, merda. Isso é, hum... é pra você.

Eu cheiro o conteúdo.

Dulce:Que é isso?

Christopher : Sou-um-babacaccino. Tento frear o sorriso que se levanta no canto da minha boca.

Dulce: Hum, para mim tem o cheiro de um bom e velho chocolate quente.
Christopher : Pois é, parece que eles estavam sem babacaccinos. Me ofereci para fazer, mas disseram que eu era mais qualificado que o necessário.

Dulce; Estavam certos.

Bebemos em silêncio, e percebo que um chocolate quente é o mais perto de um pedido de desculpas que vou conseguir dele. Por enquanto, estou bem com isso.

Dulce:Então - dou o segundo passo -, sabe suas falas? Ele assente.

Christopher : Infelizmente. Shakespeare podia ter se beneficiado de um bom editor. O cara era verborrágico.

Dulce:Já desenvolveu algum amor pelo Romeu?

Ele olha para o copo e remexe na borda.

Christopher:Não. Quanto mais trabalho nas falas, mais claro fica o quão idiota é essa escolha de elenco. Não consigo fazer esse papel, savioñon. Não consigo mesmo.

Dulce : A Erika acha que você consegue.

Christopher : Sim, mas a Erika está se iludindo. Ela acha que sou alguém que não sou.

Dulce:Ou talvez ela tenha fé em quem você poderia ser.

Ele balança a cabeça.

Christopher : Ela pode ter toda a fé do mundo. Só sou capaz de dar a ela um mau Romeu.

Dulce:Talvez seja o que ela quer. Um Romeu perfeito é entediante. É mais interessante vê-lo lutando com suas emoções. Triunfando sobre suas inseguranças.

Ele estuda seu copo por alguns segundos.

Christopher:E se ele não triunfar e partir o coração da Julieta? O que acontece então?

Estou revirando meu cérebro para dar uma resposta encorajadora, quando Erika chega.
Seguimos atrás dela e jogamos os copos vazios no lixo ao entrar no teatro pouco iluminado. Depois de deixar as mochilas na plateia, nos juntamos a Erika no palco.

Erika : Como estão se sentindo hoje? - ela quer saber.

Uckermann e eu murmuramos algo vagamente positivo, e o papo furado acaba.

Erika : Não quero assustá-los - Erika olha para cada um de nós -, mas o sucesso desta produção depende de vocês dois e da veracidade do relacionamento de vocês.

Uckermann bufa.

Christopher : Jesus, Erika. Sem pressão.

Erika dá a ele um sorriso solidário.

Erika : A boa notícia é que eu sei que vocês dois são mais do que capazes de dar vida a esses personagens. - uckermann revira os olhos. - Mas vão ter de confiar em mim e um no outro, e se entregar completamente à experiência. Entenderam?