CAPÍTULO 6 - De volta pra casa.

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Samuel gostaria de ter tido uma reação melhor do que aquela, ter parado e consolado Verônica pela fatídica informação de que Peter iria morrer, mas ao contrário disso, ele apenas a ergueu pelos braços e a guiou para fora do hospital, agradecendo à Deus por ter um café 24hrs defronte.

Quando ele empurrou a médica para dentro do recinto, a garçonete fez uma cara de poucos amigos enquanto levava o lixo pra fora, talvez na vã esperança de que a noite seria tranquila e sem clientes chatos. Recolheu os pedidos às pressas e Samuel só deu início a conversa quando um café bem forte e fumegante estacionava entre os dedos longos de Verônica.

— E então... Comece. - Samuel pediu. As mãos de Verônica tremiam, mas sua voz saiu mais firme do que ele imaginava.

— Quando Hannah veio para o hospital, nós não sabíamos como proceder com ela, quer dizer, além de tratar a doença... – Fungou – Uma mulher veio fazer sua internação e pagou o suficiente para os próximos três meses de estadia. Assinou todos os papeis em nome de uma empresa e simplesmente foi embora. No início, nós não achamos estranho, mas depois vimos que ninguém aparecia e eu e outro médico, doutor Stark, fomos atrás para saber do que se tratavam aqueles pagamentos e então descobrimos que a tal empresa andava pagando o tratamento de algumas crianças com câncer, mas que nenhuma daquelas eram tão privilegiadas quanto Hannah. Foi então que entramos com uma investigação e descobrimos todos os nomes dos pacientes que estavam recebendo essa ajuda e descobrimos Peter William Reston. Além do nome, quando olhamos sua ficha e descobrimos que ele era irmão de Hannah. Ele estava internado no hospital de Mississipi e conseguimos trazê-lo pra cá com muito custo. James, o doutor Stark, se encarregou em cuidar do caso dele enquanto eu cuidava de Hannah. O quadro clínico era bem similar, eles eram gêmeos univitelinos, os genes eram bem parecidos e a doença era mesma. Fizemos os mesmos tratamentos nos dois, dependendo da necessidade de cada um deles. Porém, não poderíamos esperar que eles fossem totalmente idênticos... Os tratamentos de Peter não tinham os mesmos resultados que os de Hannah, seu organismo se recusava a aceitar bem o tratamento o que dificultava a abordagem dos medicamentos, o câncer estava entrando em estágio terminal e nós não conseguíamos reverter o quadro. Ele estava fazendo quimioterapia, coisa que não fazemos com Hannah, e as coisas foram piorando gradativamente e de modo acelerado. Um dia comemorávamos pelo fato de Peter estar estável e no outro chorávamos pela piora brusca que ele tinha. Estávamos fazendo de tudo um pouco, trabalhando dia e noite para conseguir fazer algo que o ajudasse. Mas parece que nada estava dando resultado... Então, Stark me ligou e me avisou que eu deveria passar lá hoje, já que Peter não vai acordar amanhã.

Verônica ergueu a mão, tirando uma lágrima solitária que escorria pelo canto de seus olhos. As olheiras estavam profundas e arroxeadas, e se alguém olhasse rapidamente, pensaria que levou um belo soco. Engoliu a seco e bebericou o café. Seus ombros estavam murchos e cansados e ele podia notar que sua dor era exorbitante.

— E você foi vê-lo? - Samuel questionou. Verônica negou com a cabeça, engolindo a seco. - E por que não?

— Você conseguiria assistir Hannah morrer? - Samuel franziu o cenho e negou com a cabeça. Aquela ideia fez todos os pelos do seu corpo se arrepiar e um vácuo cair na boca de seu estomago. — Está aí sua resposta. Eles são idênticos, cada traço de um lembra o outro, cada sorrisinho, cada olhar, uma careta, tudo, Samuel, tudo! Eu cuido de Hannah há tempo demais para ter uma amostra grátis da morte dela. Isso é... Isso... - Verônica voltou a chorar. Samuel desviou o olhar para a janela e observou o hospital a sua frente. Ao fundo, a médica soluçava e ele não fazia ideia de qual protocolo deveria seguir.

— Eu queria vê-lo. - Disse sem pensar. Verônica ergueu o rosto rapidamente, sem entender.

— O que?

Pra você, eu (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora