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Ed's P.O.V.

Hoje decidi folgar um pouco a Abigail e fiquei eu a arrumar as coisas por aqui. Não é que haja muito que fazer, mas quanto mais tiver para me entreter menos penso na minha triste vida. Com que lata é que ela vem ter comigo um ano depois e me diz que eu nunca a procurei?! Ela simplesmente fugiu de mim e nunca mais tivemos contacto porque ela me evitou ao máximo! Nunca mais veio trazer ou buscar a filha, a pobre Emma ia sempre de boleia com uma baby-sitter qualquer... Enfim, maldito seja o dia em que nos conhecemos!

Dou uma volta pela sala de convívio e pela cozinha, parece tudo em ordem, mas não resisto em tocar um pouco de piano.

Quando dou por mim já é 1h da manhã e tenho umas 10 chamadas do Wilson. Pego no casaco e fecho a porta.

Uns passos à frente passo por um beco que de dia consegue ser minimamente normal, mas nunca o tinha visto por esta perspetiva... De repente ouço gritos e risos ao mesmo tempo, o que me faz parar mesmo à entrada do beco. Por momentos não percebo o que se passa.

"Por favor, para, por favor!.." Grita uma voz feminina.

É então que me aproximo vagarosamente, um pouco assustado, confesso. Vejo dois vultos, sendo notória agora a presença de um homem e de uma mulher. Já não há que enganar. Como é que alguém consegue obrigar outrém a fazer uma coisa assim?!

"Hey! Larga-a!" O vulto masculino volta-se para mim, vejo que está montado sobre a pobre mulher "Não ouviste o que eu disse? Além de porco és surdo?!" corro para lhe saltar em cima mas ele foge a sete pés. Seria de esperar uma reação destas de alguém que viola uma mulher, um cobarde qualquer que não quer ser identificado.

Vejo a mulher deitada no chão e aproximo-me. Ela está meia despida meia vestida, a chorar, mas não consigo ver-lhe o rosto ou se está ferida.

"Desculpa..." aproximo-me dela e a reação é encolher-se no chão onde se encontra "Ele foi-se embora, vem comigo!" tento levantá-la com cuidado e ao tocar-lhe sinto feridas nas suas costas através da roupa rasgada, ouço o choro agora meio que abafado e percebo que ela não consegue mexer-se, está provavelmente em choque. Pego-lhe ao colo com o máximo de delicadeza que o momento e o local permitem para a tirar daquele sítio e transporto-a até ao infantário, que não fica muito longe.

Deixo-a apoiada nos meus ombros enquanto abro a porta e encorajo-a a andar pelo próprio pé até ao interior. Ajudo-a a sentar-se numa das cadeiras do refeitório.

"Fica aqui que eu já venho, aqui ficas em segurança."

Vou até à cozinha e tento preparar qualquer coisa quente, e lembro-me daqueles chás que eu e a Abigail temos colecionado por todos os armários. Vou até à sala da sesta e trago umas mantas e uns cobertores até ao refeitório, onde se encontra a mulher a tremer e a chorar. Depois de a cobrir, acendo a luz mais ténue do refeitório para que se sinta o menos exposta possível. É assim que lhe vejo a cara e percebo que não a conheço de lado nenhum.

Observo-a a tremer e é então que olha para mim.

"Tem calma, agora estás bem" tento fazer um sorriso e ela abana compulsivamente com a cabeça a dizer que sim mas agora de olhos postos no chão "Vou buscar-te um chá quente, vai fazer-te bem"

Ouço o choro de novo assim que entro na cozinha para colocar a saqueta de chá numa chávena de água a ferver. Feito isto, tento fazer uma chamada o mais breve que consigo para o Wilson.

"Estou, Ed? Onde raio te meteste? Está tudo bem?!" ele soa aflito e por isso não adianto pormenores.

"Não te preocupes, está tudo bem comigo, mas por favor vem buscar-me ao infantário!"

"Ok ok, manda-me a morada e chego assim que puder"

Acabada a chamada mexo a saqueta de chá para cima e para baixo e retiro-a da chávena.

Sirvo mas ela não lhe toca.

"É de camomila, vai fazer-te bem."

Ela encolhe-se e limpa as lágrimas a uma das pontas do cobertor.

"Diz-me alguma coisa por favor, eu também não sei muito bem o que fazer"

"Obrigada..." ela diz baixinho e com a voz muito trémula.

Está com a cara cheia de marcas, cheia de feridas e golpes abertos, os cabelos desgrenhados... Parece extremamente nova... O que faria ela ali a esta hora?... Ah, é verdade, vamos lá enviar a mensagem com a morada.

"Já pedi para nos virem buscar, onde é que moras?"

"Eu não quero voltar para lá" mais uma vez a voz está carregada de medo

"Como assim? Não queres que te leve a casa, não tens família ou assim com quem ficar?"

"Eu fugi de casa... Eu... Eu já não sei dos meus pais há algum tempo... Estou a cargo duma pessoa mas não quero voltar..." já não percebo nada...

"Desculpa a pergunta, mas o que estavas a fazer naquele sítio a estas horas da noite?" tento perceber um pouco mais

"Eu..." ela chora "...eu ...aquele homem..."

"Calma, eu só te quero ajudar! Mas preciso de saber como..." tento encoraja-la.

"Ele ia-me pagar..." não acredito "tinha sido planeado ao início, mas eu não sei lidar muito bem com isto e arrependi-me assim que ele me trouxe para ali, e ele começou a... senti tanto nojo!" ela fala e chora aos berros e eu só consigo sentir pena dela.

"Pronto, já passou." Chego a chávena novamente até ela.

"O que vou fazer agora?..." ela murmura

"Agora vens comigo e com um amigo que nos vem buscar, amanhã pensamos no resto" ela finalmente envolve a chávena de chá com as mãos "Só mais uma coisa" ela olha para mim puxando com uma mão o cobertor para mais perto e continuando com a outra na chávena e fungando o nariz "Como te chamas?"

"Charlotte"

"Edward"

"Muito obrigada, muito obrigada do fundo do coração" dito isto leva a chávena até aos lábios feridos.


Growing Up - Ed Sheeran Fanfiction (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora