o comesso parte 2

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Dulce narrando:
Daí o diretor diz: "Zoe, a plateia precisa ver seus peitos. Você diz que é dedicada à sua arte, e ainda assim seu senso errado de pudor dita suas escolhas".

Uma loira desinibida está monopolizando as atenções, contando histórias de guerra teatrais. As pessoas ao redor parecem cativadas.
Não quero ouvir, na verdade, mas ela fala alto demais e não consigo evitar. - Ai, Deus, Zoe, o que você fez?! - Uma bela morena quer saber, seu rosto se contorcendo com emoção exagerada.

zoe: O que eu poderia ter feito? - pergunta com um suspiro. - Cupido o pau dele e disse que ia ficar de camiseta. Era a única forma de proteger minha integridade.

Houve risadas e uma salva de palmas.
Mesmo antes de entrarmos, as apresentações já haviam começado. Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos, tentando me acalmar. Repassei meus monólogos mentalmente.
Eu os conhecia.
Cada palavra. Dissecava cada sílaba. Analisava os personagens, subtexto, camadas de sutilezas emocionais. Ainda assim, me sentia despreparada.

zoe:Então, de onde você é? -está falando novamente. Tento bloquear o som. - Ei, você, menina da parede.

Abro os olhos. Ela está olhando para mim. Todo mundo está.

dulce: Hum... quê? - Limpo a garganta e tento não parecer apavorada.

zoe: De onde é você? - ela pergunta mais uma vez, como se eu fosse mentalmente limitada. - Dá para ver que você não é de Nova York.

Sei que o sorrisinho falso dela é dirigido ao jeans escuro e ao suéter cinza liso que estou usando, ao cabelo ruivo sem graça e à falta de maquiagem.
Não sou como a maioria das meninas aqui, em suas cores vibrantes, grandes joias e rostos pintados.
Elas parecem pássaros tropicais exóticos, e eu pareço uma mancha de óleo.

dulce: Hum... Sou de Monterrey. Seu rosto se retorce, de nojo.

zoe:Onde fica essa porra? - é Meio pequeno. - Nunca ouvi falar - ela informa com um aceno de desprezo com suas unhas pintadas. - Tem ao menos um teatro lá?

dulce:Não.

zoe: Então você não tem nenhuma experiência em atuar?

dulce:Fiz algumas peças amadoras no mexico.

Os olhos dela se iluminam. Ela fareja uma presa fácil.

zoe:Amadora? Ah... entendi. - Ela sufoca uma risada.

Meu senso de autopreservação é acionado.

dulce: Claro, não fiz todas as coisas incríveis que você fez. Quer dizer, um filme. Uau. Deve ter sido bem incrível. - Os olhos de Zoe se apagam um pouquinho. O cheiro de sangue é diluído pela puxação de saco.

zoe: Foi bem incrível - ela comenta enquanto dá um largo sorriso como uma barracuda com batom. - Mas provavelmente eu estou perdendo tempo com este curso, porque não vou chegar até o final antes de fechar um grande contrato. Pelo menos é algo para me manter ocupada até lá. Sorrio e concordo com ela.

Massageio seu ego. É fácil. Sou boa nisso. A conversa borbulha ao meu redor. E eu acrescento um comentário aqui e ali. Cada meia verdade que sai da minha boca me torna mais como eles.
Mais provável de me encaixar. Rapidamente, estou zurrando e relinchando como o resto das mulas, e um dos meninos gay s me puxa e finge que estamos numa rave. Ele fica atrás de mim enquanto bate na minha bunda. Entro na brincadeira, mesmo horrorizada. Faço barulhos vulgares e balanço a cabeça. Todo mundo acha hilário, então eu ignoro a vergonha e continuo. Aqui posso escolher ser desinibida e popular. A aprovação deles é como uma droga. E quero mais. Ainda estou fingindo apanhar na bunda quando levanto o olhar e o vejo. Está a alguns metros de distância, alto e de ombros largos. Seu cabelo escuro é ondulado e rebelde, e, apesar da expressão impassiva, seus olhos mostram claro desdém. Afiado e imperdoável. Minha risada falha. Ele parece um anjo vingativo com um olhar intenso e traços etéreos. Pele lisa e roupas escuras. Tem um daqueles rostos que te fazem parar quando você folheia uma revista. Não um lindo do tipo padrão, mas um lindo do tipo hipnotizante. Como uma capa de livro que implora que você o abra e se perca na história.
Minha nova falsa ousadia pesa sob seu olhar.
Ela me deixa, suja e tensa, e eu paro de rir.
O menino gay me empurra de lado e vira para outra pessoa. Perdi meu charme vulgar de popozuda. O garoto alto também se vira e se senta com as costas para a parede. Tira um livro esfarrapado do bolso.
Eu pesco o título: Vidas sem rumo. Um dos meus favoritos. Eu me viro para o grupo barulhento, mas eles já estão em outra. Estou dividida entre recuperar a posição e descobrir mais sobre o menino do livro. A escolha é tirada de mim quando a porta à minha frente se abre, e uma mulher entra.
Ela tem ares de estátua com cabelo preto curto e lábios vermelho- vivo, e nos avalia com o foco de um raio laser.
Lembra a Betty Boop, se Betty Boop fosse intimidadora a ponto de te fazer mijar nas calças e tivesse uma prancheta de couro envernizado. - Tudo bem, escutem. Os cacarejos se silenciam.

MEU ROMEU{vondy}Onde histórias criam vida. Descubra agora