18/12/2015
No outro dia pela manhã, acordo com duas batidas rápidas e curtas na porta.
— Marian, — Ouço a voz grave do meu pai do outro lado da porta, chamando-me com rispidez — Levante-se. — Completa, antes de produzir passos barulhentos pelo corredor.
Como sempre, obedeço. Sento na cama e me espreguiço. Me jogo de volta na cama com o corpo atravessando lateralmente, ainda morrendo de sono por ter sido acordada no meio da noite. Me lembro da conversa tida durante a madrugada enquanto a luz que transpassa a cortina fina de tecido branco invade o quarto e ilumina aos móveis e a mim. Franzo a sobrancelha e levanto novamente da cama, abrindo a porta e caminhando para fora do quarto. Paro na porta e encaro a cama vazia de Caleb no cômodo da frente. Viro o rosto rapidamente para o lado, assustada, quando sinto uma mão em meu ombro.
— Arrume-se antes de descer, querida. Temos visitas. É sobre seu irmão.
Faço um sinal de concordância para minha mãe e volto ao quarto enquanto ela desce. Em alguns minutos me arrumo. Pela seriedade com que Beatrice falou, acredito que seja uma situação importante, provavelmente com um governante na nossa casa, por isso ao invés das usuais calças e camisetas brancas, uso um vestido até os joelhos, penteio o cabelo e me dirijo para a sala de estar onde todos estavam reunidos no sofá.
— Bom dia — Cumprimento baixinho, envergonhada por todos estarem me olhando com aquela expressão estranhamente solene.
— Sente-se, menina. Qual é o seu nome? — Pergunta o mesmo senhor que vi noite passada. Ele tinha o cabelo grisalho cortado rente ao couro cabeludo e fundos olhos azuis-tempestade.
— Marian, me chamo Marian. — Respondo com uma reverência de cabeça logo antes de me sentar-me no sofá logo em frente ao homem. Coloco as mãos apoiadas nas pernas e desvio o olhar para o rosto de meu pai, que encarava o chão com olhos perdidos.
— Certo. Bem, vamos direto ao assunto, não tenho tempo a perder. — O governante dá um suspiro. Leio em seu crachá de identificação o nome Chade Benson. — Vim falar sobre seu filho Caleb. — Minha mãe engole em seco e o homem prossegue:
"Na última quarta-feira, por volta das seis horas da noite, seu filho foi visto contemplando uma cena de morte, a morte de um menino. Segundo as denúncias, a fatalidade teria ocorrido apenas alguns minutos antes enquanto os dois meninos brincavam na beira do Rio Young. A mãe de Joe, o menino que morreu, estaria indo buscá-lo quando presenciou o acontecimento. Nos relatos mais recentes, ela diz que viu, ainda, seu filho empurrar o amigo para dentro do rio, embora anteriormente ela afirmasse que quando chegou o menino já estava sendo levado pela correnteza. Por causa da contrariedade entre os depoimentos, Caleb não será descartado de imediato, mas também não voltará para casa até que as investigações sejam concluídas. Seu filho ficará sob cuidados do governo e poderá receber uma visita por semana. Apenas uma pessoa pode ir às visitas, mas não precisa ser a mesma pessoa em todas elas. Vocês três receberão três passes para entrar no Prédio da Justiça, onde o menino ficará hospedado. Ainda assim, terão que passar por revistas e, caso necessário, por interrogatórios antes que a entrada seja permitida. Temos um prazo de dois meses até que seja descoberta a verdadeira versão dos fatos. Fiquem preparados para possíveis visitas e perguntas a respeito do ocorrido." — Sem mais explicações, despediu-se, levantou e foi embora, nos deixando sozinhos em casa, cheios de dúvidas sobre como prosseguir sem Caleb.
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A Teoria do Caos
AventuraComo uma simples escolha pode mudar todo o nosso futuro? Até onde estamos dispostos a ir em busca de aceitação social? Curtam a publicação da página Temos Histórias e me ajudem a atingir a publicação digital! É só clicar no link https:...