Samuel arregalou os olhos ao vislumbrar a pequena garotinha sobre a cama. Os cabelos loiros claros e os olhos azuis resplandecendo, inocentes, para ele. Seu corpo era magro demais, e ela era miúda, com apenas o tronco aparecendo e os bracinhos finos repousando sobre se colo cheio de pequenos hematomas – antigos e novos – das espetadas que ele já havia recebido.
Sobre a sua cabeça, na parede do quarto, havia placas de madeira com letras que compunham seu nome pintadas de cor-de-rosa. Hannah. Do outro lado, uma pequena prateleira de livros infantis e não tão infantis assim, com ursinhos de pelúcia de todos os tipos.
Era um quarto claro, como todos os leitos de hospitais costumavam ser, mas era mais meigo do que qualquer um, parecendo ser habitado há muito tempo. Na verdade, ele acharia que aquele era um quarto de uma menininha comum se não fosse pelo fato que os instrumentos e maquinas que indicavam se a pessoa ainda estava viva e que pareciam estar interligados naquele pequeno ser que lhe encarava.
— Olá. — Ela disse erguendo uma das mãos. — Você está procurando por alguém?
Ela subiu as sobrancelhas de um modo muito adulto, ele percebeu. Samuel piscou algumas vezes e afundou a mãos nos bolsos dos jeans negros, que não pareciam combinar nenhum pouco com o visual colorido do quarto, notando que sua cara poderia estar assustando ela.
Mas, se ele olhasse de novo, iria perceber que quem parecia assustado era ele e não o contrário.
— Ahn, sim. — Respondeu depois de um pigarro. — Acho que estou no andar errado. Preciso ir até o quarto 415 da ala B, mas acho que acabei me confundindo, me desculpe... — Disse pronto para dar meia volta.
— Esse é o quarto 415 da ala B. – Informou.
— Não, não. — disse nervosamente, tentando rir. — Eu estou procurando por uma senhora chamada — Samuel enfiou a mão nos bolsos, pegando o pedaço amassado de papel. — Margaret Reston. — Recitou.
— Sim. E achou. — Ela estendeu a mãozinha esquelética em sua direção. Samuel engoliu a seco. — Hannah Margaret Reston. O prazer é meu.
Ela sorriu para ele e Samuel se aproximou, apertando sua pequena mão com delicadeza para que não quebrasse. Olhou para todos os lados, procurando uma câmera, porque tinha certeza que estavam lhe pregando uma peça.
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Pra você, eu (Desgutação | Em breve)
General FictionApós vários incidentes envolvendo vandalismo e furtos, Samuel Trevor recebe uma última chance de permanecer em liberdade, e para que isso aconteça, ele terá de cumprir serviço comunitário em um lugar um tanto quanto inusitado, um hospital. E é lá on...