Capítulo 21

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Algumas horas depois

No meio da floresta, decidimos nos sentar debaixo de uma grande e alta árvore. A vegetação estava um pouco mais densa naquele ponto, então montamos uma espécie de acampamento ali mesmo. Na verdade, não sei se podemos chamar aquilo de acampamento, já que não tínhamos sequer uma barraca.

"Muito bem, Marian", penso, "tanto planejamento e não lembra de uma mísera barraca para passar a noite". Ainda assim, por causa da umidade daquela região, o solo é macio e coberto por uma fina camada de relva relativamente confortável, se comparada ao terreno pedregoso que eu esperava.

— Então, quem fica acordado primeiro? — pergunto na esperança de que alguém se voluntarie. Em último caso ficarei, mas estou com muito sono e acredito que se ficar sentada escorada numa árvore dormirei em poucos minutos, ainda mais agora que a adrenalina está se esvaindo do meu corpo rapidamente.

— Posso ficar. — responde Tyler, ao que eu faço um sinal de afirmação com a cabeça. Porém, Camila interrompe.

— Eu sei que deveria esquecer isso, mas a cena do homem morto não sai dos meus pensamentos. Não vou conseguir dormir tão cedo, de qualquer jeito, então gostaria de ser a primeira.

— Certo, fique você, então. — respondemos eu e Tyler juntos. Acrescento um sorriso ao final da frase, demonstrando meu agradecimento à menina.

— O resto de nós, então, vamos descansar. Tyler pode ficar com o próximo turno. — termino.

Nos sentamos com as costas escoradas em árvores ou as cabeças apoiadas em pedras menos pontiagudas. Tyler abaixa-se do meu lado.

— Posso me deitar aqui, ao seu lado?

— Claro, por que não? — rio e vou um pouco para o lado, deitando-me com a barriga para cima. Ele faz o mesmo.

— Cansada?

— Um pouco. — suspiro — Mas acho que vai valer a pena. Estou um pouco assustada, admito, mas temos chance de conseguir mudar as coisas.

— Também acho. Nós temos que conseguir.

— Sabe, posso estar me precipitando um pouco, talvez até sendo um pouco egocêntrica por acreditar que meus planos funcionarão sem falhas, mas a margem de erro é pequena. Realmente podemos conseguir algo bom, pelo menos para aumentar um pouco a liberdade do povo. O problema é que como fazer isso eu não faço ideia. Meus planejamentos só envolviam a fuga e o que poderíamos encontrar aqui fora, mas agora que estamos aqui... Para onde vamos? Tudo parece se resumir a uma grande floresta infinita.

— Você e eu sabemos que não é só isso. Em algum ponto vamos chegar a algo mais e quando estivermos lá saberemos o que fazer.

— Talvez estejamos apenas sendo muito otimistas. Talvez não tenha um fim, ou tudo acabe em um imenso abismo, perdendo-se na escuridão.

— Talvez, mas nunca saberemos se não tentarmos. Se acharmos um abismo no fim disso, então pensaremos: Ótimo, nós tentamos. Tentamos salvar os outros da ditadura, mas fomos vencidos. Não somos invencíveis, Mare, mas somos persistentes. — sorrio para ele e olho para o céu enquanto ouço-o completar a frase — Lembre-se: se você não tentar, a resposta será sempre não.
— Já ouvi esse ditado em algum lugar...

— Funciona. Tente. — ele sorri também e sei que está me olhando, mas não consigo encará-lo.

— Certo, tentarei. Agora vamos dormir antes que seja o próximo turno.

— É, vamos dormir. Boa noite, Marian.

— Boa noite, Tyler. — sussurro, viro-me para o outro lado e tento pegar no sono.

31/05/2016

Abro os olhos ao sentir duas mãos me chacoalhando levemente. Me sento rápido, preocupada com as possibilidades do que poderia estar acontecendo para eu ser acordada àquela hora. Será que alguém nos encontrou? Os guardas estão vindo? Algum animal selvagem está por perto?

— Calma, só está na hora de continuarmos viagem, não aconteceu nada. — diz Harmony ao perceber minha desorientação — Separamos um pouco da comida para o café da manhã, então vamos comer agora para andarmos pelo resto da manhã, okay?

— Claro, já estou indo. — me levanto cambaleante.

Caminho até onde a equipe está reunida. Todos estão sentados formando um círculo perfeito na grama ao redor de algumas embalagens plásticas que antes guardavam frutas secas. Era pouca coisa se comparado ao café da manhã que estávamos acostumados a tomar em Nova Liberdade, mas não podíamos comer demais, pois talvez precisemos de alimento por vários dias.

— Bom dia, guardei um pouco para você. — Tyler me cumprimenta, entregando uma daquelas embalagens plásticas e uma garrafa de água — Não tome tudo, essa é toda a água que você terá durante o dia. Separamos uma garrafa por dia por pessoa para que dure mais.

— Tudo bem, obrigada. — digo, me sentando ao seu lado na roda. Terminamos de comer em silêncio, poupando o máximo de fôlego que podemos para guardar algo para a viagem. Quando estávamos todos prontos, pegamos as mochilas já organizadas com todas as nossas coisas, prendemos as armas nos cintos e seguimos rumo pela floresta.

Andamos em fila indiana comigo na frente e Christopher no fim, cobrindo nossa retaguarda por ser mais forte. O tempo passa vagarosamente enquanto nos locomovemos por entre as árvores, ainda mais pelo silêncio que recai por sobre a equipe, mas pelo menos ainda não tivemos nenhum encontro infeliz com animais perigosos ou guardas enfurecidos.

Não levamos relógios conosco, mas pelo meu senso de passagem de tempo, acredito que tenha passado em média duas horas de caminhada quando encontramos o primeiro problema.

A Teoria do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora