Tarde para dizer

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Talvez eu não tenha te tratado

Tão bem quanto eu deveria

Talvez eu não tenha te amado

Com tanta frequência quanto poderia

Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito

Eu simplesmente nunca tive tempo

Você sempre esteve em minha mente

(Always On My Mind, Elvis Presley)

Catarina estava passando o pano úmido no chão da lanchonete enquanto Elvis Presley tocava baixinho no aparelho de rádio antigo da dona Gê que havia dado uma saída para ir visitar a família. A morena não notava, mas suspirava com a letra da música.

– Eu queria muito fingir que está tudo perfeito e que suspirar com a voz do rei Elvis é supernormal, toda mulher gosta de ouvir uma música com letra bonita e ainda com uma voz tão marcante e tudo mais.

Ergueu os olhos para Teresa que tagarelava de shortinho jeans desfiado e regata enquanto limpava as mesas com um produto.

– Mas não dá, Cat.

– O que não dá?

– Viu o que eu digo? Você está assim há meses. – atirou as mãos para o alto e as apertou na cintura. – Quando você vai admitir para si mesma que sente falta daquele bundão do seu ex marido?

– Eu estou bem, Tess.

– Não está não, mocinha.

Sacudiu o dedo em riste e Catarina precisou rir um pouco, sua amiga adolescente era uma figura.

– Se continuar com essa carinha murcha eu vou fechar a lanchonete e te obrigar a dançar até liberar toda essa áurea deprimida.

– E o que sabe sobre áurea deprimida? – brincou cruzando os braços.

– Ora, ouvi isso em um seriado um dia desses, achei que soava legal. – deu de ombros e Catarina riu voltando a passar seu pano. – Você sabe que seu Nogueira não tem dinheiro para contratar aqueles dois postes como seguranças do prédio, não sabe? E muito menos para o concerto do elevador, o prédio só precisa uma pintura e será como um novinho.

– Talvez ele tenha economizado um pouco.

Tentou disfarçar, faziam meses que havia indicado dona Ana para ser enfermeira de Herval e desde então apenas o vira duas vezes, mas precisava admitir que sentia-se mais segura com o elevador com todo o material novo e seguro e a segurança que aqueles dois homens imensos trazia ao seu prédio. Mesmo sem voltar ali ele havia cuidado para trazer algum conforto e apenas não ligara para recusar tudo porque toda a vizinhança estava mais tranquila e seus vizinhos mereciam um pouco de tranquilidade.

– Cat. – sibilou com os olhos apertados.

– Ok, foi um gesto generoso e bonito ele ter cuidado de algumas coisas do prédio e a última vez que falei com Ana ela disse que conseguiu fazê-lo caminhar um pouco, mas não significa que estou suspirando por causa dele.

Ergueu o queixo e a rosada gargalhou lhe jogando o pano.

– Hei!

– Sua boba, é claro que está.

– Cresci ouvindo Elvis Presley, Tess.

– Vou fingir que acredito, sua chata.

Série Os irmãos Backar- Amor sentido (Milady) -livro EXTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora