Em prol de um legado

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"Memórias perfeitas

Espalhadas por todo o chão

Alcançando o telefone porque

Eu não consigo lutar mais

E eu me pergunto se eu já passei pela sua mente

Para mim isso acontece o tempo todo..."

(I need you now, Lady Antebellum)

Três meses depois do acidente...

Catarina sentiu a mão do seu filho em seu ombro e o fitou. Nas últimas semanas desgastantes seus filhos foram seu porto seguro. Fossem a obrigando a descansar, a ouvindo ou estando com ela, os seis estavam sempre presentes, com exceção de Andrew que ligava uma vez na semana para procurar saber como ela estava e não havia voltado ao hospital.

Mas Hiorran era o mais presente. Sua presença silenciosa e segura era um balsamo que Catarina se agarrava, depois de meses com seu emocional em frangalhos, contar com alguém que não a julgava ou lhe fitava com pena era um grande alívio.

Não que os outros não estivessem cumprindo seu papel, mas eles não conseguiam evitar os olhares questionadores e ela já sabia sem ao menos olhar em seus olhos o que eles pensavam todos os dias ao vê-la se encaminhar para o hospital: Por que ela suportava tudo aquilo se estava mais do que claro que Herval nunca havia merecido?

Hiorran, diferente dos irmãos, parecia a compreender perfeitamente, talvez porque fora o mais machucado pelo homem que agora encontrava-se imóvel e vulnerável sobre uma cama ligado a tubos e fios. Ele talvez fosse o que tinha mais razão para dar as costas a aquele lugar e não pisar ali novamente, mas todos os dias antes e após o trabalho ele ia ao hospital e em silencio parava ao lado da mãe em sua rotineira observação dolorosa pela janela do quarto de UTI.

– Ele odiaria saber que seus cabelos estão tão mal cuidados. – ele sussurrou naquela manhã.

Catarina ergueu os olhos sabendo que o filho tinha razão. Naquele quarto, em meio a tubos e fios, mantinham vivo um homem pálido e descuidado, algo que não se assemelhava em nada com seu ex marido sempre altivo e atraente.

– Eu sei, filho. – apertou a mão em seu ombro e o fitou mais uma vez naquela semana – Hiorran você anda passando muito tempo enfunado nesse hospital, você tem uma família agora.

– Eu sei, é que... – ele coçou a nuca sob o colarinho da camisa azul social e encostou uma mão no painel de vidro a sua frente. – Mama, eu não o amo como filho, eu perdi isso ha muito tempo, mas por algum motivo... eu não quero que ele se vá sem que eu...

Ele a fitou confuso e Catarina sorriu cansada e lhe acariciou o rosto.

– Nunca tiveram uma conversa normal.

– Não, sempre discutimos. – Hiorran deu um pequeno sorriso.

– Vocês são muito parecidos, filho, isso é normal, bom agora sabemos que ele também tinha suas crenças loucas em relação a sua paternidade mas eu lhe entendo. – o loiro suspirou recolhendo as mangas da blusa – Mas filho ele é Herval Backar, ele não será derrubado por tão pouco.

Sorriu confortante, ainda que por dentro tudo estivesse uma confusão de dor, medo e mágoa.

– Eu só queria ouvir da boca dele, uma vez apenas, se ele acredita mesmo nessa loucura. – o loiro admitiu e a fitou com os olhos azuis tão claros e translúcidos quanto os do pai, eram os mesmos. – É fraco da minha parte querer ouvir da boca do homem que me desprezou e me afastou a vida toda a razão para ele acreditar que não sou filho dele?

Série Os irmãos Backar- Amor sentido (Milady) -livro EXTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora