CAPÍTULO 1 - Última chance.

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Não devemos limitar o conceito de viver em apenas abrir os olhos todas as manhãs, se fosse assim, não poderíamos aceitar a morte como uma espécie de recomeço.

Cerca de três anos atrás...

A chuva castigava Magneficient Mile, um bairro da cidade de Chicago, com veemência. Quem quer que quisesse chegar em qualquer lugar estava sendo atrasado gloriosamente pela tempestade impiedosa. O garoto magricela no banco de trás do carro, por outro lado, acima de qualquer outro ali, não poderia se atrasar.

— Será que não tem como ir nem um pouco mais rápido? — Samuel questionou ao motorista do taxi. O mexicano mal encarado retrucou algo que ele não pode entender. — Eu não entendo o que você está falando! Tem como ir mais rápido? – Esbravejou.

— Não sei se você percebeu, mas está chovendo e estamos no meio de um engarrafamento. — Disse mal humorado.

Samuel bufou e abriu a porta do passageiro no banco de trás. Ouviu os xingamentos em espanhol do motorista, mas já estava longe demais, se embrenhando por entre os carros no meio da avenida e em menos de um minuto já estava molhado até os ossos.

O seu destino não ficava muito longe dali. Se o transito colaborasse, em menos de cinco minutos teria chego, mas andando e com toda aquela chuva, demorou quase vinte minutos para parar na frente do hospital.

A recepção parecia calma demais e acolhedora o suficiente para qualquer um preferir ficar ali e não naquela chuva. 

Samuel gostaria de estar em qualquer outro lugar.

— Por favor, eu preciso ver o paciente Justino Trevor.

A recepcionista parecia ter captado o desespero na sua voz e passou rapidamente todas as informações e credenciais para ele chegar logo ao quarto. Parecia que ela já sabia do que se tratava e não quis deixar o moleque ensopado se atrasar mais.

O elevador, por outro lado, parecia disposto a fazer com que ele esperasse o que pareceu uma eternidade para chegar até a ala B e se direcionar para o quarto.

O corredor bem iluminado e cheio de janelas deixava aparente que do lado de fora a tempestade caia com força. Seus passos ecoavam pelo chão reluzente enquanto se apressava para chegar o mais rápido possível. Virou a esquina e parou de frente para porta.

541. Era esse o número do quarto em que seu pai estava há quase três meses. O osteossarcoma, câncer que afeta os ossos, havia sugado sua vida durante dois anos, mas parecia faminto para consumir o que restava do homem. Havia começado na tíbia, o feito amputar a perna esquerda e quando todos achavam que tudo estava bem, ele voltou trazendo junto uma metástase pulmonar que pareceu decretar o fim de Justino. E então, em um típico dia na escola de Samuel, a diretora o chama de canto e diz que sua mãe ligou pedindo para correr para o hospital, e agora, lá estava ele.

— Mãe? — Ele chamou com a voz falha. A mulher se virou para ele com os olhos cheios de lágrimas. Sua face estava úmida e ela parecia estar se segurando para não voltar a chorar.

— Samuel, eu sinto muito... — Disse com a voz entrecortada.

Ele se jogou contra o corpo da mulher a empurrando para o lado. Sua irmã estava sentada no banco, com o rosto entre as mãos e o som do seu soluço parecia ecoar pelo hospital inteiro. Empurrou a porta do quarto no mesmo instante em que o médico assinava uma prancheta e os enfermeiros terminavam de retirar os aparelhos do corpo e o cobriam com um lençol branco.

— Samuel? — A voz do médico parecia estar a quilômetros de distância. — Ele te deixou isso. — O doutor entregou um envelope em suas mãos, mas as lágrimas o impediam de entender o que estava escrito no remetente. — Ele não conseguiu esperar mais.

Pra você, eu (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora