Capítulo 18

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23/05/2016

— Trouxe aliados. — diz Tyler sorrindo.

Meu coração para. "Como o Tyler poderia fazer uma coisa dessas?". Chamar qualquer pessoa já seria loucura — por mais que precisemos de uma equipe maior para fazer isso dar certo, fazer isso sem ao menos conversar comigo seria suicídio. "Como ele teria certeza de que pode confiar nessa gente?" Eu nunca vi esse pessoal sequer perto dele.

Respiro fundo e o chamo para conversar no canto. Ele tenta me tranquilizar, dizendo que já estava aqui há mais tempo que eu, que conhecia cada pessoa que estava alojada aqui e sabia quais eram seus pensamentos sobre Nova Liberdade. Não que soubesse o que cada um achava sobre esse esquema ditatorial, mas tinha uma ideia sobre a forma que as três pessoas que trouxera pensavam, e por conta da necessidade de aumentar os esforços, resolveu arriscar. Mas sabia que estava correto.

— Oi, meu nome é Camila. — cumprimenta uma menina mais ou menos da minha altura, cabelo preto preso em um rabo de cavalo e grandes olhos caramelados — Eu sou a sua matemática. — sorrio. Então Tyler se lembrou da dificuldade dos cálculos que eu mencionei.

— Olá, eu sou Christopher. — apresenta-se um homem evidentemente mais velho do que deveria. Olho com dúvida — Sou do controle, um dos guardas, mas odeio esse lugar. Sei tudo sobre a estrutura, posso ajudar com a fuga. — a ideia de ter alguém de dentro parece boa, mas ele pode muito bem ser um infiltrado dos governantes, o que me preocupa. Mesmo assim, sorrio para ele, dando as boas-vindas à equipe.

— E eu sou Harmony. — Fala uma garota loira que pela aparência não é muito mais velha do que eu. Seu rosto é angelical, o que me faz imaginar o poder de persuasão que ela deve ter se souber usá-lo. Por que outro motivo teria sido trazida à equipe?

— Bem, sejam bem-vindos. Imagino que Tyler já tenha explicado a ideia geral do plano, então quero saber se vocês têm alguma dúvida. Não acho necessário que já saibam de todos os detalhes, já que nessa primeira etapa tudo o que faremos é conseguir as coisas que precisamos para sobreviver lá fora, então ignorem perguntas como "Qual vai ser minha função?". Além disso, também não tenho as respostas de o que vamos encontrar fora da cidade, mas espero que todos estejam cientes de que pode ser algo muito ruim. Sintam-se a vontade para desistir agora, mas não o façam depois que já tivermos dado início ao projeto.

— Eu tenho uma pergunta. — diz a menina dos olhos caramelo, me encarando com uma ferocidade quase voraz. Sorrio imaginando o desejo reprimido de escapar daqui que ela deve estar guardando — Quando vamos?

— Daqui uma semana. — respondo no mesmo tom, encarando meus companheiros de fuga.

***

Passamos o restante da semana nos reunindo no meu quarto. Como sou a líder, assumo que é melhor fazer aqui do que em qualquer outro lugar, já que não podemos fazer em nenhuma sala comum e não quero colocar os outros em um risco maior do que já os coloquei. É estranho, mas a confiança entre nós cresce exponencialmente em tão pouco tempo. No início eu ficara um pouco receosa em simplesmente confiar neles, mas agora isso já me parece bastante natural. Christopher, o guarda, estava conseguindo armas para nós.

— A vigilância não é muito grande e eu sei exatamente quanto e quando ninguém vai notar. É só ter cuidado. — responde quando pergunto se não havia o risco de ele ser pego.

Harmony, descubro mais tarde, realmente tinha um incrível poder de fazer amizades e de persuasão. Ela sempre conseguia um pouco mais de comida e guardava tudo em saquinhos para a viagem. Conseguimos mais um aliado, um rapaz que trabalhava na cozinha chamado Renan e que estava guardando os saquinhos no congelador para conservar os alimentos. Ele também nos prometera caixas de isopor para transportar a comida durante a viagem, o que achei muito gentil da sua parte. Mesmo assim, ele preferira ficar em Nova Liberdade a ir conosco, mas disse que torceria pelo nosso sucesso.

Camila se mostrou uma verdadeira matemática. Se não fosse ela ter corrigido meus desastrosos cálculos, com certeza teríamos sido pegos na primeira noite. Passávamos horas no meu quarto desenvolvendo novamente os planos, revendo cada detalhe até tudo estar perfeito.

Pela minha indisponibilidade de tempo, Tyler assumira a função de buscar possíveis saídas. Noto que Stephanie nunca mais havia aparecido, era quase como se tivesse sumido do prédio. A ideia me alegra. Por mim ela poderia sumir definitivamente e nunca mais aparecer. Afasto Stephanie e os outros do pensamento e me concentro nos planos.


29/05/2016

Falta apenas um dia para a fuga. O nervosismo já me provoca calafrios e tremedeiras incessantes e incontroláveis, mas vêm acompanhados também da animação. Finalmente vou cumprir a promessa feita ao meu irmão: vou destruir tudo isso aqui. Conversando com o grupo na nossa penúltima reunião, chegamos a um dilema sobre a fuga.

— Precisamos de um disfarce. — informa Camila — Será muito fácil de nos ver e reconhecer se sairmos no meio da noite, cheios de mochilas e armas. Precisamos de algo que não deixe tão evidente o porte de coisas assim e que nos permita camuflagem rápida.

— Certo, alguém tem uma sugestão? — pergunto.

— Podíamos usar umas capas pretas, são difíceis de ver no escuro, além de que se forem suficientemente grandes não vão deixar aparente a silhueta da arma ou da mochila. — sugere Tyler com um dar de ombros.

— Acredito que é uma boa ideia, mas não acho que os governantes saem distribuindo capas assim por aí. "Peguem, usem uma capa perfeita para uma fuga". — ri Christopher, fazendo uma imitação de um governante hilário. O grupo solta algumas risadinhas, exceto Tyler que não parece muito feliz com a brincadeira — Estou brincando, cara. Mas realmente não acho que vamos conseguir capas assim.

— Espera! Eu sei onde podemos conseguir. — intervém Harmony.

— Onde? — questiono.

— Na seção de costura. Por falar nisso, eu já comentei que sei costurar?

***


— São maravilhosas, Harmony. — e são mesmo. A menina havia conseguido no mesmo dia tecido suficiente para fazer capas para todos e ainda conseguira costurá-las em tempo hábil — Mas como você conseguiu?

— Já te falei que consigo convencer qualquer um? Então, eu disse que estava entediada e com medo de desenvolver algo como depressão. Óbvio que eles ficaram morrendo de medo de ter alguém defeituoso na sociedade, então me deram sem nem perguntar mais. Fui para o quarto, chamei uma novata e ela me ajudou a costurar sem nem perguntar para o que era. Enfim, o que importa é que está aí.

— Muito obrigada mesmo, Harmony. Se não fosse você estaríamos perdidos. — sorrio e entrego as capas para cada um. A de Christopher fica um pouco curta, mas nada que fosse nos gerar problemas. Pegamos as armas para testar se realmente o disfarce funciona e ficamos felizes em descobrir que o resultado é positivo.

Estávamos prontos.

Prontos para fugir.

Prontos para lutar.  

A Teoria do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora