Capítulo 14

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07/05/2016

Já faz quase uma hora que eu estou aqui, deitada na minha cama, olhando para o teto. A partir de agora será sempre assim: eu, deitada sozinha, em um quarto vazio. Sem amigos. Afinal, como eu poderia frequentar o mesmo grupo social que Stephanie?

Por alguns momentos eu tive a ilusão de que talvez as pessoas percebessem quem ela realmente era e deixassem de ser amigos dela, mas infelizmente não estamos em um conto de fadas feliz, onde o bem sempre vence. Talvez eu devesse me acostumar a ideia de que aqui não adianta ser ético se você quiser se dar bem. Mas ainda assim, será que vale a pena passar por cima de todos apenas para viver, acomodada com alguém que eu nem sequer amo, apenas para dar continuidade a uma sociedade infinitamente repetida? Eu prefiro ser descartada.

Ouço uma batida na porta. Olho para fora e vejo Lara parada no batente com os olhos inchados e levemente vermelhos, um claro sinal de que andara chorando. Sento na cama e olho com o coração apertado aquela menina que se tornara minha única e melhor amiga, agora me abandonando. Nos encaramos em silêncio por alguns instantes, com medo de que ao soltar uma palavra irrompêssemos em lágrimas. Ainda estava ressentida por ela ter me acusado, mas o jeito que me olhava naquele momento fez com que parecesse que ela não estava mais com raiva daquilo.

— Ashley me contou a verdade. — sussurra olhando para o chão quase como se estivesse envergonhada.

— Sobre o que? — pergunto, sem saber ao certo a que ela se referia.

— A denúncia falsa.

Ah, pois é. Ela veio falar comigo também. Eu não imaginava que Stephanie pudesse ser tão má ao ponto de obrigar Ashley a fazer isso.

— Stephanie é uma pessoa horrível, sim, mas imagino que tenha seus motivos. Ela é assim desde que entrou, muita gente desconfia que ela tenha algum distúrbio ou, quem sabe, um trauma. Não sei como não foi pega nos exames antes de vir para cá.

— Não é justificativa.

— Seja condescendente, Marian, todos têm seus motivos, não podemos julgá-los.

— Quando a pessoa faz a outra ser descartada, podemos, sim, julgá-las.

— Um dia você vai mudar de ideia. — suspira — Eu já a perdoei, quando você vai perdoar?

— Nunca. Nunca vou perdoar. Mas acho que não é uma boa hora para ficarmos discutindo sobre elas.

— Também acho — diz, sentando-se ao meu lado na cama — Vou sentir sua falta.

— Vou sentir a sua também. — dou um sorriso de lado, triste por provavelmente nunca mais encontrá-la, mas feliz pelos bons momentos que passamos juntas mesmo em tão pouco tempo.

Ela deita a cabeça no meu ombro e ao olhar para o seu rosto posso ver as lágrimas escorrendo. Seu semblante não parece exatamente triste, mais como se estivesse já com saudades de algo que ela ainda não perdeu totalmente, mas sabe que está se esvaindo. É aquela sensação de deixar ir embora algo com o qual aparentemente não podemos viver. Também me sinto assim, mas sei que vou me recuperar. Embora sinta tristeza em deixá-la ir, "todas as dores são finitas e mesmo que não pareça sempre podemos sobreviver a elas".    

A Teoria do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora