Verônica foi rápida em agir. Apertou os botões que chamavam as enfermeiras ao lado da cama de Hannah e a pegou no colo, lhe levando para o banheiro sem nem ao menos olhar para Samuel.
Por um instante, tudo pareceu parar. Ele apenas observava ao seu redor o fedor impregnando em todo o quarto de Hannah enquanto enfermeiras entravam no quarto a torto e direita, dando instruções de como deveria agir, e tudo o que ele fazia era ficar ali. Pareceu só tomar consciência quando estava sendo levado de volta ao seu quarto com uma dor insuportável na lateral do corpo. Lembrava-se do doutor Stark ter lhe dito que havia fraturado as costelas além dos membros.
— O que houve? – Stark perguntou, entrando no quarto a disparada enquanto ajudavam Samuel a se limpar. Ele ergueu os olhos na direção a Stark, sem ter realmente uma resposta. Negou com a cabeça.
— Hannah. – Deu os ombros com os olhos querendo se encher d'água. – Ela não ta bem.
— Deitem-no. – Ordenou apontando para a cama e dois enfermeiros pegaram Samuel como uma boneca de pano e o jogaram de volta na cama desconfortável do hospital. – O que realmente aconteceu com Hannah? – Ele franziu a testa, parecendo preocupado. Samuel se lembrou que ele também cuidava de Peter, o irmão gêmeo de Hannah que havia falecido.
— Eu não sei. – Explicou, tentando se mexer, porém sentindo grande dor na parte lateral do abdômen. – Quando eu cheguei ao quarto e a chamei, ela estava no chão vomitando. – Disse. – Eu não sei te dizer muito bem o que... – Falou, negando com a cabeça. – A culpa é minha. – Disse e o doutor apenas negou com a cabeça.
— Isso não é verdade. Você não tem nada haver com o câncer de Hannah.
— Porém, Verônica havia me dito que ela sofria muito quando tinha uma baixa quando estudava com outras pessoas, e foi por isso que nunca haviam lhe contado sobre a existência de Peter. – Stark se remexeu, inquieto.
— Você precisa descansar. Verônica está cuidando de Hannah e logo teremos notícias. – Falou piscando um dos olhos verdes, tentando reconfortar Samuel. Ele pareceu pensar por um instante.
— Quantos anos você tem, afinal? – Samuel perguntou por fim, franzindo o cenho (ou tentando, já que a dor no abdômen parecia lhe triturar de dentro pra fora). – São necessários muitos para ser médico, oncologista e cirurgião.
— Na verdade eu tenho milênios, tão velho quanto o mundo. Vi Adão e Eva caminharem pela terra, vi Noé construir a arca, assisti enquanto Sodoma e Gomorra queimavam e estarei aqui quando o crepúsculo do mundo começar e tudo terminar, por que eu sou um anjo renegado, inimigo de Lúcifer e Miguel, que espera ansiosamente pela volta do Senhor para poder ter justiça. Eu e meus amigos, os anjos da casta dos Renegados, vagamos então pela Terra, aguardando para que esse dia chegue. – Respondeu simplesmente enquanto analisava alguns exames em suas mãos. – Isso ou sou um menino prodígio que entrou na faculdade com quatorze anos, se formou em medicina com dezenove, pós graduou com vinte e três e depois com vinte e oito e agora está aqui, com trinta e um trabalhando em curar suas costelas. – Levantou o rosto, sorrindo, antes de lhe dar as costas e sair do quarto.¹
Samuel ficou ali, pensando no que havia acontecido com Hannah até Stark resolver voltar e lhe medicar. Ele havia lhe dito que Hannah estava bem e que tudo aquilo foi um "susto", porém não é como se ele acreditasse naquilo, não depois de ter visto o que viu.
Passada-se quase duas horas, ele não sentia mais tanta dor, já que o doutor havia lhe feito o favor de lhe dar morfina e por volta das dez horas da manhã, ele voltou acompanhado.
— Samuel está cansando, então, por favor, peço que depois seja um por vez, tudo bem? – Ele falou, enquanto entravam. Não que ele estivesse realmente cansado, é como se tivesse dormido e acordado depois do acidente com alguns ossos quebrados, e mesmo que seu corpo estivesse dolorido e sua mente um pouco pesada, ele se sentia muito disposto e bem, e tudo o que realmente queria era ficar ali, porém, ao que sua mãe se jogou as lágrimas sobre ele, quase agradeceu Stark e fingiu estar mais debilitado do que realmente estava.
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Pra você, eu (Desgutação | Em breve)
General FictionApós vários incidentes envolvendo vandalismo e furtos, Samuel Trevor recebe uma última chance de permanecer em liberdade, e para que isso aconteça, ele terá de cumprir serviço comunitário em um lugar um tanto quanto inusitado, um hospital. E é lá on...