*29*

69 7 1
                                    

Frio e neve.

Há minha volta, um enorme manto de neve recobria toda a paisagem. Estava no meio de um enorme bosque. O ar estava gelado e os meus dentes tiritavam. Tinha o coração quase a explodir e o corpo cansado. Estivera a correr.

A neve caía-me sobre os ombros, arrepiando-me ainda mais. As minhas mãos doíam de tanto frio e o ar gélido estava a congelar-me o corpo.

Passos ecoaram à minha volta e ouvi gritos de terror. Por mais que me virasse e tentasse detetar a origem dos barulhos, não conseguia ver nada. Estava completamente só.

«- E se este fosse o teu último dia, Rose, o que farias? Gostarias de voltar a ver a mamã?» - um eco terrível invadiu a floresta, seguido de gargalhadas maléficas.

A neve à minha volta começou a tornar-se da cor do sangue; e, das árvores, fios de sangue escorriam.

«- E se não fosses tão boazinha como pensas? O que diria a tua mamã se soubesse que te irás tornar num ser das trevas?»

O meu sangue gelou enquanto o eco destas palavras ressoava na minha cabeça. O que significava tudo isto? Queria acordar. Acabar com este pesadelo e afastar de mim esta voz horrível que me perturbava.

«- Em breve, juntar-te-ás a todos nós. Irás servir o teu pai e esquecerás que algum dia o teu coração existiu. O momento está a chegar. Estou ansioso! Vem comigo, Rose, aceita o teu destino. Não há nada que possas fazer para fugir, o teu futuro já foi decidido. Eles estão a enganar-te, não podes fugir de nós. Já estiveste longe de mim tempo suficiente. Vou trazer-te para junto de mim. É uma promessa.»

Uma última gargalhada ecoou no ar. Dei um pulo. Estava agora acordadíssima e ainda sentia o corpo regelado. Aconcheguei-me ainda mais nos cobertores na tentativa de me aquecer.

No exterior, algo se mexeu. Estava alguém a aproximar-se do celeiro. Tentei respirar o mais baixo que consegui e encolhi-me o mais que pude no meu canto. Pequenos passos se fizeram ouvir no silêncio da noite. A porta de madeira abriu-se delicadamente, sem qualquer ruído. Alguém não queria ser apanhado. A escada de madeira pela qual subi rangeu. Alguém estava a subi-la. O meu coração começou a bater descompassadamente e preparei-me para lutar.

- A menina está acordada? - era a voz de uma criança.

- Quem és tu? - murmurei.

- O filho dos donos da casa. O meu nome é Luís. Podemos falar?

- Sim, vem. Está frio.

Dei ao rapaz um dos meus cobertores e ele veio encostar-se a mim.

- Ouvi os meus pais falarem sobre ti. É verdade que és a rapariga que vai libertar a Dora, a empregada do Duque?

- Sim, sou. Pelo menos vou tentar...

- A sua história é muito conhecida aqui na aldeia. A Michelle era uma das pessoas mais adoradas aqui. Foi ela quem criou este mundo e o protegeu com o portal. Costumava vir para aqui sempre que necessitava de refletir e de se acalmar. Quando o Lucas morreu, ela deixou de aparecer. Diz uma lenda que, após a sua morte, ela foi enterrada aqui. Tu fazes parte dessa lenda... - os seus olhos brilhavam de entusiasmo - És tu a rapariga destinada a acabar com a maldade do Duque. Irás trazer uma grande paz, tanto a este mundo como à aldeia onde estiveste até agora. Os meus pais vão ajudar-te. A minha mãe vai visitar a caverna dos antigos, para tentar obter respostas dos espíritos, e o meu pai vai convocar uma reunião na praça da aldeia. Tudo tem de ser tratado com rapidez e discrição. Se o Duque descobre que aqui estás todos poderemos morrer.

- Irei fazer de tudo para o conseguir. Sabes o lugar onde está a Michelle?

- Não, acho que ninguém sabe... Mas vamos ajudar-te. Posso mostrar-te um sítio?

A Guardiã do Medalhão SagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora