Prólogo

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Caríssimos ouvintes,

Esta será a nossa última emissão. O Apocalipse chegou e não há nada que possamos fazer para o parar. Monstros atacam o mundo. São invencíveis. São incansáveis.
Não se pode parar o Apocalipse.
Há vários abrigos espalhados por todos os países, desenhados para impedir a entrada dos Monstros. Há uma chance de sobrevivência, pelo menos durante alguns dias, meses talvez. No entanto, 1 em cada 10 abrigos têm uma outra função: achar pessoas capazes de parar o Apocalipse. As entidades governamentais assumem que é impossível mas não podemos desistir. Mesmo sem saber de onde veio este Apocalipse nem como para-lo, não vamos desistir.
Dentro de 5 segundos receberão uma mensagem com a localização exata do abrigo mais próximo. Arranjem suplementos o mais rápido que conseguirem e vão para lá de imediato. Esqueçam a família, os amigos, os animais.
Fujam enquanto podem.
A Rádio MundoFm agradece por vos ter tido como ouvintes.
Vemo-nos noutro mundo ou no Paraíso, se ele existir.
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- Mãe atende mãe por favor...
O telemóvel caiu pela terceira vez das mãos de Lyssa. Deu um guincho de frustração, olhando para as mãos que não paravam de tremer. Apanhou o aparelho e ligou ao pai, que também não atendeu. Respirou fundo, sem conseguir acreditar. Os seus pais não. Eles não.
O dia começara normalmente. Acordara, feliz e contente no momento em que os pais iam a sair. Despedira-se deles alegremente, demorando-se a abraçar a mãe. "Porta te bem minha menina especial." dissera-lhe, fazendo a rapariga rir; " Só vou ficar um dia sozinha em casa, não vou destruir nada" gracejara e a mãe sorriu.
E assim fora. Música em altos berros, dança e muito riso até à hora em que olhara para o céu; em vez do azul brilhante característico do céu de Verão, um vermelho cor de sangue preenchia o ar e do Sol nem sinal. As ruas estavam demasiado calmas, o que era assustador. O barulho da rádio a ser sintonizada chamara-a à atenção e o alerta que a Rádio MundoFm incendiara-lhe os nervos. O Apocalipse chegara. É ela estava sozinha.
Imersa em pensamentos, a rapariga não sabia o que fazer. Fugir? Ou esperar pelos pais? Estariam eles bem?
O telemóvel tocou. Lyssa atendeu de imediato, sem sequer ver quem era.
- Mãe graças a Deus que estás bem...
- Ly, sou eu a Channel.- interrompeu uma voz feminina que Lyssa conhece bem- Eu e o Thomas estamos à porta da tua casa. Estamos à tua espera. Temos de ir para o abrigo.
- O Thomas?- Lyssa engoliu em seco, feliz pelo amigo estar bem-Ele está bem? E as vossas famílias, estão com vocês?
Fez-se silêncio. Lysaa conteve as lágrimas. "Já tens 16 anos, não és nenhum bebé para chorares só porque tens medo!" pensou ela, repreendendo-se a si própria.
- Channel?
- Desaparecidos.- respondeu a amiga, num sussurro- Só me restam vocês, Ly. Por favor vamos embora.
Lyssa desligou, agarrou na mochila que preparara mal ouvira o alerta na rádio, lançou um último olhar à sua casa e saiu, sem saber a verdade.
Porque a verdade esteve lá sempre.
Eles é que não a viram.

Mão de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora