From Olympus to Pac Man

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Uma gargalhada gutural penetrou a sala do trono quase vazia. Uma silhueta encontrava-se dobrando de rir. Outra, imóvel como uma pedra.

"Pequena mortal... Se você voltar viva, eu te garanto a imortalidade. Coisa que, obviamente, você não irá realizar".

Quase desmaiei quando ele soltou essas palavras de sua boca, é claro, mas mantive minha postura.

"Jure pelo Rio Estige".

Ele me olhou com surpresa.

"Pelo Rio Estige??!"

O encarei.

"Sim".

Zeus me olhou com tanto interesse que seus olhos provavelmente iam saltitar das órbitas.
"Eu... Juro pelo Rio Estige".

Sorri. Talvez pela primeira e última vez em muito tempo.

Basicamente, eu conectei o capacete com uma grande TV do Olimpo, ou seja, enquanto eu estivesse lá arriscando minha vida, Zeus e quem quisesse ver iria assistir minhas ações do mesmo jeito que acontece na maioria dos games. Respirei fundo e deitei em uma cama de um quarto do Olimpo. Peguei o capacete e imaginei um dos vilões do meu mundo, e então coloquei o NerveGear na cabeça.

Iniciar!

Estava em outro local, encarava uma parede azul neon e sons que eu conhecia muito bem estavam tocando. Estava dentro do Pac Man.

Monstros e vilões do meu mundo, foi o que eu disse.

Depois de alguns segundos, olhei para o outro lado e vi uma fileira de pequenas bolinhas de metal. Fui em direção a elas e, quando cheguei na primeira e a toquei, ela sumiu. Pelo visto, é desse modo que o jogo funciona na vida real. A questão é: como eu saberia quando um dos fantasmas estivesse chegando? De qualquer modo, corri pelas paredes, atravessando o máximo de bolinhas que podia. Conseguia visualizar o mapa do jogo em minha mente de tanto que o havia jogado, de modo que ficavam maiores minhas chances de sobreviver.

De repente, senti um formigamento por todo meu corpo. Em um grito abafado, suprimi a dor que me percorreu, caindo no chão e arfando. Olhei pra cima. Era uma criatura humanoide, com olhos gigantes mas sem boca, uma capa azul cobrindo todo seu corpo, se arrastando no chão. Mas eu não ouvia passos, o que me fez concluir a semelhança com o jogo: o monstro flutuava.

A coisa foi se aproximando de mim e, quanto mais perto, mais sentia a dor percorrer meu corpo. De repente, ela estava do meu lado, e eu fui engolida pela escuridão. Os fantasmas do Pac Man eram muito mais assustadores na vida real do que no jogo, pelo visto.

De certa forma, recuperei minha consciência a ponto de ouvir a musica inicial de novo, e começar a correr e atravessar bolinhas a partir do momento que ela parou. Eu devia ter coletado cerca de metade da primeira grande sessão na última vez? Eu precisava ser melhor agora, se não morreria.

Corri absurdamente, coletei, coletei, coletei, arfei, arfei, coletei, corri, arfei, coletei, arfei, arfei. Havia coletado quase toda a primeira seção inteira quando senti novamente o formigamento por todo meu corpo. Olhei para trás. Lá estava o fantasma, dessa vez vermelho. Olhei para frente. Lá estava uma bolinha muito maior que as outras, a minha preferida parte do jogo: você inverte a situação, pode matar os fantasmas.

Corri, corri, corri. Olhei para trás. O borrão vermelho estava muito perto. Não sabia se ia conseguir. A bolinha maior estava a uns 10 segundos de distância. Olhei para trás. Sentia meus músculos fraquejarem.
O fantasma estava a uns 6.
3...
Corri mais rápido.
2...
Mais rápido.
1...

Pulei para a frente logo quando senti o fantasma incrivelmente perto do meu pé e atravessei a bolinha. Virei para trás. O borrão vermelho, antes grande e assustador havia se tornado em um frágil e assustado cachorrinho azul.
Cachorrinho azul?

Que tipo de Pac Man era esse?!

Ah, pensei. O da vida real. A vida real sempre é mais brisada.

Andei até o cão e quando cheguei perto ele sumiu. Corri mais por entre os corredores. Provavelmente havia terminado pelo menos uma parte da seção superior, quando virei em uma parede e eles estavam lá.

Três deles.

Formigamento.
Dor.
Escuridão.

Olivia's gameOnde histórias criam vida. Descubra agora