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Depois da morte do meu pai, a minha mãe, Suzan, voltou a casar e decidiu que devíamos ir viver para um sítio longe da nossa tribo que vivia na Floresta Amazónica.

Sou diferente de todas as pessoas com quem ando na escola. Por fora, sou tal e qual uma humana mas, por dentro, escondo um grande segredo.

No meio das florestas, onde quase ninguém vai, vivem os Guardiões, pessoas pertencentes a diferentes tribos que nascem com um poder e, a partir dos treze anos, adquirem a capacidade de voar. Eu tenho o poder de controlar parte da Natureza e os animais, a minha mãe diz que é um dom raro e especial.

A minha mãe casou com um Semi-Guardião, que pertence a uma tribo diferente da nossa, meio humano, meio Guardião, e isso não é bem visto pelas pessoas como nós... Praticamente fomos excluídas da tribo e proibiram-nos de voltar à floresta ou sofreríamos o castigo do Ceptro de Fogo. Este ceptro, é de tal modo poderoso que pode tirar os poderes a todos os que os tiverem.

Vamos morar para Portugal, onde vive o seu novo marido, um país situado na ponta sudoeste da Europa. Apesar da sua pequena dimensão, o país está repleto de belíssimas paisagens, desde montanhas verdejantes e planícies douradas a belos vales fluviais e quilómetros de praias banhadas pelo sol e pelo Atlântico.

A casa para onde nos mudamos é grande e o jardim enorme. Mal acabamos de chegar e a minha mãe começou já a preparar o jardim. Ela adora a Natureza. É normal, todos os Guardiões vêm de uma floresta e a Natureza é a sua própria casa. Pedi à minha mãe que me deixasse decorar o meu quarto e ela aceitou.

A casa é bastante grande e apanha sol durante todo o dia. Revesti todo o meu quarto com orquídeas e rosas, as minhas preferidas. Sempre que entro nele, um delicioso odor vem ter comigo.

Esta noite, vamos receber visitas. O Carl, o novo marido da minha mãe, convidou uns amigos para jantar e planeou uma pequena festa para que eu e a minha mãe nos sentíssemos bem na nossa nova casa. Ele é bastante extrovertido e trata-me bem. Além disso, é apaixonadíssimo pela minha mãe e faz tudo por ela.

Os convidados também são da nossa espécie, um casal jovem que tem um filho da minha idade. Ouvi o Carl e a minha mãe dizerem que seria bom eu ter relacionamentos com rapazes da minha idade e que o filho dos Oliveira era bom rapaz.

- Não quero ter namorados agora! - disse bastante irritada à minha mãe.

- Não te estou a pedir para seres namorada dele, apenas que te dês bem com ele. Sabes muito bem que para seres considerada uma mulher pelos Anciãos, tens de te casar.

Mais um discurso que sabia de cor. As Guardiãs, só passavam a ser vistas como mulheres quando realmente tinham um companheiro e se casassem...

- Mãe, já sei tudo o que me vais dizer mas agora não tenho paciência. Amanhã é o meu primeiro dia de escola e quero deitar-me cedo. Não contes comigo para fazer uma grande festa, janto, fico um pouco mas depois vou para a cama...

- Está bem, mas tenta ser simpática.

Os convidados chegaram. Maria, era uma mulher bastante morena, alta, magra e muito bonita, o Michael, era também um homem alto e magro de cabelos ruivos. O seu filho, Johnatan, era um jovem moreno como a mãe, alto e musculado.

- Como estão? Há quanto tempo não nos víamos! - cumprimentou Carl.

- Estamos bem - respondeu Michael - que menina tão bonita aqui tens, Suzan, parabéns.

- O seu rapaz também é muito bonito - disse a minha mãe toda sorridente. Ela é muito simpática, cria relações com toda a gente...

- Então? Fazem-nos uma visita guiada? Era capaz de me perder se vivesse numa casa assim! - gracejou Maria.

- Claro, a sala é por aqui. Venham!

A sala, também ela muito grande, tinha no centro uma grande mesa de jantar e, do lado, havia uma bela fonte, de onde jorrava uma água tão cristalina que nos podíamos ver tão bem como num espelho.

Depois de jantar, fomos para o jardim. A minha mãe pôs um pouco de música para animar a festa e os mais velhos envolveram-se numa dança tão elegante que pareciam bailarinos profissionais debaixo do céu estrelado.

Fui para perto do lago. Não me apetecia falar com o Johnatan. Tinha muitas saudades de casa para falar com quem quer que fosse...

- Gostas de estar sozinha? - perguntou-me Johnatan que veio ao meu encontro.

- Desculpa, apenas quero estar sozinha, estou a ter um dia mau...

- É por causa da mudança de casa? Eu já passei por isso. Eu e o meu pai vivíamos na Floresta do Congo e, quando conheceu a minha mãe, decidiu vir morar para aqui. Odiei a decisão, a floresta era, para mim, o melhor sítio do mundo.

- Ao menos conheço alguém que me pode compreender...

- Depois vais habituar-te, contudo, tens de ter em atenção que aqui já não estamos tão seguros como na floresta. Aqui, somos vulneráveis... O perigo espreita ao virar da esquina e o nosso segredo não deve ser revelado aos humanos!

- Vou seguir o teu conselho... - não obstante o meu pensamento ainda se encontrava um pouco longe.

Começamos a conversar e, por fim, até fiquei mais tempo do que pensava. As horas passaram e conversávamos alegremente.

-São horas de irmos, Johnatan, tens que te deitar. Amanhã vais para a escola...

- Sim, mãe!

- Para que escola vais? - perguntei intrigada.

- Na verdade vou para um colégio privado...

- Oh! Que pena não ires para a minha. Vou ter de me desenrascar sozinha...

- Não é tão mau quanto parece, vais ver que te habituas num instante.

- Bem, também me vou deitar. Perdi a noção das horas e amanhã vou estar de rastos se não for dormir.

- Então, até uma próxima - levantou-se e dirigiu-se para dentro de casa.

-Adeus... - murmurei.

Quando cheguei ao quarto, a minha mãe estava sentava na minha cama.

- Então sempre não te vieste deitar cedo? - perguntou num tom trocista.

- Perdi a noção do tempo! Amanhã vou estar de rastos, bom começo...

- Ele é simpático, não é? Eu bem te disse...

- É um amigo, mais nada!

- Vou deixar-te dormir. Lembra-te que tens de dizer na escola que vens de uma cidade perto da floresta e não da floresta em si.

- Sim, mãe. Beijinhos, até amanhã.





A Guardiã do Medalhão SagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora