Barogue é um bulldog que gosta
de trepar nas pernas das pessoas
e esfregar
o seu pinto rosado nas calças jeans delas.
adotei Barogue há uns dois anos
depois que a minha mãe morreu
de peste negra ou de ebola.
ela também trepava nas pernas das pessoas
e às vezes fazia um filho.
foi assim que eu nasci.
após alguns minutos
Barogue faz uma careta
como se alcançasse um orgasmo.
se desgarra da perna da pessoa
urina nela
e o líquido amarelo e quente
escorrendo pelos pés de transeuntes,
das vítimas.
escorrendo pelos all-stars
escorrendo pelas havaianas
escorrendo pelas botas de cano longo.
a urina de Barogue escorrendo.
algumas pessoas ameaçavam matar a mim
e a ele.
quem ameaçava
eram os pais de família
eram os empresários e donos de firmas
eram médicos e professores
eram filósofos e doutorandos
eram as pessoas supostamente civilizadas.
mas depois que barogue trepava em suas pernas
e afogava seus pés numa poça de mijo fétida
as pessoas supostamente civilizadas
queriam nos matar.
é compreensível.
domingo passado eu fui à igreja com barogue
e estava tudo bem.
barogue estava se comportando.
quando o padre pedia para que os fiéis
ficassem de pé
barogue ficava de pé e latia alguma oração.
"que bonitinho" as pessoas diziam
" que louvável".
no momento da eucaristia
segui com barogue para recebermos a hóstia
ajoelhei-me aos pés do padre.
barogue se aproximou do manto branco dele
se enfiou ali e sumiu.
o padre se assustou e
derrubou a hóstia
derrubou corpo de cristo pra tudo quanto era lado.
derrubou o vinho
derrubou o sangue de cristo pra tudo quanto era lado.
uma meia dúzia de fiéis se agachou no chão
e lambeu o vinho.
o padre sambava
o padre dava chutes no ar
mas barogue trepava e trepava e trepava
o padre então tirou um colar do pescoço.
um terço.
se esticou até as suas pernas
e enlaçou barogue e começou a enforcá-lo.
barogue mordeu o dedo dele
e ele então começou a gritar.
o coral ao fundo entoou algum cântico
para distrair os fiéis que estavam impacientes
querendo que a missa continuasse
e acabasse logo
para que pudessem retornar às suas vidas normais
após cumprirem com sua obrigação aos domingos
de dedicar uma hora à salvação da alma
e essas coisas.
barogue se desgarrou e fomos embora.
mas antes disso ele se juntou às pessoas
que lambiam o vinho no chão.
barogue lambeu bastante
e começou a abanar o rabinho
efusivamente.
fomos embora
e nunca mais voltamos àquela igreja.
no caminho pra casa
barogue entrou num bar
se sentou num banquinho
e latiu e latiu e latiu
eu sabia o que ele queria.
era costume em nossos passeios.
tomou uma dose de conhaque
e latiu e latiu e latiu
"não barogue, hoje não vamos cantar no karaokê"
ele parou de abanar o rabinho
e fomos pra casa.
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VERSANCOLIA
PoezjaAntologia de poemas. Versos brancos, autobiográficos, ficcionais, tudo junto, escritos em momentos tristes. Esse livro antecede o Versalegria ( que será a sequência e virá preenchido de poemas alegres que eu estou reunindo) ^_^ !