11 = A Cabana =

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Por Thomas




-Chegamos. -informa Hellaira , parando de andar.

     Dou um último passo e chego finalmente ao cume da grande Colina que eu nem sabia que existia nos tempos em que o Abrigo era apenas o Parque da Cidade. Observo o terreno à minha frente e apercebo-me que a Colina nunca foi o nosso destino e sim o prado muito verde visível apenas se se transpuser a Colina. O enorme gradeamento de arame farpado situado logo após o prado é ainda mais seguro e sei que estamos nos limites do Abrigo.

-A apreciar a paisagem , Milord ? -pergunta Collin ao meu lado , com um sorriso trocista no rosto bem barbeado.

Abano a cabeça.

-Tudo no Abrigo é frio , seco e morto. Como é que este sítio parece o Paraíso ? -pergunto , apontando para um pequeno aglomerado de flores vermelhas. -Até tem tulipas e tudo!

     Collin sorri genuinamente e forço-me a esviar o olhar , descendo a Colina atrás de Hellaira e das minhas irmãs , uma alegre e a outra demasiado séria. Uma das pedrinhas que preenchem o solo traiçoeiro da Colina solta-se e o meu pé escorrega. Solto um grito de susto mas não caio.

-Porcaria de chão. -resmungo , ajeitando o cabelo que deve estar inacreditavelmente espetado.

-Estás bem ? -franzo o sobrolho e enfrento o olhar do Caçador , a expressão preocupada dele fazendo o meu coração acelerar.

-E isso interessa ? -questiono e arrependo-me de imediato ao ver a preocupação evaporar-se , substituída pela arrogância de sempre.

-Nem um pouco. -cerro os punhos ao ouvir a resposta e fico a vê-lo afastar-se.

-Thomas ! -oiço Lyssa chamar-me e corro para junto dela , agarrando-lhe o braço desesperadamente.

-Está tudo bem ? -pergunta-me , os olhos azuis inexpressivos fixos nos meus.

     Abro a boca para responder mas a minha capacidade de falar evapora-se ao ver Hellaira erguer a mão e bater à porta. A questão é que não há rigorosamente nada no lugar onde ela tem a mão. Apenas ar. Ela repete o movimento e , para meu espanto , escuto o som característico de uma mão a bater numa porta. Vejo o ar modificar na zona da porta invisível e é como se esta se abrisse , revelando um rapaz de olhos cor de chocolate que analisa Hellaira de cima a baixo.

-Sou eu , Dominic. -Hellaira ergue as mãos num gesto de inocência. -Encontrei a Caminhante.

-E os amigos dela. -completa Collin e percebo que ele e o tal Dominic devem ter mais ou menos a mesma idade.

     O rapaz , Dominic , sai da casa que não consigo ver. Observo-o atentamente : pele cor de ouro líquido , cabelo castanho curto , barba por fazer , olhos profundos e expressão dura. As roupas de cabedal escuro são idênticas às de Collin e Hellaira , o que o identifica como Caçador. Enfrento o olhar dele sem medo e Lyssa faz o mesmo , indiferente ao medo que brilha nos olhos de Dominic ao observá-la. Por fim , os olhos dele encontram os de Channel e arregalo os olhos ao ver o mar de lágrimas manchar-lhe o rosto bonito.

-Domer ? -oiço-a murmurar , emocionada.

-Channel ? -a voz dele é profunda tal como os olhos e dou um passo em frente para o afastar de Chan mas Lyssa detêm-me , com um sorriso tranquilo no rosto.

     Sem se conter , Channel atira-se ao rapaz , os seus braços a envolver o pescoço dele com força , o rosto escondido no ombro dele , os soluços dela a chocalharem o corpo dele. Dominic abraça-a de volta , fazendo-lhe festas no cabelo e sussurrando-lhe qualquer coisa ao ouvido. O momento é tão bonito que nem Hellaira tem coragem de o interromper. Com um gesto , a Professora obriga-nos a segui-la para dentro da casa invisível , deixando Dominic e Channel sozinhos. Sigo-a relutantemente , encolhendo-me ao ver o olhar assassino que Lyssa me lança ao ver-me anda muito lentamente. Tenho medo dela às vezes , credo !

-Oh meu Deus ! -exclama Lyssa assim que transpõe a porta invisível.

     Curioso , passo pela porta que finalmente consigo ver e o meu cérebro dá um nó , incapaz de processar a enorme cabana à minha frente : uma sala gigante aguarda-nos com 5 mesas de jantar preenchidas por vários adolescentes que não reconheço. Do meu lado esquerdo , 3 frigoríficos avariados servem de despensa de onde 2 Professoras não muito velhas retiram latas de feijão e atum que parece ser a única coisa que se come aqui. No meu lado direito vê-se uma outra sala mais pequena onde um Caçador pouco mais velho que Collin treina um rapaz aloirado que reconheço de imediato. Dylan.

-THOMAS , LYSSA ! -oiço gritar e sou apertado num abraço de grupo juntamente com Lyssa. Uma alegria imensa invade-me ao ouvir a gargalhada característica de Lila , o odor adocicado de Alice , a voz fininha de Alisha. Aperteí-as a todas num grande abraço e vi Collin virar a cara , com uma pressão ácida no rosto. Soltei-as e Lyssa foi de imediato abraçada por Louis e eu por Dylan , que parece não acreditar que estamos bem.

-Santa Maria da Feira , pensava que vocês tinham sido comidos por aquela Besta !

-Mas não fomos , Dylan. -Lyssa abraça-o. -Estamos bem aqui !

-Sejam bem-vindos à Cabana. -Hellaia sorri. -Há quartos vazios na ala esquerda do andar de cima. -apontou ela para umas escadas escondidas num canto. -Vão lá em cima e escolham um para os 3.

-E depois temos as respostas que queremos ? -pergunta Lyssa , de braço dado com Lila.

     Hellaira sorriu e assentiu. Suspiro de alívio , trocando um olhar com a loira. Esta sorri fracamente mas o seu sorriso evapora-se , os olhos fixos num ponto atrás de mim.

-Ryan.... -murmura a minha irmã e viro-me para o rapaz dos olhos bicolares.

-Lyssa. -Ryan aproxima-se dela e faz questão de a abraçar mas ela retrai-se.

-Estou bem. Estou aqui. Nada mudou. -Lyssa vira-lhe as costas e dá-me a mão.

     Os olhos dela encontram os meus e vejo o lampejo de prateado no meio do azul.

     ''Tudo mudou'' penso , limpando-lhe a lágrima solitária que lhe escorre bochecha abaixo.

Mão de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora