Josh

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Estou deitado, escutando uma música ao som mais alto possível, com os fones de ouvido, óbvio. Se meu pai escutasse mais um barulho qualquer vindo do meu quarto, eu juro que ele viria aqui me matar. Aliás, ele acabou de sair do meu quarto, me deu um sermão daqueles, mas ele só sabe fazer isso mesmo, não é? Ele só sabe acabar com minha vida, assim como aquela garotinha que dizem ser minha irmã. Eu poderia jogar essa família toda para os crocodilos comerem e arranjar outra, porque sério, ta punk.

Meu pai me deixou de castigo mais uma vez. Já sei as regras de cor: Sem televisão, vídeo game e sem sair por um mês, não posso perturbar minha irmã e ter de fazer tudo o que ela quiser, tenho que fazer tudo o que minha madrasta pedir e blá, blá, blá. Se eu descumprir mais alguma regra, ele vai aumentando, até fazer com que minha vida acabe completamente.

Já não bastava ter de nascer nessa família, agora também tem de me tirar as únicas coisas que fazem com que eu tenha algo divertido pra fazer nos meus dias...

Se não fosse por aquela filhote de ogro (pra não usar outra palavra e "descumprir" uma das regras) eu ainda viveria no meu mundo feliz onde nada podia me abalar. Com minha mãe sempre me protegendo de tudo, e com o meu pai (que também acho que se foi com a minha mãe) que ficava mais tempo em casa brincando comigo do que trabalhando, o que era meu melhor amigo, o que nunca ficava bravo.

Eu sei que posso ter pegado pesado com a minha irmã, mas não me importo, é verdade, ela acabou com a vida de todos desde que nasceu.

Minha mãe morreu por ter tido uma complicação no parto. Meu pai após esse dia ficava o tempo todo cuidando da perfeita Anne, e então logo se casou com minha madrasta, Luiza. Minha irmã considera ela como mãe, por já desde bebê ter sido cuidada por ela, eu não, apesar de ainda ser pequeno – na época só tinha cinco anos – sabia que isso estava errado. Meu pai, tão amado pai, não deveria ter me esquecido pra cuidar da Anne, e muito menos deveria ter se casado tão cedo após a morte de minha mãe.

Opa, paro meus pensamentos por um instante.

Minha música preferida começou, quer dizer, não é minha preferida, mas serve pro momento.

'Perdi a fé em suas palavras

Independente do que for falar

Nem sei por onde eu andava

Uma estrada sem asfalto ou cor

E uma explosão

Revelou o lado bom de uma tragédia

Não mostrar sofrer e esquecer as regras

[...]

Estou ficando sem tempo

E quero só mais um segundo

Pra mostrar o que tenho aqui

Sem mais perguntas

Como em meu caminho

Quase sempre sozinho

Esquecendo o quanto é bom sorrir

Sem me preocupar

Eu lamento se já me deu a sua hora

Se quiser me ver, estarei lá fora

Lá fora

Eu não deixo a porta aberta

Olho pela fresta

Esperando um dia alguém olhar de volta pra mim

[...]

Eu prefiro assim

Assim, assim'

Sempre gostei muito da maneira como essa banda sempre tem a música certa para cada momento, como essa aí em cima, a música se chama "Eu prefiro assim", e tipo, é da melhor banda que poderia existir na face da terra, Supercombo.

Está começando outra música da banda, dessa vez é piloto automático, quando minha irmã abre bruscamente a porta do meu quarto e arranca os fones de ouvido de mim.

- O que é garota? Agora além de acabar com a minha vida, tá ficando maluca também?

- Josh, cala boca e vem! Meu pai saiu e a mamãe está entrando em trabalho de parto – ah, se não bastasse meu pai ter casado de novo, ele ainda engravida ela depois de quatorze anos de casados. Argh! Mais um ser nessa família pra me fazer surtar.


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