DIGA QUE ME QUER!

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Prólogo

No conjunto de emergências, aquela era definitivamente um código azul. Joni Montgomery apoiou-se no balcão da área reservada para as enfermeiras do Hospital Santa Rosa de San Antonio e olhou para o fone em sua mão como se ele pudesse metamorfosear em um octópode a qualquer momento. Afinal, essas coisas sempre acontecem nos pesadelos, não? E isso não podia ser real.

Ela encostou novamente o fone no ouvido e tentou soar calma.

- Espere, mamãe, talvez você tenha entendido mal. GP não pode estar vindo para cá nesta época do ano. Ela sempre vai a Charlotte para o Show Aéreo VA.

- Gostaria de estar enganada, mas sei bem o que ela disse. Sua avó Pettigrew virá a San Antonio dentro de suas semanas e ficará aqui até encontrar um marido para você.

Joni rangeu os dentes e enfiou uma das mãos no bolso do avental de enfermeira. Poderia jurar que havia guardado nele alguns comprimidos de analgésico extra-forte para dor de cabeça. De repente, sentia que uma gigantesca dor de cabeça estava se aproximando.

- Por que ela tem de fazer isso agora? Ou melhor, por que ela tem de fazer isso? Não acredita que posso encontrar o homem da minha vida?

- Parece que não. Ela disse que já esperou vinte e seis anos e não vai continuar esperando até que você encontre um marido adequado.

Joni espremeu-se contra o balção para permitir a passagem de um carrinho com material de primeiros-socorros.

- Mamãe, você sabe que tipo de homem a vovó considera adequado. - fechando os olhos lembrou o desfile de pilotos de corrida, pilotos de guerra, e toureiros que a avó enviara em sua direção. Havia sido apresentada até a um especialista em desativação de bombas. Se o homem tinha um trabalho perigoso ou uma atitude destemida, ele já se tornava o marido ideal do ponto de vista de sua avó.

- Ela acredita que você precisa de mais excitação em sua vida.

- Ser enfermeira em uma ala de emergência não é excitante o bastante? - Joni olhou para a fileira de carrinhos prontos para serem utilizados, para os cubículos fechados por curtinas e os médicos e enfermeiras que se moviam apressados entre eles. Uma noite de sabádo naquele lugar fazia qualquer pessoa ansiar pelo comum e rotineiro. - O que há de errado com um homem aborrecido? Você se casou com um homem comum. - O pai de Joni era um assessor de impostos cuja idéia de excitação era uma noite de sexta-feira na video-locadora.

- Seu pai pode parecer aborrecido para você, mais é um homem muito romântico.

Joni resistiu ao impulso de virar os olhos. Toda família era obcecada por romance, o que fazia dela única diferente no grupo.

- O romance é supervalorizado - ela opinou, não pela primeira vez. Outras coisas eram muito mas importantes em um relacionamento: confiança, estabilidade, integridade. Coisas que ainda não encontrara na combinação ideal, mais estava certa que um dia encontraria, desde que tivesse tempo para fazer tudo a sua maneira.

- O romance não é supervalorizado para sua avó. E nem para você, embora se recuse a admitir tal coisa.

Joni gemeu.

- Esqueça mãe. Não vou me casar com um viciado em adrenalina só para agradar GP.

- Vai ter que discutir isso com ela quando sua avó estiver aqui. Só telefonei para preveni-lá.

- Obrigada, Mamãe . Pelo aviso, pelo menos. - Ela desligou o telefone e continuou apoiada no balcão. Teria gritado se não fosse o receio de incomodar os pacientes. Por isso ela se contentou em enfiar a mão na prateleira atrás do balcão e servir-se do estoque de M&M's mantido pela equipe. Analgésicos para dor de cabeça tinham seu valor, mas crises sérias pediam chocolate.

- Joni, Precisamos de ajuda aqui.

Em pouco tempo, Joni estava ocupada com u,a garota de treze anos que sofrera uma reação alérgica a amendoins. Enquanto monitorava os sinais vitais da menina e esperava o medicamento fazer efeito, Joni considerou suas opções.

Podia deixar a cidade. Mais só tinha direiro a uma semana de férias, e não dispunha de dinheiro e tempo para ir muito longe. GP ficaria na cidade até que ela voltasse ou retornaria para vê-lá.

Podia recusar a cooperar. Afinal era uma pessoa adulta nos Estados Unidos da América. A idéia da avó escolher seu marido era ridículo.

O problema era que GP escreveu a cartilha dos teimosos. Ela se limitaria a sorrir e continuaria fazendo tudo a sua maneira, e antes que percebesse, Joni estaria no altar com um peloto de motociclismo acrobático ou um alpinista profissional ao seu lado.

Joni verificou o sensor de oxigênio preso ao dedo indicador da paciente.

- Está indo muito bem - disse, tocando seu ombro com ternura. - Continue respirando.

Se fugir e bater os pés não eram soluções viáveis, restava apenas uma alternativa: tinha que convencer a avó de que já havia um homem em sua vida. GP não precisaria caçar um marido para sua neta, porque o casamento já era iminente.

Tudo que precisava fazer era encontrar um rapaz com que pudesse ser vista durante os sete ou dez dias que GP passaria na cidade.

Olhando em volta, tentou identificar alguns candidatos. Havia aquele residente bonitão... Não, residentes cupriam horários assassinos. Mesmo que ele pudesse ter uma noite de folga para levá-la a algum lugar provavelmente cairia dormindo.

O paramédico da Lone Star Ambulâncias? Joni fez uma careta . GP o adoraria. Ele pilotava motocicletas quando não estava percorrendo as ruas atrás do volante de uma Ambulância. Não, Obrigada.

Seus olhos encontraram um policial no balcão de informações. Ele até que era atraente, naquelas botas de couro e calça justa... Não! Definitivamente, não! Esses eram os piores de todos viciados em adrenalina. Sa amiga Connie se casara com um policial. E como o marido estava sempre envolvido em uma investigação ou fazendo algum trabalho extra, Connie criava os três filhos praticamente sozinha.

Aí estava. A razão pela qual não havia um homem em sua vida era que todos os homem que conhecia estavam muito envolvidos demais com o trabalho. Queria um homem que estivesse presente para ela e seus filhos, não alguém que passasse todo tempo arriscando a vida, mesmo que fosse para salvar a humanidade.

Uma mulher gorducha e de cabelos encaracolados abrir a cortina da sala de exames.

- Mandy, você está bem?

Mandy, que estivera se portando muito bem até aquele momento, começou a chorar.

- Mamãe!

A mulher correu até a maca e envolveu a menina num abraço.

- Vim assim que me telefonaram da escola.

Joni recuou para permitir alguma privacidade à dupla. Cinco amos de experiência como enfermeira não a imunizaram com contra aquele tipo de cena. O que podia ser mais especial do que o laço entre mãe e filho? Era uma ligação que pretendia experimentar algum dia, assim que encontrasse o homem certo para estar ao seu lado.

Ela consultou o prontuário preso a uma prancheta em um canto da sala de exame.

- Mandy vai ficar bem, sra. Wilson. Ela só precisa manter-se longe dos amindoins. O médico virá dar todas as explicações e orientações num instante.

Joni deixou a sala e voltou ao posto das enfermeiras para mais um ataque ao estoque de M&M's. Estava resolvido, então. Se não era capaz de encontrar um homem no ambiente de trabalho, teria que procurar mais longe.

Ela olhou para o calendário na parede. Tinha duas semanas. Certamente poderia encontrar um homem em duas semanas.

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