Passei pelo jogo com muito esforço e estava muito cansada na última etapa quando eu e Pandora chegamos no Olimpo. Sim, eu passei grande parte do jogo com ela e podia dizer que havíamos nos tornado "amigas". Eu tinha a força e as habilidades do Kratos, mas parecia comigo mesma: olheiras, cabelo bagunçado, magra.Não sei como isso funcionava, mas quem era eu pra reclamar, não é mesmo? Quando chegamos lá, vimos Zeus. Teoricamente, meu pai, no jogo. Seguindo meus instintos, dei um urro e ataquei. Obviamente, ele atacava de volta e eu podia dizer que a luta estava equilibrada para ambos os lados. Afinal, eu era filha de Zeus no jogo e consegui muitas habilidades ao longo deste (mas não vamos esquecer que o Kratos é muito bombado).
De repete, o deus agarrou Pandora, falando todas aquelas baboseiras dos jogos como "você errou ao escolhê-la", "ela é seu ponto fraco" ou até mesmo "você me decepcionou, filha". Obviamente, eu não liguei para nada disso. Me controlei como não acreditava que seria capaz de fazer e não dei um ataque quando Zeus jogou Pandora em uma pedra, matando-a.
Sabia que era só um jogo e a única coisa real era minha existência, minha vida e minha morte.
E minha vingança.
Mas então foi insuportável.Também sabia que aquele deus á minha frente não era o real, mas estava ficando muito parecido com este. Senti meus ossos vibrarem e minha alma quase escapulir da cápsula de meu corpo junto com meu coração pela minha garganta.
"YOU FAILED HER AS YOU FAILED YOUR FAMILY", ele disse. O deus que matou meus pais, falando que falhei com minha família.
A esse ponto havia perdido minha cabeça, e não distinguia o que era real e o que não era. Com espada na mão, urrei e corri em direção ao deus, provavelmente com muito mais violência e força do que o programado no jogo, já que assim que desferi o golpe houve um clarão ofuscante e não vi mais nada.
Acordo em um templo, e o deus está na minha frente. Precisava destruí-lo. Urrando, parto para o ataque e eu não sei se foram os pequenos hacks que eu usava de vez em quando, a força do corpo de Kratos que de alguma forma era o meu, as habilidades que consegui ao longo do jogo ou apenas minha sede por vingança que fizeram com que eu estivesse vencendo o deus na luta.
Então, Gaia apareceu.
Eu já previa isso, já havia zerado o jogo embora não me lembrasse de todos os detalhes, mas mesmo assim a visão real me assustou. Tinha uma forma humanoide gigante, com corpo de mulher, mas eu podia muito bem dizer que ela era uma árvore de éons de anos. Sua pele verde-musgo era entrelaçada por troncos e tinha textura muito semelhante a estes, enquanto correntes de água doce percorriam os galhos. Não tinha exatamente olhos, nariz ou boca, apenas cavidades.
Ela pegou o tronco em suas mãos e o jogou para longe, me fazendo perder a consciência imediatamente. Eu acordo em um campo, cheio de corpos sem vida. Percebo que estou sem a minha espada, de modo que pego a de um dos defuntos e me preparo para o que estivesse por vir. De repente, senti uma mão gigante me arrancar de onde estava, e outra arrancar a espada de minha mão.
Viro para trás e encontro o rosto que tanto aprendi a odiar. Ele dá uma de suas gargalhadas odiáveis, me segura pelo pescoço me fazendo sentir a proximidade de minha morte. Seria ali? Derrotada por Zeus, tanto na vida real quanto na realidade virtual? Antes que pudesse pensar mais, um clarão me cegou.
E então tudo virou escuridão. Havia reaparecido em outro lugar, completamente envolvido pelas trevas. Mal conseguia me enxergar, muito menos o que havia á minha frente. Uma risada forte e desgraçada.
"NOTHING BUT DARKNESS LIES AHEAD, KRATOS". [Nada além da escuridão está á frente, Kratos]
Aquela voz maldita.
Aquele deus maldito.Começei a correr, mesmo sem ver nada. Não podia ficar parada e tinha certa lembrança de quando zerei o jogo, há muito tempo. Era tudo escuridão e silêncio, até o momento que não foi mais.
Começava a ver grandes rastros de um líquido vermelho-escuro no chão, e então ouvi um grito, que reconheci como sendo a filha de Kratos. Lembrava que aquilo era tudo baboseira também (óbvio, uma baboseira da qual eu gostava), mas apenas perderia tempo com aquilo. Ignorei os gritos e segui correndo.
Estava perto de zerar o jogo e, se não morresse, da minha vingança perante Zeus.
O tempo podia ser relativo ali, eu não sabia quanto havia gastado completando os trabalhos. Sinceramente, me parecia muito tempo, mas esperava que não fosse. Eu imaginei o deus (e outros olimpianos) me vendo pela tela, provavelmente muito impressionados por eu ter chegado até aquele momento (se ele ainda estivesse assistindo). Ou não, apenas arrependido e furioso, de modo que quando voltasse vitoriosa morreria logo em seguida. Esperava que não fosse isso também.
Então, ouvi a voz doce de Pandora: "Kratos! I can show you the way".
Sabia que ela me levaria a uma lanterna (o que seria bem útil no momento), então segui a voz. "Hurry!" Corri mais rápido. Avistei seu corpo na escuridão, contornado de chamas azuis. Fui até ela, mas quando cheguei as chamas a envolveram e restou apenas sua voz: "In the darkness, the fires of hope will set us free". [na escuridão, o fogo da esperança nos libertará]
Assim, peguei a lanterna e ela me guiou até o que supostamente deveria ser a família de Kratos, mas os corpos da esposa e filha viraram minha mãe e meu pai. Senti uma pontada no coração. Me senti imensamente culpada pelas últimas semanas com meus pais. Podia lembrar cada palavra de ódio, cada resmungo e cada simples gesto embargado com repugnância que havia proferido ás pessoas amáveis na minha frente, mesmo que naquele momento parecessem anos que distanciavam aquilo do agora.
Mal conseguia olhar nos olhos deles. Pensava que fossem descontar tudo aquilo na única chance que tinham de fazê-lo, mas não ouvi uma palavra. Olhei para cima. Eles estavam sorrindo para mim. Um sorriso calmo, pacífico. Estavam abraçados, e não suportei a pequena distância que havia entre nós e corri para um abraço, derramando uma única lágrima na escuridão.
Dois segundos depois, assim como aconteceu com Pandora, eles foram engolidos pelas chamas, e observei os últimos fragmentos de meus pais sumirem, assim como a paz que senti antes. Eu não os veria mais por conta de Zeus.
Então, pulei de um penhasco e caí em um rio, embalado em gritos de puro sofrimento e dor, com corpos se agarrando ao meu corpo. Queria sair daquela situação o mais rápido possível, porque era repugnante e estava tomando meu tempo. Também ouvia a voz de Zeus pedindo, rindo, gritando, ordenando, falando para que morresse. Ah tá. Vai nessa.
Encontrei uma enorme caixa e a abri, causando outro clarão, no rio envolvido em escuridão. Me encontrei em um campo novamente, com o deus atrás de mim, porém mil vezes mais fraco do que o normal. Claro, pensei. Minha raiva e experiência com jogos, junto com a força e habilidades de lutas de Kratos faziam uma combinação e tanto. Zeus não iria durar por muito mais tempo.
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Olivia's game
Fanfictionsó uma história feita para uma gincana de PJO/HDO que eu não queria jogar fora - sobre uma gamer que, por meio de sede de vingança e muitas noites em claro jogando tudo que fosse possível jogar, conseguiu se tornar imortal.