5 =A Vaga =

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Por Lyssa




-Lyssa , bebe água e come qualquer coisa , por amor de Deus rapariga ! -exclama Louis , andando de um lado para o outro.

    Abana a cabeça e ele resmunga baixinho , saindo do dormitório com passos furtivos e batendo com a porta ao sair.

-Sabes que ele só está preocupado contigo , não sabes ? -pergunta-me Thomas , encostado a uma parede de braços cruzados.

    Encolho os ombros , fitando o chão , sem me mexer.

-Tal como nós. -diz Lila , fazendo-me uma festa na cabeça.

    Alice aperta-me a mão e eu consigo esboçar um ligeiro sorriso. Encaro Thomas nos olhos e vejo a minha tristeza refletida no rosto dele.

    Levanto-me e vou lá para fora , sem aguentar ficar junto das coisas de Channel. O Coliseu ergue-se à minha frente. Uma raiva enorme apodera-se de mim e a minha impulsividade submete-se à prudência , levando-me a caminhar em direção ao Coliseu , esquecendo o quão perigoso ele é ou o quão imoral eu estou a ser.

-Lyssa , pára.

    Olho para o meu redor , a vista embaciada pelas lágrimas que tento conter. Os meus olhos encontram-se com os de Alisha , a rapariga responsável por tratar as feridas dos sobreviventes e uma das poucas pessoas aqui dentro que tive algum prazer em conhecer.

-Não tenho feridas para tu tratares , Alisha. -informo , abraçando-me a mim própria. -Pelo menos físicas.

-Sei como te sentes e conheço o teu desespero. -diz ela , com a sua voz suave.

-Não sabes não. Devia ter sido eu. -abano a cabeça. -Ela era a minha única irmã e eu...não posso ficar sem fazer nada. Sem ter a certeza...

-Quem vai para o  Coliseu não volta Lyssa.

-Quem diz ? A ''Morte'' ? Os Professores ? -viro-me de frente para o Coliseu. -Eu vou entrar.

    A rapariga que embora seja 2 anos mais velha que dá-me pelos ombros , posicionou-se à minha frente , a mão direita a apontar o gradeamento que separa o Abrigo do Mundo Real.

-Eu também tenho uma irmã. Fora destas grandes enormes e espinhosas eu tenho uma irmã e não sei se ela está viva ou não. -os olhos dela faíscam de raiva e eu recuo , surpreendida. -Se eu te dissesse que queria ir lá fora procurá-la , tu deixavas-me ir ?

    Penso um pouco. A resposta sai-me naturalmente.

-Não. Provavelmente não.

    Ela assente secamente e vira-me as costas , deixando-me sozinha. Percebo a mensagem. Ela também não me deixa ir mas a escolha é minha. Vou ou não vou ?

-TODOS OS HABITANTES DO ABRIGO DIRIJAM-SE AO PORTÃO. -franzo o sobrolho e ''A Morte'' continua. -REPITO : TODOS OS HABITANTES DO ABRIGO DIRIJAM-SE AO PORTÃO , JÁ.

    Lanço um último olhar ao Coliseu antes de lhe virar as costas e me dirigir ao Portão , o sítio no Abrigo que mais odeio. O lugar por onde entrei e de onde ainda não consegui sair.

-O que é que se passa ? -pergunto a Thomas , que lança um olhar de morte a Jordan , cujas feições deformadas me relembram a Corrida.

-Os Professores querem-nos dizer qualquer coisa. -aponta para a frente e eu ponho-me em bicos de pés , tentando ver por entre as cabeças dos 1000 habitantes que atenderam à chamada. -Lembraste de ver um púlpito quando chegámos ?

    Abano a cabeça e presto atenção ao que o senhor de cabelos cinzentos e ar grave está a falar. Reconheço-o como sendo o Professor que me deu as boas vindas ao Abrigo , quando eu cheguei com Channel e Thomas. Faço um esforço para me lembrar do nome dele mas acabo por desistir. Oiço gritos furiosos à minha volta e apercebo-me que não ouvi nada do que o Professor disse. Ao meu lado , Thomas começa a barafustar furiosamente e eu agarro-o pelo colarinho da T-Shirt , obrigando-o a prestar-me atenção.

-Thomas o que é que se passa ? O que é que ele disse ?

-2 perdedores. -responde ele , a rosnar. -A partir de hoje , 2 pessoas que ficarem em último lugar na Corrida serão levadas para o Coliseu.

    Solto-o abruptamente , em choque. Oiço alguém rir e , de um momento para o outro , Jordan aparece caído no chão  com a mão no nariz , que sangra sem parar.

-Esta foi pela Channel seu monte de esterco. -rosna Thomas , erguendo o queixo furioso.

    Um estalo ecoa pelo Abrigo subitamente silencioso. 1000 cabeças viram-se lentamente para o mesmo sítio : o Portão.

    A minha respiração fica presa e consigo ouvir o som do meu coração a bombear.

    Deixo a respiração fluir e agarro-me a Thomas , que está tenso.

    Alguém abriu o Portão.

    Do lado de fora , o nevoeiro denso começa a tomar uma forma escura. O som rouco que dela provém faz-me tremer involuntariamente de medo.

    A forma escura começa a ficar mais nítida à medida que se aproxima : focinho de um lobo negro , olhos vermelhos , do tamanho de um prédio de 1 andar , patas enormes e garras de metro e meio.

    A besta chegou.

-FUJAM !


Mão de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora