Voltei para o quarto e tomei um bom banho. Pedi para o grande Rafa. Que já havia se tornado um cara mais divertido de se conversar.Para me treinar mais. E ele de bom agrado concordou. Treinos matinais muito bem criados. Pedi para JB me deixar fora das missões por um tempo. E ela me disse que toda a equipe precisava de um tempo. Achei muito bom isso. Terminei o banho e peguei uma roupa limpa. Decidi dar uma passada pela cidade ao redor da base. Que era pequena. Vinte mil pessoas. Algo assim.
Havia lojas pequenas com todo tipo de coisas para se vender e outros serviços. Caminhando por uma rua que era conhecida por morarem muitos joalheiros eu encontrei uma onde se colocavam peças em objetos. Andei até a loja e parei em frente. Como todas as lojas e casas ali. Era somente uma cabana pequena. Uma placa de bem vindo bem desgasta ficava suspensa com letras em vermelho. Havia um velho sentado com óculos grande para o seu rosto e estava sujo.
--- Olá.
O velho levantou os olhos e me fitou. Seu olhar cansado de tanto trabalho me dava pena.
--- Ora, Ora. Seja bem-vindo meu jovem. Em que um velho pode lhe ajudar?
Olhei para as jóias numa vidraça. E peguei minha espada. O velho homem deu um pequeno sorriso e tentou levantar. Por instantes desejei ajudar o pobre homem. Mas uma pequena parte do meu corpo me fez desejar saber se ele iria se levantar. O homem conseguiu. Devia ter um corpo ainda funcional mesmo com a idade avançada.
--- Então. Qual lhe agrada? Essa e uma bela espada.
--- Sim. Porém não gosto de deixar ela chamativa.
--- Essas pedras não dão so beleza meu jovem. São pedras raras.
--- Vou levar uma pela beleza de cada.
--- Um guerreiro apaixonado.
--- Não. E um presente para uma amiga.
--- Entendo. Mas veja. Tenho algo que pode lhe chamar a atenção alem de beleza. Porém custa muito.
Bom. Eis um bom vendedor. Ele atraiu minha curiosidade. E eu odeio não saber das coisas. Não sou um cara tão ligado. Mas o jeito do sorriso, o tom de voz e o olhar do velho ao dizer aquelas palavras me deixaram curioso.
--- Mostre-me - O velho me chamou para perto. E pegou uma caixa pequena. Estava com trancas e bem empoeirada. Devia estar escondida a tempos. Ele pegou uma chave num cordão que havia colocado dentro de sua roupa suja e abriu a pequena caixa surpresa.
--- Veja meu jovem. Olhos de um Uroborus. Muito raras.
O desgracado so podia estar mentindo. Uroborus eram monstros antigos e gigantes. Não haviam mais vivos. Eram destruidores. Ferozes e difíceis de matar. Muitos haviam morrido logo quando surgiram. Pois ainda não haviam se adaptado ao ambiente. Eles surgiram da própria celula. Saindo de todos os lugares. Haviam várias formas. Porém todos quando morriam sumiam rapidamente deixando so os ossos e os olhos.
Havia a lenda de que os ossos eram difíceis de quebrar e que os olhos continham a habilidade de regeneração rápida. Porém isso não foi confirmado. Ainda olhava com a boca aberta os olhos negros na caixa. Haviam três. Dois grande do tamanho da palma da mão e um pequeno do tamanho de um ovo de pássaro.
--- Onde conseguiu isso?
--- Ah. Eu encontrei uma vez num antigo laboratório. Antes de correr para cá. São tesouros. Sei das lendas. Mas ja estou velho e minha amada filha não quer isso. Mas vejo seu interesse. Posso vende-los a você.
--- Quanto quer pelos três?
O velho abriu um sorriso largo. Iria faturar muito. Não havia sistema monetário na base. Porém na cidade ao redor dela sim. Era algo simples. As moedas tinham um valor de cinquenta ratz. Com quatro ratz formava-se um dract. Todos tinhamos na base duas formas de pagamento. Com mantimentos e crédito ou em dinheiro civil. Eu não gastava então tinha muito dos dois.
--- duzentos dracts por cada.
--- duzentos e cinquenta e fechamos.
--- duzentos e dez. E pago para você colocar uma em minha espada. A maior.
--- Entendo. E as outras duas?
--- A menor faça-me um anel negro com ela encrustada e a outra maior quero que deixe normal na caixa.
O velho estava feliz. Desgracado. Porém. Eu tinha algo novo nas mãos. Podia servir de algo. Já que diziam que as pedras tinham efeitos sobre os humanos aumentando as capacidades fisicas.
--- Fechado garoto.
Paguei tudo e esperei até ele terminar o trabalho que demorou muito. Quase duas horas. Agradeci e voltei a andar pela cidade. Olhando os muros. Casas mais pobres, pessoas mais abaladas, mas vivendo aos poucos. Andando por uma rua estranha vi várias casas de prostituição. Garotas semi nuas com seios de fora lançavam olhares e chamavam com os indicadores oferecendo seus serviços. Andei até o fim da rua quando uma garota puxou minha camisa. Olhei para baixo e vi seu rosto sujo e roupas rasgadas. Ela me olhava com os olhos suplicantes e me estendeu a mão.
--- Por favor. Estou com fome. Minha mãe está doente. Nos ajude.
Minha boca abriu mas não saia nada. Sabia que as coisas eram difíceis mas não imaginava isso. As cidades tinham suporte para nada assim ocorrer. Por mais que fosse difícil ninguém deveria passar fome. O olhar da garota era suplicante de mais. Quando fui pegar algumas moedas. Alguém puxou minha carteira. Num movimento automático eu girei segurando a mão do ladrãozinho. Ladrãozinho?! Sim. Minha mente registrou a pequena mão. E quando olhei para ele vi uma figura pequena. Um garoto. Devia ter doze anos no máximo. Estava pior que a garota. Havia um cicatriz em seu olho esquerdo. Ele estava travado e tremendo.
--- Solte meu irmão!! - Dentes morderam meu braço. Soltei o garoto e empurrei a menina. Eles correram juntos por um beco e minha raiva me fez segui-los. Becos e vielas tortuosas me levaram a uma casa a duas quadras. Vi os pequenos diabos entrando na casa que era pequena de mais.
Andei até a porta e levantei a mão para bater. Meu braço doía. Estava marcado mas nada tão sério. Duas batidas. Alguns segundos e a porta se abre. A garota me olha e grita. Seu irmão vem correndo com um pedaço de madeira. Saquei a arma e ele parou.
--- Onde estão seus pais? - Silêncio.
--- Não me façam perguntar novamente!
Eles não respondiam. Entrei e fechei a porta. Ouvi tosses no fundo. Os garotos tremiam. Andei ate o local das tosses e o menino ficou na minha frente. Tirei ele do caminho e abri as cortinas. Havia uma cama e sob ela uma mulher. Jovem. Mas doente.
---Não machuque ela. - Olhei para trás e vi o garoto segurando a madeira com as duas mãos e sua irmã atrás dele. Olhei para a mulher. Me aproximando vi que ela estava suando muito. Passei a mão pela sua testa. Ela queimava de febre. Minha raiva sumiu. Respirei fundo. Peguei o rádio e chamei uma equipe de socorro. Os garotos me olhavam sem entender. Andei até eles.
--- Roubar. E algo muito feio. Eu teria ajudado. Ia ajudar. Não deviam ter feito isso. Não façam nunca mais.
--- No.. Nos.. Nossa mma...mãe. - Lágrimas saiam dos olhos dos irmãos. Eles não tinham escolha. Olhei ao redor. A casa tinha duas camas. Eles deviam dormir juntos. Havia um pequeno fogão a lenha e nada mais. Eles estavam desesperados.
--- Eu entendo. Mas não farão isso mais. Certo?
Eles afirmaram com a cabeça. Perguntei o tempo que a mãe estava doente. Três longos dias. A equipe médica chegou logo e levou a mulher e as crianças. Juntos todos voltamos para a base.
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Réquiem
SciencefictionEm um mundo destruído por monstros mutantes. Sobreviver não é fácil. Lutar para viver e viver para lutar. Essa é a realidade do mundo atual. Cometer erros não e uma boa opção. E nesse cenário pós apocalíptico que se encontra os sobreviventes da Zona...