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Enquanto regressava a casa, tentava imaginar como seria suicidar-me e como seria isolar-me de todas as pessoas. Acho que não seria capaz de tal coisa.

De súbito, um arrepio passou-me pela espinha e tremi ao voltar a passar pela velha casa de onde vinha aquele veneno. Pedi ao taxista que me levava a casa para me deixar ali e decidi ir bater à porta.

- Quem é? - a mesma voz rouca ouviu-se atrás da porta.

- Desculpe mas estou a fazer um trabalho para a escola e gostaria de lhe fazer algumas perguntas...

- Tu outra vez?! - ao ver-me, a mulher pareceu querer bater-me com a vassoura que tinha na mão.

- Desculpe, mas preciso mesmo de toda a informação do bairro. Peço imensa desculpa se, no outro dia, a importunei, minha senhora.

- Quem pensas que estás a enganar? Conheço muito bem o teu tipo de gente, só queres saber coisas que nada têm a ver com a escola. Posso ser velha mas não sou burra!

Afinal, isto ia ser mais difícil do que aquilo que pensava. A mulherzinha era um osso duro de roer! Definitivamente, ela não confia nada em mim. Tinha de arranjar uma solução. Afastei-me e caminhei em direção a casa, em passo lento. Sentia-me frustrada e precisava de desabar com alguém. Decidi ir a casa de Joana.

Ao chegar a sua casa, não pude deixar de ficar espantada ao ouvir gritos no interior. Hesitei um pouco antes de tocar à campainha mas, por fim, decidi fazê-lo para perguntar se estava tudo bem.

- Quem está aí? - por trás da porta uma voz tremida fez-se ouvir.

- O meu nome é Rose, sou amiga da Joana...

- Joana! - nesse momento reconheci a voz da mãe de Joana - É para ti, anda lá que ainda tens muito que embalar.

Joana veio à porta com uma cara pálida e os olhos vermelhos. Via-se que tinha estado a chorar.

- É melhor subirmos para o meu quarto... - pela sua voz podia perceber-se que estava muito abalada.

- O que se passa? - perguntei quando cheguei ao seu quarto e vi todas as coisas de Joana no chão. Os móveis estavam esvaziados e, no quarto, havia uma desordem enorme. No meio da imensa confusão consegui ver, por cima da cama, uma mala de viagem.

- Os meus pais querem mudar de casa, querem ir para longe. Acham que eu me estou a dar com más influências e não gostam nada do Mike. O meu pai proibiu a minha mãe de o deixar entrar aqui em casa. Hoje, o Mike apareceu aqui e a minha mãe deixou-o entrar pois achou que eu merecia, ao menos, despedir-me dele - deu um soluço e, depois de um momento de silêncio, continuou - Quando disse ao Mike que nos íamos separar ele ficou louco, atirou com tudo e gritou... Gritou como se o estivessem a torturar. Depois saiu daqui a correr. Tentei ligar-lhe até agora mas ele não atende as minhas chamadas... Rose, devias ver como ele saiu daqui, só espero que não faça nenhuma loucura...

- Ele não vai fazer loucura nenhuma. Não podes mudar de casa assim tão de repente, euu preciso de ti. Todos precisamos de ti. Vamos resolver esta situação. Agora, tenho mesmo de ir embora, os meus pais não sabem que estou aqui e se descobrem matam-me - pisquei o olho a Joana - Ficas bem?

- Sim, vai lá.

Fiz a viagem de regresso a casa num instante, tinha em mente ir falar com a minha mãe. Ela já devia saber que eu não estava em casa devido ao seu poder mas, ao saber porque o fiz ela vai, de certeza, ajudar-me.

Quando cheguei a casa, entrei pela porta principal como se daí tivesse saído e chamei a minha mãe. Pouco depois, ela apareceu vestida com a sua linda camisa de noite preta e com o cabelo despenteado.

- Diz-me o que me queres perguntar. Sinto que é urgente.

- Mãe, preciso que vejas uma coisa por mim com o teu poder.

- Uma coisa?! Que coisa?

- Preciso que vejas onde está este rapaz - tirei o meu telemóvel do bolso e mostrei à minha mãe uma imagem de Mike e Joana juntos - é muito urgente! Preciso de saber se ele está bem e o que está a pensar fazer. Concentra-te, por favor.

- Espera um momento... - passaram dois minutos e a minha mãe levantou-se de um salto - Rose! Ele está em casa com uma enorme quantidade de comprimidos à sua frente. Ele vai suicidar-se!

Nesse momento, saltei do sofá onde nos tínhamos sentado e corri para a rua. Com a cabeça a ferver, levantei voo, sem sequer pensar se alguém me podia ver, e tentei lembrar-me de onde era a casa de Mike. Uma tarde, depois das aulas, a Joana disse-me onde ele morava e foi para lá que voei. Deviam ser quase seis da manhã e o dia não ia tardar a levantar-se. O céu ainda um pouco escuro encobria a minha corrida louca contra o tempo.

Ao chegar a casa de Mike, bati com todas as minhas forças na porta da frente.

- Mike! Mike! Estás aí? Eu sei que sim, abre a porta! Mike, por favor!

O silêncio que vinha de dentro da casa enlouquecia-me e eu tremia mais do que uma folha ao vento.

- Mike! Abre a porta! - gritava a plenos pulmões mas ele parecia não ouvir ou então, fingia que não ouvia.

Perdi a cabeça e pontapeei a porta com toda a força que consegui juntar. Comecei a correr pela casa toda sem sequer parar para pensar um pouco. Fui encontrar Mike na sala sentado no sofá, olhando para frascos de comprimidos que estavam na mesa à sua frente. De um impulso, atirei todos os frascos para o chão.

- Mike! Isto não está bem, nem tudo está perdido!

Mike levantou-se de um salto e levantou a mão como se me fosse esbofetear mas logo de seguida deixou-se cair aos meus pés, chorando.

- Rose, a minha vida já não faz sentido, não posso viver sem ela. Prefiro morrer!

- Não! Não digas isso... - não sabia o que fazer, nunca pensei que uma coisa destas me pudesse acontecer e não me sentia preparada para tal coisa - Senta-te no sofá, vamos conversar, por favor.

- Ela não me podia fazer isto - Mike sentou-se no sofá como se o seu corpo pesasse uma tonelada e as lágrimas que escorriam pela sua face brilhavam com a luz do pequeno candeeiro que iluminava a sala - Não podia...

- A culpa não é dela, não foi ela que quis, foram os pais dela! Ela também está muito triste, ela ama-te! Isto também lhe está a custar muito, acredita...

- Não aguento viver sem ela, Rose, ela tirou-me tudo o que tinha quando me disse que me ia deixar. Não vou aguentar...

- Vais sim, tens amigos que te vão sempre ajudar. Estou aqui para o que precisares, podes contar sempre comigo. Aliás, nem tudo está perdido. Ela está a tentar convencer os pais a ficar aqui para puder estar contigo. Imagina que ela até já fez greve de fome... - pisquei-lhe o olho e ele sorriu um pouco, a esperança voltara a nascer na sua pobre alma.

- Tens razão, não posso desistir assim, tenho de lutar pela mulher que amo!

- Sim, aí está! Vês? Não fazia sentido fazeres o que ias fazer, há sempre uma solução mesmo que não a estejamos a ver.

- Como sabias o que eu estava a fazer? Como te lembraste de vir aqui?

- Foi apenas uma coincidência, queria apenas saber se estavas bem e tive um mau pressentimento... - tentei disfarçar.

- Mesmo assim, obrigada, Rose. Sem ti tinha deitado tudo a perder. Obrigada! - nesse momento, ele abraçou-me e não pude deixar de me sentir aliviada por saber que, de agora em diante, o Mike não iria cometer loucuras.

- Mike, tenho de ir para casa para trocar de roupa que já são horas de me começar a aprontar para ir para a escola...

- Desculpa se te estraguei uma noite de sono...

- Deixa lá, não há problema. Ficas bem? Promete que não vais cometer nenhuma loucura.

- Sim, podes ir. Eu prometo.



A Guardiã do Medalhão SagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora