Prólogo

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Bem, vamos lá, esse não é exatamente o primeiro capítulo, é somente uma lembrança de Herval sobre a primeira vez que viu a ex esposa. Eu tenho em mente que vocês têm preferência por Paulo, mas peço encarecidamente que dêem uma chance e escutem todos os personagens, eles têm muito a nos contar e nos oferecer do que parece.

Lhes deixo agora, boa leitura, espero que gostem desse meu novo projeto.

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Era primavera de 1987, naquela manhã de domingo Hans Backar obrigou seus dois filhos a acompanha-lo no culto para impressionar um proprietário de terras em São Paulo, Hans queria muito comprar algumas posses do homem mais velho, entretanto, João Teodoro era muito conservador e via o Backar como um libertino graças a sua fama.

Então resolveu que se frequentasse a mesma igreja do homem, teria uma chance de desmentir a falação do povo a seu respeito. Herval e Louis estavam presentes contrariamente, para o inglês mostrar bons modos a sociedade era muito importante para os negócios e seus filhos deveriam fazer o mesmo.

Herval mostrava-se muito irritado, odiava o pastor daquela igreja, Tavares Dias era conhecido por sua rigorosa conduta e suas pregações longas a respeito de fé, honra e caráter. Tudo uma bobagem aos olhos do rapaz que fazia vinte e dois anos em alguns dias e ainda vivia sendo subestimado pelo seu pai.

Tal fato não era tudo que aborrecia o jovem inglês, já que também deixara de estar com sua adorável Sheila para fazer o papel de bom moço que seu pai queria. Discretamente tirou do bolso da sua calça social seu relógio de bolso e respirou fundo, mais duas horas e meia, Herval, apenas isso e estará livre desse inferno.

-Ela não poderia vir, não é mesmo? - Louis lhe provocou ao pé do ouvido propositalmente em português, apesar de dois anos mais jovem, Louis era autodidato e sabia a língua mãe do Brasil perfeitamente, ao contrário de Herval que não conseguia falar perfeitamente.

-Não... entre nisso, Louis. - ordenou Herval frustrado por sua frase mal entonada, por mais que tentasse, dois meses não eram suficientes, ele mal conseguia entender a língua do país que agora vivia e odiava o fato.

-Ela não entraria em uma igreja, não é verdade? Na casa de Deus uma pagã não é bem vinda. - continuou o mais jovem a provocar, Herval o encarou de canto, ambos possuíam o mesmo tom de azul gelo nos olhos, os mesmos cabelos loiros, a diferença era a altura, Herval era mais alto e Louis mantinha os cabelos em corte militar.

-E, mais uma vez... não se meta nisso. - ordenou grosseiramente entredentes para o jovem ao seu lado que sorriu arrogante, Hans pigarreou e ambos voltaram-se para frente.

Era verdade que Sheila não seria bem-vinda, na verdade os Backar seriam expulsos da igreja e teriam uma pior imagem se o filho mais velho do empresário fosse associado a uma garota de programa. Esse fato era o verdadeiro motivo de toda a raiva do rapaz, não poder assumir seu caso por conta da sociedade em que viviam.

O coral foi iniciado e Herval se ergueu com um suspiro imitando os fiéis presentes, estavam à poucos bancos do palco, de modo que o olhar reprovador do pastor Tavares sempre o encontrava com desaprovação.

Grande novidade, uma extrema perda de tempo tentar melhorar nossa imagem, um Backar sempre será associado a coisas ruins. Pensou Herval com seu ácido humor que lhe era característico.

-Nossa. - Louis comentou surpreso ao seu lado. - Quem é ela?

-Aquela é a filha do pastor Tavares. - Hans informou ao filho mais novo enquanto Herval rolava discretamente os olhos com descaso. Via apenas quinze garotas de pé entoando cânticos, tinham belas vozes, mas não eram nada incomuns.

Louis sempre foi tão exagerado em tudo

Contudo, logo entendeu o porquê de seu irmão olhar fixamente para o palco, quando uma garota relativamente alta e morena aproximou-se do microfone da frente e passou a puxar o coro timidamente. Herval se viu curioso, quem era aquela garota tão tímida, mas com uma voz tão graciosa?

Ela era magra, tinha uma pele suavemente morena e cabelos negros presos. Ela era bonita, ele reconheceu distraidamente, seus traços eram suaves e marcantes, suas mãos delicadas e sua postura elegante embora tímida.

Ele ainda a olhava quando ela voltou o rosto em sua direção, os olhos negros como obsidianas únicas o fitaram timidamente, ainda assim tão belos quanto desconcertantes. Suas sobrancelhas eram arqueadas, o nariz delicado e lábios cheios e rosados, seu rosto era delicado e lindo.

Sua beleza foi responsável por fazê-lo esquecer do seu aborrecimento durante aquele culto, seus olhos sempre encontravam os dele e ele não parava de fita-la, o rubor sobre a pele morena era lindo.

Herval não sabia, porém, que acabaria por aceitar se casar com a filha do pastor para agradar seu pai e que assim daria início ao seu fracassado casamento.

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15/01/2016



Série Os irmãos Backar- Amor sentido (Milady) -livro EXTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora