Crazy Friendship

Gabriel

Josh está segurando a arma. Está quase apertando o gatilho. O Paulo está de olhos fechados no meio da sala, parece estar esperando pela sua execução. Luiza está no canto da sala, paralisada, assustada. Eu fecho meus olhos. Não quero ver o que irá acontecer.

Josh e eu somos amigos desda sexta série. Eu sempre o achei um cara legal. Ele é divertido, e sempre esteve ao meu lado, para qualquer coisa. Ele sempre tentou fazer de tudo para ser feliz na família dele, mas nunca conseguiu. E desde uns tempos pra cá, ele tem ficado mais violento, mais depressivo. Eu tentei ajudar ele, mas ele não aceitou ajuda, estava se fechando cada vez mais no seu mundo. Eu sabia que as coisas estavam sérias, até pensei em falar com o pai dele, mas se fizesse isso, estaria traindo a confiança dele, e eu nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas. Algumas semanas atrás ele começou a falar em se vingar do Jônatas. Pensei que fosse mais alguma coisa idiota. Ele sempre fala que vai se vingar do Jônatas, mas faz coisas pequenas, a maior coisa que ele fez foi roubar a namorada do cara. Eu nunca entendi o motivo dele sentir tanta raiva do garoto, ele parece ser um cara legal, mas nunca perguntei pro Josh, ele conheceu o Jônatas antes mesmo de me conhecer, então imaginei que fosse alguma coisa boba de infância. Mas essa tarde foi diferente. Eu não sei onde ele conseguiu o revólver. Ele me chamou para finalmente se vingar do Jônatas, e quando falou o que ia fazer, eu disse que ele não deveria fazer isso, que ele estava louco por ter pego uma arma. Ele disse que não ia matar o Jônatas, disse que só ia dar um susto nele, e perguntou se eu ia ajudá-lo, pois com ou sem mim ele ia fazer isso. Então resolvi ir, não para ajudar, mas para tentar impedi-lo. Mas quando cheguei, ele já estava brigando com o Jônatas, eu tentei fazer com que ele parasse antes que as coisas piorassem, mas foi ai que ele sacou a arma. Primeiro apontou para mim, disse que se eu não ficasse quieto ele ia era atirar em mim, então eu fiquei quieto, na verdade, eu paralisei. Eu sabia que ele não iria atirar em mim, ele não seria capaz disso, mas eu não consegui impedir quando vi a arma apontada para mim.

Mas antes que você vá pensando que eu sou covarde, não é isso. Meu irmão mais velho morreu assim. Um cara do terceiro ano da escola dele chegou e começou a atirar. Ele deu três disparos. Um bateu na parede, o outro na perna de uma garota, e o outro, bem, o outro foi bem na cabeça do meu irmão. O cara foi preso logo em seguida. Eu não fiquei com raiva do garoto. Não porque eu não quisesse, afinal ele tinha matado meu irmão, o meu melhor amigo. Mas eu não fiquei com raiva porque umas duas semanas depois fui visitar ele na cadeia, pra tirar satisfações, e quando cheguei lá e comecei a falar com ele, o garoto começou a chorar, dizendo que sentia muito, que não sabia o que estava fazendo, que ele estava com um monte de problemas, e que encontrou a arma do pai dele na gaveta do escritório e quis dar um fim em si mesmo, dentro da escola, onde sofria bullyng . E foi ai que tudo aconteceu. E eu o entendi, mesmo não tendo passado por aquilo, o compreendi. Comecei a visitá-lo continuamente na prisão, nós conversávamos e viramos grandes amigos. Ele foi solto depois de um ano e meio. E ele se mudou. Encontrei com ele uma vez depois disso, mas nunca mais conversamos.

Consegui deixar meu trauma de lado quando vi que o Josh estava apontando a arma para o peito do Jônatas. Então quando ele estava prestes a puxar o gatilho eu empurrei a mão dele para baixo, e a bala atingiu a perna do Jônatas.

Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. O pai dele chegou e o saiu puxando para a sala. E agora, ele está prestes a atirar no pai.

Ainda com os olhos fechados, escuto o som de algo caindo no chão, mas não de um tiro. Então abro os olhos e vejo que o Josh soltou a arma, que está no chão, ao lado do pé do sofá. O Josh está com a cabeça abaixada, os braços apoiando a cabeça, os cotovelos apoiado no joelho. E ele chora. Chora como um bebê.

O Paulo também abre os olhos, e vai em direção ao Josh. Por um tempo, penso que ele vai pegar a arma e brigar com o Josh, mas em vez disso ele começa a chorar e abraça meu amigo. Os dois ficam ali por um tempo, chorando e se abraçando.

O Josh de repente levanta a cabeça, para de chorar e virando para a Luiza diz:

- O Jônatas, ele está ferido.

Então ela sai de seu torpor e assente, pegando o telefone novamente e discando.

Em pouco tempo a ambulância chega e leva o garoto.

Josh está sentado no sofá, de cabeça baixa. Eu pego a arma no chão, entrego pro Paulo e saio. É a única coisa que posso fazer agora.

Estou aliviado, mas ainda muito assustado.

tM2b_