Capítulo 10

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— E então, como foi? — ouço Tyler me chamar do outro lado da sala enquanto desço as escadas.

Penso seriamente em ignorá-lo, pois a vergonha de olhar para ele depois da experiência no Teste era grande. Ainda assim, seria mais estranho fingir que não estava o ouvindo do que corar um pouco.

— Foi bem tranquilo. — Me recuso a admitir a verdade — Pegaram leve dessa vez, só a injeção da raiva.

— Estranho. No meu primeiro Teste aqui já fizeram a da paixão também, foi difícil passar por aquela.

— E quem você viu? — Não controlo a curiosidade, mas paro quando vejo sua expressão de constrangimento — Desculpe, é uma pergunta um pouco indelicada, não é?

— Um pouco, mas não tem problema. Eu vi uma menina de antes de eu vir para Nova Liberdade.

— Sério? Achei que teria visto Stephanie.

— Não, eu não gosto dela desde sempre. Na verdade, namoramos há pouco tempo.

Penso por um momento se ele realmente gosta dela, mas por que não gostaria? Eles estavam juntos, afinal. Dou um sorriso como forma de encerrar a conversa e sigo para fora do prédio.

Lara me contou que tínhamos o direito de passar um tempo ao ar livre. Perguntei se eles não estavam preocupados com a possibilidade de fugirmos, mas ela assegurou que seria impossível: havia muitos guardas ao redor do pátio, além dos altos muros de pedra que nos cercavam.

Ao ouvir suas palavras, tive uma ideia. "Está na hora de começar os preparativos".

Disse para a menina que iria dar uma volta, respirar um pouco. Ela se ofereceu para ir comigo, mas neguei, dizendo que costumava — e preferia — andar sozinha, mas a minha ideia na verdade era começar a bolar o plano de como eu iria fugir daquele lugar. E com aquele lugar não me refiro ao prédio: mas sim a toda Nova Liberdade. Não vou aguentar muito tempo aqui.

Finalmente piso na grama verde que recobre o chão de todo o pátio e sinto o alívio de estar em um lugar aberto. Me aproximo dos muros procurando uma possível brecha, um buraco, uma pequena falha sequer que eu possa usar para escapar. Continuo a caminhada rente ao muro. Quem sabe eu pudesse escavar, mas levaria tempo e os guardas provavelmente perceberiam antes mesmo de eu iniciar de fato.

— O que está fazendo, menina? — ouço alguém me perguntar no exato momento em que eu parecia ter descoberto algo de útil, me sobressaltando.

— Só dando um passeio. — Tento parecer convincente — Eu estava cansada de ficar lá dentro, num lugar fechado e uma menina me disse que podíamos passear aqui fora.

— Essa menina está errada. Vocês são proibidos de sair do prédio, a não ser que recebam uma ordem expressa ou permissão de um governante.

— Desculpe, eu não sabia.

— Olha só, eu entendo, mas você vai ter que vir comigo, vou ter que relatar a situação ao governante e vai depender dele qual será a sua punição.

— Certo. — digo, já sabendo que não teria porquê discutir. Acompanho o homem até a sala do governante, cheia de preocupação. Se fosse o mesmo da outra vez, eu estava perdida, ele me odeia.

Para minha sorte, quando chegamos, outra pessoa me recebe: Ian Adams. Eu estava salva. Ele me adora.

— Senhor, ela foi pega fora do prédio. — comunica sem rodeios o guarda que havia me encontrado lá fora. Ao ouvir isso, o governante me olha com seriedade.

— E o que a senhorita fazia lá? — Ele me olha com aquele tipo de olhar que te impede de qualquer tentativa de mentira. Imagino se todos os governantes passam por um treinamento especial para aprender esse olhar, pois todos os com quem eu já tinha conversado possuíam ele.

— Uma menina me disse que eu podia ficar um pouco lá fora. Ela estava errada, me desculpe.

— Quem foi?

— Ela vai ser culpada por algo? Vai ser punida? — Me recuso a entregar Lara, uma amiga, caso ela sofra algo. Ela não tinha culpa.

— Não, não se preocupe.

— Lara, minha colega de quarto.

— Vou conversar com ela, talvez a menina não tenha entendido direito as regras desse lugar.

— Okay, eu digo para ela vir aqui mais tarde.

— Certo, obrigado. Você pode ir agora.

Saio o mais rápido que posso, temendo que ele de repente mude de ideia e me puna por algo. Vou rapidamente para o quarto e encontro Lara sozinha lá lendo um livro que não reconheço.

— O governante quer ver você. — digo, fazendo com que ela se sente com uma expressão levemente assustada.

— O que aconteceu?

— Eu não podia ir lá fora. O guarda me xingou e mandou eu ir até a sala do governante. Eu contei que você falou que eu poderia ir, então ele quer falar com você.

— Por que me entregou?! E se eu for punida? Mandada embora? — Fala, exasperada.

— Ele garantiu que não vai te punir, só quer rever as regras.

— Certo, vou lá. — Suspira e sai do quarto.

Quando fico sozinha me pergunto se ela realmente não fazia ideia de que era proibido ir para fora. Quase um mês aqui e não sabia disso?

Mas se ela sabia, por que teria me mandado ir?

A Teoria do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora