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Ed's P.O.V.

A Charlotte entra e eu não arredo pé. Ficamos os três no gabinete, eu, a Charlotte e a Victoria. Dá pena só de olhar para ela... Tem a face ferida, cheia de cortes e nódoas negras...

"Charlotte, certo?" a Victoria tenta fazer um sorriso "O Edward contou-me por alto o que se passou e como te encontrou, mas gostava de ouvir pelas tuas próprias palavras, não te importas?" diz isto enquanto posiciona a cadeira para que ela se consiga sentar, e ela está claramente retraída.

"Eu não sei se..."

"Querida, ouve-me." Elas olham-se nos olhos "Eu sei que não é fácil expormo-nos assim... Sei que te sentes envergonhada e que só querias encontrar um sítio em que só houvesse espaço para ti... Qualquer lugar no mundo seria melhor desde que tivesses a certeza de que ninguém te julgaria, ninguém apontasse o dedo ou pensasse que sabia todos os teus motivos quando na realidade não sabe nem um terço daquilo pelo que passaste..." Como é que ela consegue?

"Se acha que sabe só porque é mulher e... Edward, eu não quero..." ela agarra-se ao meu braço.

"Eu já fiz o mesmo que tu." Diz a Victoria repentinamente e a Charlotte fica com um ar simplesmente... igual ao meu, acho...

"Quer dizer que..."

"Quer dizer que sei o que é não ter nada nem ninguém e saber que a única chance é aquela que mais nos repodia..." ouço-a respirar fundo "Também já me prostituí." E é assim que sinto os pilares de tudo aquilo em que acreditava e julgava certo e real a ruírem. Mas continuo simplesmente a ouvir ambas. A Victoria olha de relance para mim como quem se quer certificar de que ainda me encontrava ali. "Bom, a história é longa..." ela faz uma breve pausa e os olhos da Charlotte brilham como quem quer ouvir tudo e mais alguma coisa "os meus pais morreram num acidente de avião quando eu tinha 18 anos... Tinha e tenho um irmão mais novo para sustentar e a única forma de não passar fome e o manter a estudar foi essa mesmo... Dar o meu corpo a estranhos em troca de dinheiro..." ela olha para baixo por breves segundos e continua, e eu quero muito que ela continue "O dinheiro não era problema quando tinha uma família, e eu e o Steve demo-nos sempre bem mesmo sendo filhos de pais diferentes" ela olha para mim "essa é outra parte da minha história, o meu pai biológico é um fantasma para mim, nunca o conheci, não sei se é vivo ou morto, mas isso agora não é a parte mais importante!" sinto-me em frangalhos "quando eles morreram o único tio que tínhamos conseguiu enganar-me e ficar com todo o dinheiro dos nossos pais... Ficamos apenas com a casa e com o que nela havia mas rapidamente tive que a vender por uma ninharia" vem à minha memória a noite em que fui jantar a casa dela e o episódio da garrafa de Whisky "depois não fui violada, mas apaixonei-me pelo meu... Padrinho, Chulo, o que lhe quiseres chamar, e engravidei dele... Tive que fugir dele, ou então ficava sem o meu bebé, por isso foi isso que eu fiz..." Emma!

"Como é que conseguiste?.." pergunta a Charlotte com os olhos a tremelicar

"Encontrei em Soho pessoas maravilhosas, capazes de me ajudar a recomeçar a minha vida, tal como tu encontraste o Edward" ela olha-me de novo "Tiveste muita sorte e acho que depois do que te contei não vais querer desperdiçar a oportunidade que tens de saltar fora, estou certa?.."

"Eu não posso voltar para casa dos meus pais... Fugi deles há quase um ano..."

"E que outra hipótese tens?!" a Vic pergunta elevando o tom de voz "Nenhum pai ou mãe perde um filho e deixa de o procurar! Eu não aguentaria perder a minha filha!" vai até à carteira e tira uma foto que passa para as mãos da Charlotte, consigo ver a pequena Emma a sorrir sem os dois dentes da frente, a foto deve ter pelo menos um ano e acho que foi tirada no infantário "Esta é a Emma, a minha pequena. Se eu a perdesse... Revirava o mundo à procura dela, nem que morresse a tentar... Tenho a certeza que os teus pais ainda não desistiram de ti!"

A Charlotte desata a chorar e eu abraço-a. Não consigo pensar que estive este tempo todo sem saber de nada, sem saber porque raio esta mulher era tão fechada, tão fria e distante! Agora é tudo claro como água e mesmo assim sinto-me perdido num labirinto do inferno do qual não sairei o mesmo.

"Achas que posso contactar uma assistente social para encontrar os teus pais?.. Ela chora mais alto enquanto acena com a cabeça.

"Assim o farei" ela pega no telefone fixo e marca um número "Sim, Natalie? Pode marcar uma entrevista com os serviços sociais? (...) Para quando? O mais rapidamente possível. Muito obrigada, com licença." Desliga a chamada que percebi agora ter sido feita para a secretária. "Prometo-te que vai tudo melhorar daqui para a frente..." agora ela faz-me sinal para sair "Fica aqui o tempo que precisares e sai quando te sentires à vontade, nenhuma mulher gosta de chorar em público" ela abraça-a e ambos saímos.

Cá fora encontramos o Wilson que se levanta da fileira de cadeiras de espera mal nos vê.

"Então, o que decidiram?"

"Bom, acho que conseguimos resolver tudo pelo melhor" a Victoria olha para mim com aquele ar comprometedor "pedi uma entrevista com uma assistente social para o mais brevemente possível, mas por enquanto acho que ela se sente bem com vocês e vê no Ed uma espécie de salvador" sinto uma certa ironia na sua voz "Por isso se não se importarem de a manter em vossa casa enquanto não encontramos os pais... Seria bom para todos! Se precisarem de roupas femininas eu arranjo qualquer coisa."

"Claro, sem problema!" diz o Wilson prontamente "Eu vou andando para o carro, boa sorte Edi, mas não me faças esperar muito" ele dá-me uma paulada nas costas e põe-se a andar.

Ficamos os dois um em frente ao outro, só eu e ela, num raio de apenas 2 metros é um facto, mas parece a oportunidade perfeita para falar daquilo que nos afastou no último ano.

"Vic?" ela olha para mim "Porque não me contaste logo?"

"Essa teve piada Edward!.. Se calhar devias chamar a Charlotte, o Wilson está à espera." Ela vai a virar costas mas eu não o permito agarrando-a pelo braço "Estamos no meu local de trabalho!"

"Pois, mas isso agora não me interessa nada." Puxo-a mais para mim e falo a sussurrar "Eu podia dizer que teria sido mais fácil se nos conhecêssemos melhor antes de fazermos aquilo que fizemos, mas tu nunca o terias permitido. De uma forma ou de outra sentiste-te sempre insegura porque achavas que todos te julgariam, tal como disseste ali dentro. Mas nem toda a gente corresponde àquilo que pensas, e podias ter posto a hipótese de eu ser uma pessoa que estaria disposta a estar contigo simplesmente por aquilo que és e não pelo que foste ou fizeste."

"Edward, eu vivo envergonhada desde os meus 18 anos! Sabes o que isso é?"

"Podia ter sabido se quisesses contar-me!" os nossos narizes estão quase a tocar-se e ouve-se uma porta a bater. A Charlotte saiu do gabinete.

"Acho melhor irem andando" ela desprende o braço "Eu depois ligo quando souber alguma coisa sobre a entrevista com a assistente social. Boa sorte Charlotte." Ela devolve-me um último olhar e fecha-se no gabinete.

"Vamos embora daqui por favor!" pede a Charlotte.

"Sim, claro." Digo sem tirar os olhos da porta a fechar-se.

Growing Up - Ed Sheeran Fanfiction (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora