Era complicado imaginar que existiam tantos inimigos por perto. A convivência diária havia modificado nossa falsa realidade. Por mais que o treino e a vida fosse complicada todos criamos um falso sentimento de proteção dentro das muralhas. Mas a realidade monstruosa viria bater em nossa porta em momentos. Minha pequena aventura havia me mostrado o quanto podiamos expandir e obter recursos porém deviamos lutar muito para ter tudo o que precisávamos.
Era hora de voltar a batalhar pela sobrevivência. Hora da humanidade voltar a mostrar sua resistência e impedir a supremacia dos demônios que nos cercavam. Preparamos as táticas de defesas que tantas vezes treinamos. Mas agora era pra valer. Sentia a tensão no ar. Vários dos nossos estavam tremendo de medo, excitação, ansiedade. Porém eu estava calmo. A calmaria antes da tempestade. Subi até as muralhas e vi JB dando as últimas ordens. Todos sem exceção estavam lá. Prontos.
Um grande som estrondoso se fez quando um prédio começou a cair enquanto milhares de seres humanoides corriam em nossa direção junto dos morcegos e harpias que haviam se misturado a eles.
--- Ótimo. Toda a vizinhança veio nos comprimentar. Finalmente. Achei que eram tímidos.
--- Erick! – JB me chamou a atenção para o momento sério que iriamos enfrentar. Mas eu não podia começar sem uma piada sem graça. Afinal. Esse era meu estilo.
Cornetas de alarme soaram. Ao longe vários animais gigantes se juntavam a festa da carnificina. Monstros e animais mutantes como elefantes de quatro chifres, rinocerontes com várias marcas de cortes, arranhões e furros de garras afiadas e claro para alegrar a criançada um convidado especial. Um fodendo animal vindo do inferno. Sim. Um escorpião de cinco metros. Ah como eu amo esse mundo. Onde seus maiores medos são trazidos a você gratuitamente.
O mega exército de monstros marchava em nossa direção. Faltava no máximo dois quilômetros e meio para a muralha.
--- Erick... Ayumi me chamou. De onde ela havia surgido?
--- temos que lutar. Você ficara no esquadrão que derrubará os menores enquanto os outros receberão artilharia pesada( ela falava isso com tanta tranquilidade. Droga eu que vou pro meio de tudo).
--- Que bom. Adoro o solo. A poeira, os monstros... a morte me oferecendo uma xícara de café.
--- Atenção!. E chegada a hora de lutarmos mais uma vez pela sobrevivência. Não importa o numero de inimigos...
Minha mente ficava imaginando de onde JB conseguia tanta inspiração para escrever textos motivacionais. Certeza que ela escrevia vários para cada momento.
---... e entre tantos momentos difíceis nós, a humanidade, superamos as barreiras e...
Caralho que chato. Isso já ta dando tédio. Sério. O mundo prestes a acabar e ela ainda ta falando. Ao menos não está reclamando comigo. Erick arrume a bagunça, Erick se vista corretamente. Eri...
---Erick!!!. – droga. Mas já?. – preste atenção. Todos já estão em suas posições. O que está esperando droga?!
--- Não vai ter um lanche antes? – todos me encaravam– ah!... que fome. – virei-me para o parapeito e coloquei um cabo de aço perfeitamente alocada a um sistema de polias. Deviamos saltar, cair, matar... ou morrer... básico.
E então. Buummm!!!. Um impacto gigante na muralha. Tudo tremeu. Balas e mísseis voavam em direção as bestas. Eu estava perdido. De repente. Todos pularam... outros cairam feito merda de uma altura inimaginável. Claro que eu fui uma merda que caiu... mas uma merda bonita temos que admitir. O chão se aproximava e os monstros nos aguardavam com um olhar de fome ancestral. Quando chegamos a metade da queda/salto. Labaredas sairam da base da muralha para limpar a área de pouso/esborrachamento. Enfim. Chegamos no solo. Todos muito bem por sorte. Tiramos os cabos e... nada. Olhávamos eles em nossa frente com dentes e garras. Um segundo que durou uma eternidade e enfim eles atacaram. Revidamos.
Não pude guardar os detalhes direito dos séculos de batalha que passaram. Minha mente registrava momentos como. Girar, rolar, cortar e alguns como. Amigos morrendo. Corpos de humanos e monstros ao chão sangrando ou gritando, carnificina pura. Morte e desgraça. Um corte no ombro mas meu cérebro ignorou. Continuei a atirar e cortar. Girando e gritando, uma muralha de escudos surgiu poucos metros a minha frente e então cornetas. Olhei para trás e vi cavaleiros com velocidade partindo para cima de todos matando e arrastando. Olhei para cima e vi chamas e balas acertando tudo o que voava e tentava matar qualquer humano. Alguns monstros desciam dos céus e levavam um dos nossos para o jantar. Mas eu havia perdido a fome.
Granadas agora eram lançadas e flechas voavam em direção ao norte. Umas quimera pulou a muralha de escudo e meu corpo reagiu antes do cérebro. Três tiros na cabeça e ela foi ao chão. Eu estava entorpecido. Minha mente havia derretido e eu estava andando observando tudo. Morte e destruição. Por fim minha mente voltou a ter foco quando a muralha se partiu com um avanço de elefantes. Corri e peguei uma lança no chão e joguei em um deles. Não obtive efeito a não ser furia contra a minha existência. Olhei ao redor mas so haviam corpos. A maioria de humanos. Notei um corpo menor caído. Um jovem. Will estava morto pisoteado por algo grande. So havia restado sua cabeça e metado do tronco. O braço direito fora arrancado. Virei-me para a linha de frente restante e corri para ajudar. Voltei para o modo automático. Matando tudo na minha frente. Novamente uma eternidade. Meu braço pesava tanto que perdi o foco e cai de cara para a lama. Sangrando, ferido e coberto de lama. Que jeito mais heróico de morrer. Tentei me levantar mas não havia mais energia. E então fez-se silêncio. Havia movimentação ao meu redor. Mãos fortes me agarraram e me puxaram para perto da muralha. Corpos de cavalos também jaziam no chão. Alguns haviam sido mordidos.
Passei pelo arco da entrada sendo arrastado. Olhos castanhos e um cabelo grande num rosto masculino moreno gigante me observavam. Era o grandão. Ele me olhava preucupado. Talvez com um pouco de nojo. Ele olhava para o meu braço. Olhei junto e entendi o motivo de tanto susto num olhar. A porra do meu braço esquerdo havia sumido. Será que eu sempre irei me ferrar assim? Tudo da errado pra mim. Eu pensava em tudo isso e muito mais, minha mente era um turbilhão de pensamentos mal organizados. Olhava em choque a imagem do lugar vazio onde estava meu braço algum tempo atrás. Droga. As pessoas perdiam armas, objetos pessoais. Ja o Erick e capaz de perder um braço. Fui levantado por alguém mas minha visão não captava nada além de um espaço reto.
--- Meu... meu braço.... – so isso saia. A ideia de ter perdido um membro era assustadora pra mim. Cara era meu braço. Parte de mim. A sensação de ter perdido um braço e uma merda.
--- Erick!! – a voz ecoava de algum lugar. Minha mente estava desligando e a visão ficando turva. E então mais uma vez. Eu o grande Erick. O ser mais sortudo desse mundo fodido. Apaguei.
Flash de imagens... rostos distorcidos... sangue... sons indecifráveis... gritos... choro... tudo vinha em câmera lenta. Cenas desconexas... meu nome era chamado mais e mais vezes. Fique acordado. Elas gritavam. Um suspiro. E tudo se apagou de vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Réquiem
Ciencia FicciónEm um mundo destruído por monstros mutantes. Sobreviver não é fácil. Lutar para viver e viver para lutar. Essa é a realidade do mundo atual. Cometer erros não e uma boa opção. E nesse cenário pós apocalíptico que se encontra os sobreviventes da Zona...