Capítulo 10 - O acidente no passado

3.3K 174 10
                                    

Quando chegou a hora de jantar eu subi as escadas indo até à cozinha. Durante o tortuoso tempo que levou a findar o jantar, eu não olhei uma única vez para o cabeça de alforreca que comia à minha frente.

O beijo de hoje mais cedo não me saía da cabeça e a minha consciência de alguma forma pesada por achar que de certa forma este acontecimento pode destruir o sonho do meu pai. Eu deveria ter mais em conta as coisas e colocar a cabeça em ordem para não cometer outro erro deste tipo.

- Hoje eu e a Anne vamos ao cinema ver um filme. - O meu pai informa. - Não queres vir connosco, Blayane ?

- Eu tenho coisas combinadas agora à noite com os meus amigos. - Informo também. - Desculpa.

Claro que eu sabia que o objetivo do meu pai era que eu me aproximasse de Anne para então incluí-la na minha vida.

- Por que é que é que não dizes antes namorado ? - O cabeça de alforreca abre a boca pela primeira vez neste jantar e nesse momento eu realmente olho para ele irritada.

- E se for meu namorado, que tens tu a ver com isso ? - Eu questiono cansada que se meta na minha vida como se eu fosse uma criança que precisa de ser controlada.

- Nada, só me preocupa que mintas ao Robin. - Ele sorri cinicamente.

- Podes guardar a tua preocupação, pois não estou a mentir em nada. Ashton é apenas meu amigo, pai. - Eu digo olhando o mais velho.

- Andas enrolada com ele. - Harry afirma.

- Meu Deus, como te preocupas com a minha vida! - Exclamo. - Então e tu que andas enrolado com a princesa de voz de cana rachada.

- Qual é o teu problema com ela ? - Ele pergunta levantando-se.

- Qual é o teu problema com ele ? - Eu respondo com outra pergunta e imitando a sua ação levanto-me mas acabo por ser puxada pelo meu pai obrigando-me a sentar novamente.

- Está na minha hora. - O de olhos verdes diz saindo da mesa.

Mas que conveniente ele sair exatamente agora. Não entendo qual é o problema dele caso eu andasse com o Ashton. É mesmo irritante.

- Com licença. - Afirmo levantando-me da mesa. - Perdi o apetite todo. - Retiro-me então indo até ao meu quarto.

Cheguei ao meu quarto e fui escolher a roupa para sair. Escolhi uns calções pretos com um corte vintage e da parte de cima uma top preto de manga comprida. Calcei as minhas botas e amarrei o meu cabelo em um coque frouxo. Depois de passar o clássico batom preto e um pouco de perfume saí de casa.

Sentei-me no degrau em frente ao portão da entrada pedestre esperando que então Ashton aparecesse para me apanhar. Em poucos minutos o seu carro apareceu à minha frente e eu sorri vendo o mesmo. Abro a porta do lugar de pendura entrando no carro.

- Prontinha ? - Ashie questiona.

- Claro. - Sorri. - A Demi ?

- Ela está a ir para lá junto de Luke. - Ashie diz mantendo o olhar na estrada.

- Eu não queria ser do tipo casamenteira nem nada, mas eu acho que esses dois ainda vai dar em coisa. - Afirmo e Ashton ri acenando em concordância. 

- Achei que apenas eu tinha reparado nisso.

- Eu já tinha reparado também. - Respondo.

Instalou-se um silêncio confortável que me permitiu recordar memórias que só então eu percebi que ainda guardava no meu íntimo. Recostei a minha cabeça no vidro e deixei-me reviver tempos que eu sabia que não voltariam.

Estava com a tenra idade de quinze anos quando fui para a que seria a minha primeira festa, escapulindo pela janela do meu quarto depois do jantar. O meu pai estava muito ocupado a resolver pendências do trabalho, por norma ficava até tarde no escritório a tratar disso. Ele nunca deixaria que eu fosse para a festa então eu não tive outra alternativa.

Olhando para trás percebo em como nunca me faltou nada material mas eu sentia que precisava de ter um pai mais presente. Ele sempre tentou ser e sempre fez de tudo para conseguir mas hoje em dia não me parecia suficiente o tempo que tivemos juntos.

Como eu tinha o hábito de trancar a porta do quarto à chave o meu pai não daria pela minha falta. Retirei a roupa toda do armário escolhendo as peças que eu levaria, eu queria sentir-me bonita.  Fiz uma corda de lençóis e assim desci pela janela vendo Zac à minha espera sentado na sua mota segurando o seu capacete em mão e outro seguro no guiador. 

Zac era o meu namorado. Ele era dois anos mais velho que eu. Ele estava lindo, o seu cabelo castanho claro liso estava jogado para o lado, ele vestia umas calças de ganga e usava uma t-shirt preta com um casaco de couro preto por cima. Relembro quando ele me disse que eu estava bonita.

Era a minha primeira festa e era suposto ser uma memória feliz, mas infelizmente não foi assim que sucedeu. 

Zac e eu éramos muito novos e estávamos a aprender o que era o amor, tínhamos muitos planos juntos. Quem nos rodeava sabia que era algo genuíno e que contra todas as possibilidades era algo para durar.

Ele era muito pacífico ao contrário de mim que sempre pareci um furacão. Nessa noite, Zac envolveu-se numa briga com um rapaz que se meteu comigo. Acontece que esse rapaz pertencia a uma gang relacionada a drogas e aquilo descarrilou de tal forma que ele acertou um tiro em Zac que acabou sendo fatal.

O corpo já sem vida daquele que era o amor da minha vida estava estirado no chão, eu só me recordo de sentir um aperto no peito que me fez cair de joelhos no chão implorando para que ele abrisse os olhos. Eu não estava pronta para perde-lo, eu não estava pronta para suportar a dor de não o ver mais. Ele simplesmente não reagia, ele tinha partido também. 

Eu precisava dele, como é que era suposto eu sobreviver a todo o caos que a minha vida era sem ele ?

Eu agarrei o seu corpo sem vida abraçando o mesmo e disse-lhe por uma última vez o quando o amava. Demi que tinha vindo também para a festa simplesmente puxou-me do chão, afastando-me de Zac enquanto eu gritava, despedi-me com um beijo casto nos lábios dele chorando desesperada. Era suposto sairmos da festa juntos.

Tudo ficou embaçado por conta das lágrimas, eu só conseguia ouvir o barulho das ambulâncias e dos carros da polícia.

Quando cheguei a casa já acompanhada do meu pai que tinha sido chamado ao local em que ocorreu o crime, eu olhei-me ao espelho. Eu estava uma desgraça, mas nada disso importava. 

Ao reparar no sangue presente na minha roupa eu permiti-me chorar o quanto fosse. Assustada em como é que eu iria viver daqui para a frente sem a presença dele e sem conseguir olhar para os seus olhos de novo eu sentei-me no chão sendo abraçada pelo meu pai.

Era injusto. 

Nunca mais eu iria contemplar as estrelas junto dele, não iriamos estudar mais juntos, Zac não iria rir mais sobre como eu era uma nódoa a matemática... Tudo se tinha tornado memórias naquele momento.

- Blay, estás bem ? - Ashton pergunta preocupado uma vez que já devíamos estar parados no estacionamento à um bom tempo. - Estás a chorar.

- Estou bem. - Eu sorri. - Não é nada.

É exatamente por isso que eu digo que o amor te tira o tapete de baixo dos pés e te deixa desamparada.

Stepbrother/ Harry Styles fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora