Bruno ficou alguns minutos parado na porta de Liv se culpando por ter se aproximado tanto dela. Deus, ele tinha a apresentado seus pais quando devia afastá-la de sua vida o máximo possível para não comprometê-lo. Mas a vontade dele era de bater naquela porta até que ela o atendesse.
Os vizinhos poderiam reclamar.
Talvez esse fosse um bom incentivo para ela abrir.
Mas apesar de todas as idéias que teve, não executou nenhuma. Saiu da frente da casa e foi para a sua pensando numa forma de falar com Olivia de novo.As horas se passaram, uma e meia da manhã e mal conseguiu dormir, estava com tanta raiva reprimida. Devia ter se afastado de Olivia quando era tempo, agora que estava impregnado dela da cabeça aos pés não tinha outra escolha senão insistir.
Armou seu plano de forma consciente. Não ia perturbá-la enquanto estava fervendo de raiva. Júlia sempre dizia que o que mais tirava ela do sério era quando o cara que ela estava sufocava após alguma briga. Ela queria tempo para esclarecer as ideias e os homens insistem querer esclarecer as coisas logo.
Então ele ia ao casamento da prima, na segunda estaria de volta e não esconderia mais nada de Liv.Depois de muito custo conseguiu dormir por uma hora, antes de seu telefone despertar indicando que seu pai já chegaria com o carro. Ainda estava escuro, foi até a janela e as luzes da casa da vizinha ainda estavam apagadas. Claro, o que ela estaria fazendo acordada às 4 da manhã?
Olhou para ver se o carro do segurança convocado de última hora pelo Fausto já estava lá.
E estava.
Bruno pegou sua mochila com as roupas necessárias para o fim de semana ao ouvir a buzina na rua. Tentando não parecer lamentar por Olivia não ir com eles entrou no lugar que o pai ocupava antes no carro e deu partida.
- Querido, a Olivia não vai conosco?
- Não mãe, ela não estava se sentindo bem e pediu desculpas por não vir.
- Tem certeza que é só isso?
Julia como sempre insistindo em saber de tudo. Bruno respirou fundo e assentiu ao sair, se esforçando em não olhar a casa se afastando pelo retrovisor.Surpreendentemente ninguém da familia falou alguma coisa durante o trajeto até o Rio de Janeiro. Chegaram no prédio da tia, que ele mal percebeu o quanto havia mudado desde a ultima vez que veio. Isso tinha sido há sete anos, ele veio para o Natal, visitar-la . Naquela época, ainda tinha uma queda pela prima que, agora estava prestes a casar.
Apesar de Julia desconfiar, ele nunca falou que gostava da Jennifer porque seria estranho, eles são primos e Bruno sempre foi um tanto "tradicional". O que não mudava o fato dele imaginar a prima algumas vezes trocando alguns beijos com ele.Bruno, tirando as lembranças da mente, deitou na cama confortável no quarto de hóspedes após trocar uma ou duas palavras com a tia. Ela rapidamente percebeu que ele era o único que não havia dormido durante a viagem e indicou o quarto para que dormisse. Deu um beijo demorado no rosto da tia com um sorriso enorme. Agora, estirado na cama não pode deixar de pensar em como Olivia estava. Provavelmente estaria acordando naquela hora. Olhou para o celular por vários segundo antes de sentir o sono bater. Não iria ligar, talvez mais tarde.
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- Olivia -Aos poucos os sentidos de Olivia voltavam ao normal. Primeiro a dor de cabeça, depois seus lábios secos e o gosto estranho que estava em sua boca. Ouviu barulho de carros e o leve tremor embaixo de si. Tentou abrir os olhos, mas a claridade a impedia. Sua dor de cabeça só piorou quando tentou abrir-los e não pode evitar resmungar de dor.
- Você deve estar com dor de cabeça, eu tenho um comprimido.
Sentiu alguma coisa encostar na sua boca e automaticamente se afastou ao reconhecer a voz sem precisar abrir os olhos.- Eu não quero nada de você.
- Não seja assim, é só uma aspirina.
Escondendo o rosto com as mãos para se proteger da claridade, aos poucos Olivia consegue enxergar em sua volta. Estava dento de um carro ao lado de Jota. No banco da frente havia um motorista e mais um homem que ela reconheceu pelo retrovisor como o homem que a pegou em casa.
- Para onde você esta me levando?
- Estou só querendo passar um fim de semana com a minha filha, será que é pedir demais?
- Você tem a Patricia. Ela é sua filha. Eu não tenho a mínima vontade de ocupar o posto.
Por uma fração de segundo a mão de Jota se aproximou do rosto de Olivia e por um sopro não a acertou. Jota havia impedido o movimento antes que fose tarde demais. Mas o susto que Olivia levou foi o mesmo. Lembrou da última vez que ele bateu nela e se arrepiou com a lembrança.
- Você continua a me desrespeitar Ollie, isso não me deixa nem um pouco feliz. Estou apenas pensando em passar um tempo com você, ser um bom pai.
- Poderia me convidar como uma pessoa normal.
- Você teria aceitado?
- Não. - Disse rapidamente. - Mas, ainda assim, me desmaiar com sonífero e me arrastar de carro para "sei la onde" não te faz um bom pai. Na verdade, isso te afasta ainda mais do que seria um bom pai.
Olivia reparou no punho fechado do pai e achou melhor apenas ignorar. Uma hora ele iria se descuidar e ela ligaria para alguém ajudá-la.
Mas quem? O nome de Bruno surgiu em seus pensamentos. Com quem mais ela poderia falar? Seus amigos estavam na Itália. Sua irmã dificilmente a ajudaria. Diria que era uma boa chance para os dois se reaproximarem. Ela deu essa ideia em uma das vezes que se encontrou com Olivia e a irmã negava categoricamente todas as chances de se aproximar de Jota.
Pelo visto ela não tinha mesmo opinião ali. Ela sempre foi forçada a fazer o que não queria pelo pai e ele sempre deixava bem claro que ele era quem mandava ali.
"Vá comprar meu jornal" "Já tem 8 anos, cozinhar é fácil", "Cuidado com o maldito fogo, se você queimar um pano de prato vou enfiar sua mão nas chamas e você vai ver o que é bom."
Ele sempre fazia chantagens emocionais com Olivia e sua irmã nunca reparou. Fazia a limpeza da casa e só parou quando Jota de uma hora para outra começou a aparecer em casa com dinheiro. Muito dinheiro para um simples mecânico.
Talvez seja por isso que Patricia não lembre do que Olivia passou. Ela tinha 6 anos e deve ter esquecido boa parte desses anos em que a irmã precisou ser a mãe da casa enquanto Jota bebia pela rua e chegava em casa achando que uma garotinha de 8 anos devia sim saber cozinhar para o seu pai. Por sorte ela levava jeito para a cozinha e facilmente se adaptou com os temperos, o fogo que a queimou algumas vezes, mas que agora, domina bem.
Não, Patricia já lembra da fase em que Jota tinha condições de arrumar duas empregadas em casa, cozinheira e para o alívio de Olivia que pôde ter uma adolescência quase normal já que ainda se sentia mal pelas coisas que ouvia, pelas ameaças e pelas palavras duras seguidas de desculpas que já não valiam de nada para ela.
Jota não disse mais nada e Olivia agradeceu. Ficou remoendo seu passado por um bom tempo até se tocar de que já estava muito tempo naquele carro.
- Eu não tenho como fugir, tem como me dizer para onde está me levando?
- Vamos para um Spa. Relaxar, um fim de semana de pai e filha.
- E o seu trabalho? Você era bem ocupado, pelo que me lembro.
- Ainda sou, mas para você eu arrumo um tempo.
- Não precisava. - Resmungou.
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Sob Sua Vigilância
RomanceSpin-off independente da duologia Retratos. Compre na Amazon e leia revisaco e com 3 capítulos inéditos. https://www.amazon.com.br/dp/B01MRC2HQV Olivia estava confortável com a vida que levava até que em uma noite tudo mudou e ela precisou voltar da...