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Quando acordei, estava deitada na cama de Miguel e, olhando para o relógio, vi que eram já oito da noite. Levantei-me e desci ao andar de baixo.

- Olá, dorminhoca! - Miguel estava na sala a pôr a mesa e sorriu assim que me viu.

- Ela já acordou? - Mariana veio da cozinha com um avental e uma colher de pau na mão - Rose, estou a fazer o jantar, não deve demorar muito... Deves ter fome...

- Os meus pais foram jantar fora, foram a um aniversário... - disse Miguel.

- Miguel, eles sabem que eu estou cá? - perguntei, preocupada.

- Sim, já lhes disse que a tua casa foi assaltada e que o Carl e a tua mãe estão no hospital porque o Carl levou um tiro. Vais ficar aqui uns dias connosco... - beijou-me a testa e foi buscar um copo que pôs em cima da mesa.

- Estás melhor? - perguntou-me Mariana.

- Melhor?

- Sim, o Miguel disse-me que te estavas a sentir mal e te foste deitar...

- Sim, já estou melhor...

Um jantar entre amigos, era o que eu precisava para me distrair dos problemas e me divertir um pouco. De facto, durante todo o jantar rimos e consegui, finalmente, distrair-me um pouco...

Depois de um bom jantar e de tudo estar arrumado, a Mariana foi fazer os seus trabalhos de casa e eu e o Miguel fomos para o quarto dele.

- O que te apetece fazer? - perguntou-me Miguel.

- Não sei, escolhe algo... - a minha voz era apenas um sussurro.

- Queres ver TV?

- Pode ser... - na verdade, qualquer coisa que me distraísse serviria.

- Queres explicar-me melhor o que disseste esta manhã? Aquilo de te transformares num pássaro...

- Espera, vou lá abaixo buscar o meu livro...

Desci as escadas e ouvi barulho no exterior. Os pais de Miguel estavam a estacionar o carro na garagem e, daí a nada, iriam entrar em casa. Apressei-me a procurar o meu livro e fui encontrá-lo no sofá tal e qual como o deixei...

Subi novamente ao quarto de Miguel e dei-lhe o livro.

- Lê! Neste livro está tudo sobre a nossa tribo. Como vivemos, as nossas lendas mas sobretudo, tudo o que se sabe sobre o Medalhão Sagrado.

- Todos os Guardiões têm um?

- Não, este é o Livro dos Anciãos. Encontrei-o num templo longe daqui quando o Carl estava transformado em lobo...

- Transformado em lobo? - a sua cara de espanto era engraçada.

- É uma história complicada... Lê o livro e depois irás perceber melhor as coisas quando falo contigo - dei uma gargalhada e pisquei-lhe o olho.

Deitei-me na cama e comecei a ver televisão enquanto Miguel lia o Livro dos Anciãos.

- Posso entrar? - a mãe de Miguel bateu à porta.

- Claro, mãe!

A mãe de Miguel entrou no quarto e olhou para o filho muito admirada. Depois, olhou para mim e sorriu.

- Estou a ver que esta rapariga te anda a mudar... Nunca te tinha visto ler por vontade própria! Rose, se precisares de alguma coisa podes pedir... Faz como em tua casa. E tu, Miguel, porta-te bem que já estás a ficar um homenzinho... - deu uma gargalhada e saiu do quarto.

- A minha mãe é muito brincalhona, não lhe ligues... - disse Miguel, envergonhado.

- Eu acho-a engraçada - e pisquei o olho ao mesmo tempo que tirava a língua. - Não está a dar nada de jeito na TV...

- Leio depois... - Miguel notou a minha tristeza e acrescentou - Queres jogar a alguma coisa?

- Não sei, que jogos tens?

- Muitos, mas a consola está lá em baixo por causa da festa do outro dia...

- Então vamos lá jogar. Vamos ver quem consegue vencer o outro numa partida de luta livre... - e, dito isto, saltei da cama e desci à sala.

Estivemos a jogar até estarmos caídos de sono... Deviam ser já perto das três da manhã e nós ainda estávamos a jogar.

- Em que quarto vou ficar? - perguntei a Miguel, bocejando.

- Não sei, tu é que escolhes... Os meus pais não se interessam...

- Hoje, fico contigo. A Mariana já deve estar a dormir e eu não a quero acordar...

Subimos de novo ao quarto. Vesti um pijama de Mariana na casa de banho do quarto enquanto Miguel se despia no quarto. Escovei o cabelo lentamente enquanto os meus pensamento divagavam. Num pequeno copo, uma escova azul repousava. A escova de Miguel! Sentindo-me como uma criança malcomportada, peguei na escova e escovei rapidamente os dentes. Voltei para o quarto e Miguel estava já na cama. Os músculos do seu torso despido sobressaiam à luz do candeeiro. Senti-me corar. Era a primeira vez que dormiria com um rapaz. Nunca tinha imaginado nada assim. Miguel olhava-me, fascinado. Sentei-me na cama e voltei a pensar no Carl e na minha mãe.

- Achas que o Carl está bem? - tentei quebrar o clima embaraçoso que se tinha gerado.

- Não sei, mas eu tenho o número do hospital. Podes ligar para lá, se quiseres.

- Ligo amanhã de manhã, agora já é muito tarde... Só espero que esteja tudo bem - algumas lágrimas começaram a emergir.

- Vai correr tudo bem, vais ver...

Miguel meteu-me na cama e puxou-me para o seu colo. Abraçou-me e agarrou a minha mão até ficar a envolvê-la. Beijou suavemente os meus lábios e o meu coração disparou. Estava tão feliz por estar tão perto dele. A distância entre nós era tão insignificante! Éramos um só! Era bastante embaraçoso estar deitada ao seu lado. Contudo, o único desejo que sentia era envolver-me nos seus braços e ficar assim eternamente.

- Boa noite, dorme bem - murmurou-me ao ouvido.

Adormecemos entrelaçados sem quase nos darmos conta disso.



A Guardiã do Medalhão SagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora