não é assim que a banda toca

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aquela foi uma noite

mortal

e mais fria do que o comum. 

algo não estava certo. 

havia aula

e eu não estava na escola. 

havia mochila

e eu não carregava cadernos.

apenas uma garrafa de vinho

e um livro, chamado "O Lobo da Estepe".

é um puta de um livro. 

fala sobre um homem

que é metade lobo

metade homem. 

e ele sonha com o famoso Goethe

e com a imortalidade. 

isso contrasta com os meus. 

eu sonho com mortes

e pessoas infames que me deixaram. 

uma dessas estava bem ali ao meu lado

fumando maconha num grupo meio punk 

e eu dizia a mim mesmo 

"que diabos estou fazendo

aqui não é o meu lugar"

mas solucionei o desconforto

tomando alguns goles azedos. 

após algum tempo 

surgiram duas figuras.

homem, mulher, cachorro

não identifiquei o quê. 

só sei que eu dei o meu número

e disse que me chamassem no whatsapp 

para eu  explicar-lhes

as minhas teorias sobre a solidão. 

logo após eu deixei as duas figuras

num ponto de ônibus

implorando-lhes uma passagem

pra que eu pudesse ir pra casa. 

acontece que elas se escafederam

e me deixaram ali desnorteado

e bêbado

numa rodoviária cinza, suja

repleta de pombos assombrosos. 

ah

e depois um policial me acertava

uma direita bem no queixo

e uma estocada com o cano do fuzil. 

e me xingava raivosamente.

sim, e que coisa,

estava ali,

a minha morte.

tão idiota

tão gratuita

tão inesperada.

abri os braços pra voar

pra longe da vida. 

mas então recebi um par de algemas. 

tudo isso porque eu saí da rodoviária

e corri alucinado

e pulei a casa de um amigo

porque eu esqueci o caminho de casa

ou simplesmente não queria voltar pra casa. 

tudo isso porque

o vinho estuprou meu cérebro

e porque era uma noite mortal

e mais fria do que o comum. 




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