Por Lyssa
-Lyssa....
A Escuridão do Coliseu é bem vinda. Pensar em Ryan e Thomas lá fora em perigo faz-me querer ir ajudá-los mas a escuridão impede-me de ver a saída.
Uma voz sussurra o meu nome vezes e vezes sem conta. É uma voz doce e faz-me lembrar lembrar a voz da minha mãe. SIgo a voz para dentro da Escuridão , reconfortada por aquela voz que me faz tanta falta.
-LYSSA! - uma voz diferente mas igualmente familiar grita o meu nome e viro-me na direção de onde acho que veio. Uma vela acende-se ao meu lado , iluminando uma parede de pedra negra manchada de vermelho.
Manchas não ; letras.
Grandes letras escritas a sangue.
-LYSSA ! - grita Thomas novamente , em pânico.
Outra vela acende-se no lado oposto ao da primeira , deixando ver o túnel escuro onde me encontro. Respiro fundo e digo , sem despregar os olhos da frase escrita na parede.
-Estou aqui Thomas.
Oiço passos e a silhueta magra e razoavelmente atlética do meu amigo começa a ganhar forma. Assim que ele me vê , a expressão dele suaviza e ele abraça-me fortemente.
-Como te sentes ? -pergunta.
Reviro os olhos ao perceber o motivo da preocupação dele.
-Já te disse que já não me sinto atraída para aqui. -informo , embora não seja verdade.
Ele abre a boca para protestar mas repara finalmente na parede escrita. As palavras há minha frente não me assustam mas há algo de familiar nesta situação.
-A letra. -sussurro , tocando ao de leve na parede. - É a letra da Channel.
-E porque raio haveria ela de escrever isto ?
Olho para a parede e uma onda de tristeza atinge-me.
A MORTE APANHOU-ME.
Viro as costas à frase da parede e sigo a Escuridão , ignorando os protestos de Thomas. A voz doce continua a chamar-me , levando-me mais e mais para dentro da Escuridão. Atrás de mim , Thomas segura uma das velas o mais firmemente que consegue. A chama da vela ilumina as paredes do túnel mas não é a luz que eu quero ver.
-Lyssa...
-Lyssa vamos embora. -Thomas aproxima-se de mim , tentando esconder o medo estampado na cara. -A Besta já se foi embora e não há nada aqui , só escuridão...
O túnel termina. Um vento gelado arrepia-me a pela e Thomas pára de falar , levantando a vela ao alto para ver o enorme espaço escuro que se estende à nossa frente.
Dou um passo. Outro. Thomas não se mexe. Dou o terceiro passo e luzes fortes atingem-me os olhos , cegando-me momentaneamente. Tapo os olhos com as mãos e espero um pouco antes de voltar a destapá-los lentamente , obrigando-os a habituarem-se à luz excessiva.
-Isto é que é o Coliseu ? -pergunta Thomas , incrédulo.
O espanto emudeceu-me e tudo o que consigo fazer é admirar o que outrora foi um estádio de futebol : as bancadas perfeitamente alinhadas com as suas cadeirinhas esburracadas e partidas , duas balizas em cada ponta do campo , sem rede e enferrujadas pelo tempo. Não há relva e sim chão feito de uma espécie de areia negra , dura nuns sítios e moles nos outros.
Parece um velho estádio de futebol , não fosse pelo chão e pela estátua posicionada exatamente no centro do campo , feita do mesmo material que o chão. Tem um formato esquisito , como se estivesse a gritar e a derreter ao mesmo tempo. Vejo Thomas aproximar-se dela e faço o mesmo , apresando-me ao vê-lo empalidecer. Posiciono-me frente a frente com o rosto da estátua e solto um grito de puro horror ao reconhecer as feições da estátua.
-Channel... -murmuro , rouca , as lágrimas a escorrerem abundantemente. -Minha irmã....
Ela gritava , a boca escancarada , os olhos arregalados de terror. Gritar de medo foi a última coisa que ela fez antes de ser petrificada. A estranha areia que a cobre liga o seu corpo ao chão , o que me impede de atirar daqui. Thomas aproxima-se de mim e abraça-me , os soluços dele ecoando os meus.
-Vamos embora Lyssa. -sussurra-me ele ao ouvido , com a voz embargada.
-NÃO ! -grito , afastando-me dele bruscamente. -Não a podemos deixar aqui Tom. -aproximo-me de Channel e toco-lhe na mão. -Ajuda-me a levá-la , por favor...
Um baque seco faz-me dar um salto de susto. Olho para o chão e vejo o corpo sem vida de Channel completamente livre de areia mortífera. Ajoelho-me ao lado dela e observo o rosto familiar , a pela branca com laivos azuis frutos da Morte , os olhos fechados e que nunca mais se voltarão a abrir.
Thomas ajoelha-se ao meu lado. Num gesto de carinho , o rapaz põe-se a ajeitar o cabelo da nossa irmã , desemaranhando os fios negros cobertos de terra. Uma estranha apatia abate-se sobre mim e a voz doce recomeça a chamar-me vezes e vezes sem conta. Sei que Thomas já se levantou e me chama mas não ligo.
Vazio. É tudo o que sinto.
Algo brilhante chama-me à atenção. Uma Espiral de luz dourada que não estava ali antes no peito de Chann , no lugar onde o coração bateria. Por alguma razão , sei que essa luz deveria ser mais brilhante , mais...viva.
-Consegues ver Thomas ? -pergunto e oiço-o ao longe dizer que não. -Eu vejo. É como se fosse a Espiral da vida.
-A Espiral do quê ? -questiona-me Thomas , julgando-me maluca. -Lyssa , tu estás bem ?
Assinto positivamente , sem desprezar os olhos na Espiral de vida da Channel. -Ela pode viver. - murmuro , aproximando um dedo da luz dourada , que se tornou incandescente ao fazê-lo. -Vês a luz ? Está mais brilhante !
-Lyssa , estás a assustar-me.
Toco no fio espiralizado e observo com atencão ao ver a cor regressar ao seu rosto.
A espiral desenrolou-se , tornando-se um fio comprido que ligava o coração à cabeça. Uma estrada de vida.
-Eu sou a Caminhante. -murmuro , inconscientemente , vendo o fio desaparecer lentamente e a rapariga a que chamo de irmã abrir os olhos inundados por uma luz dourada que só eu vejo.
-Lyssa ? -pergunta Channel , a voz dela tão familiar. -Thomas ?
Thomas desmaia e Channel olha em volta , já com os olhos na sua cor original. Eu limito-me a ficar ali , sentindo a Escuridão puxar-me e apagar os vestígios da luz que apenas eu consegui ver.
''Eu sou a caminhante '' foi o que eu disse antes de trazer Channel de volta à vida.
O que raio é que isso quer dizer !?
E como raio é que eu reverti a Morte !?
-Afinal a Morte não me apanhou. -suspirou Channel , a sorrir.
Fechei os olhos.
''Pois não. Quem a apanhou fui eu '' .
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Mão de Sangue
Mystery / ThrillerO Apocalipse chegou. Monstros tomaram conta do mundo e apenas o Abrigo é seguro. Mas A Corrida existe e A Morte é implacável. Três adolescentes. Um Abrigo. O Apocalipse. O Mundo de Antes. Uma Mão de Sangue. A Verdade estava lá sempre. Eles é que não...