Um hospital. Seu trabalho voluntário era em um hospital. Não apenas em um hospital, mas o lugar onde há mais ou menos três anos seu pai havia falecido devido câncer e dado um estopim na reviravolta da vida de Samuel.
Faltavam menos de uma semana para que ele completasse 18 anos e havia entrado para a Universidade de Chicago para cursar Engenharia, mas com a morte do pai e a resposta que recebeu da família, Samuel acabou escorrendo por estradas perigosas, pensando em largar a escola e a faculdade, começou a usar drogas e foi o adolescente problemático que não foi durante a vida inteira. Hoje, com quase 21, ele só focava em fingir que sua vida não estava desmoronando, enquanto sua mãe se empenhava em manter os negócios da família e se dedicava a esconder sua dor, enquanto ele se bandeava para o mundo do crime e Yvannah, sua irmã, parecia disposta a sofrer por todos eles num looping eterno.
Samuel não pareceu querer chegar rápido ao hospital, foi caminhando da delegacia até o local, uma caminhada que normalmente não passava de trinta minutos, mas que acabou durando quase duas horas, parando duas quadras antes e sentou num banco onde podia ver as janelas do hospital e ficou ali até resolver seguir em frente.
Na recepção sempre bem movimentada, a recepcionista já lhe conhecia. Deu-lhe um sorriso educado e se prontificou a atendê-lo.
— Olá Samuel, como vai? — Perguntou e ele respondeu apenas com um aceno da cabeça. — A doutora Suzana Urie ligou e explicou tudo. A ala B fica seguindo pelo corredor e lá ira encontrar um elevador, o andar é o quinto. Procure pela doutora Verônica Ashford, ela irá ser sua supervisora. — Explicou e ele acenou novamente, seguindo pelo corredor, mas ela o chamou. — Ah, aqui está. — Entregou-lhe um crachá. — E assine aqui, por favor. Você poderá ir embora depois que falar com a doutora Ashford. — Ela lhe sorriu e Samuel seguiu pelo lugar em que ela havia indicado.
O hospital, em suas entranhas, era sempre um lugar limpo e frio. Ele havia ido até a ala B uma vez, e não foi em uma ocasião muito agradável, mas não ficou ali por muito tempo, então só conhecia bem os leitos da UTI e alguns quartos que fora visitar outrora, quando ainda se importava com pessoas.
Entretanto, andando pelos corredores do quinto andar da Ala B, parecia mais um lugar irônico do que deprimente, já que todos os que estavam ali estariam doentes demais para reparar que do lado de fora existia um lindo e alegre jardim.
Samuel olhou o papel quando chegou a um lugar mais movimentado. Havia uma sub-recepção ali, e ele falou com uma enfermeira que torcendo o nariz lhe informou o caminho que deveria seguir. De acordo com o garrancho do delegado William, ele deveria encontrar o quarto 415 da Ala B, onde residia alguém chamado H. Margaret Reston.
Provavelmente iria fazê-lo ficar conversando com idosos, provavelmente Margaret Reston fosse uma velhota que cheirava a urina e naftalina que iria lhe contar como foi sua vida de cem anos, lhe obrigando a tricotar. Falaria mal do seu cabelo e iria reprimir suas tatuagens, fora chorar ao falar da morte do marido há seis anos.
O corredor era uma incógnita do que iria encontrar ali. Todas as portas eram brancas e o corredor estava vazio fora algumas poucas enfermeiras que não o olhavam com atenção. O quarto 415 ficava no meio do corredor, a porta branca parecia ofuscar sua visão e o número em uma placa azul ao lado com um pequeno cesto para relatórios médicos era a única coisa que indicava que ele estava no lugar certo.
Ele queria ter batido na porta para saber se poderia entrar, mas não o fez. Apenas empurrou a porta que estava destrancada e projetou seu corpo para dentro.
Samuel arregalou os olhos ao vislumbrar a pequena garotinha sobre a cama. Os cabelos loiros claros e os olhos azuis resplandecendo, inocentes, para ele. Seu corpo era magro demais e ela era miúda, com apenas o tronco aparecendo e os bracinhos finos repousando sobre se colo cheio de pequenos hematomas – antigos e novos – das espetadas que ele já havia recebido.
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Pra você, eu (Desgutação | Em breve)
General FictionApós vários incidentes envolvendo vandalismo e furtos, Samuel Trevor recebe uma última chance de permanecer em liberdade, e para que isso aconteça, ele terá de cumprir serviço comunitário em um lugar um tanto quanto inusitado, um hospital. E é lá on...