Capítulo 3 -1°Dia

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A secretária apontou se longe um homem sentado em um escritório e pediu-lhe que aguardasse. Johnny parou, pensou um minuto, tomou fôlego, e caminhou para a antessala do Sr.Marcos.
Sentou-se, cruzou as pernas e repassou, pela última vez, tudo que iria dizer, quando, de repente, foi interrompido por uma voz feminina que lhe pareceu familiar. O dia de Johnny não estava correndo como o esperado e, naquele momento, estava prestes a piorar. Diante dele, com um sorriso cínico, estava Adriana, a atual esposa do seu pai e a responsável pela separação do casal.
Imediatamente, veio à memória de Johnny toda a trama armada por ela para que o romance com o pai de Johnny fosse descoberto. Após tentar várias vezes que Sr.Narário se divorciasse da esposa para ficar com ela, Adriana enviou um falso recardo para que Johnny não fosse ao curso de inglês. Ele voltou para sua casa mais cedo, e apanhou os em flagrante.
Johnny nunca entendo por que foi escolhido para precenciar aquela cena, mas sua decepção maior foi saber que o pai ignorou todas as provas das armações e os abandonou assim mesmo. Aquilo ainda provocava nele grande dor e revolta, e Adriana era a imagem personificada de sua angústia.
Adriana é bem mais jovem que o pai de Johnny. Na verdade, a secretaria tinha mais idade para está com o filho do que com o pai. Antes de envolver-se com o Sr.Narázio, ela havia sido acusada de chantagear o patrão anterior, que acabou fechando um caro acordo extrajudicial com ela para evitar que ela o levasse aos tribunais por suposto assédio sexual.
Corria, ainda, a conversa de que Adriana mantinha outro amante e usava o pai de Johnny apenas para pagar seus gastos excessivos. Embora essa versão nunca tivesse sido confirmada, para Johnny isso já era uma certeza.
Adriana disse com cinismo:
- Que prazer em ve-lo! O que você faz por aqui?
Johnny não respondeu nem lhe apertou a mão que estava estendida para ele.
- Você também está aqui para um entrevista de emprego? - Insistiu ela.
Logo a secretária chamou:
- Senhor Johnny, o Sr.Marcos Alvarenga o aguarda.
Johnny se levantou sem olhá-la, arrumou a camisa, e entrou na sala onde os candidatos eram entrevistados.
Para sua total surpresa, ele viu sobre a cabeça do Sr.Marcos quatro números suspensos. Johnny não podia acreditar. O que era aquilo? Uma espécie de maldição? Será que agora estava tendo visões?
Em estado de choque, Johnny nem se deu conta de que Marcos havia se levantado e lhe estendido a mão para cumprimentá-lo. Johnny, então, lhe retribuiu o gesto. Mas, voltando a si, exclamou:
- Sr.Marcos, perdoe-me! Fiquei, por um minuto, absorto aqui, em meus pensamentos, perdoe-me!
Então Johnny o cumprimentou, sentou-se, mas não conseguia parar de fitar os números acima da cabeça daquele homem.
Antes de dizer qualquer coisa, Marcos perguntou:
- Johnny, você sabe que está vaga é somente para pessoas que estão fazendo faculdade na sua área. Você deve estar na universidade, não é mesmo?
-Sr.Marcos, não pude concluir meu curso, mas, se esse emprego me for dado, prometo que reabro a minha matrícula e volto a estudar. Se o sonher me der esta oportunidade, concluirei meus estudos e serei seu melhor funcionário - disse Johnny ainda atordoado com a cena.
Marcos reclinou a cadeira para trás, olhou bem nos olhos de Johnny e disse:
- Você parece um rapaz confiante, mas eu precisava que você estivesse matriculado na faculdade.
- Se isso for empecilho, então está resolvido! Com ou sem emprego, vou à secretária da faculdade e providencio a minha reserva de matrícula - afirmou Johnny.
Nas várias perguntas seguintes, Johnny não se saiu tão bem porque não conseguia despregar os olhos daqueles quatros números.
Marcos lhe disse:
- Gostei de você Johnny. Dou-lhe a resposta a dois dias, mas preciso que confirme a sua volta para a faculdade ou, pelo menos, apresente-me qualquer documento que prove sua intenção de retomá-la o mais breve possível.
-Sr.Marcos, vim aqui hoje não somente pelo emprego, mas também para voltar para minha faculdade. Decidi voltar com ou sem dinheiro. Vou fazer o meu melhor. Não posso perder essa oportunidade. - respondeu Johnny com ousadia.
Ele se levantou, agradeceu, deu a última olhada nos quatro números que estava sobre o entrevistador, e saiu da sala.
Do lado de fora, mais uma vez Johnny encarou Adriana, que continuava com sua expressão de arrogância e deboche. Ele saiu sem lhe dirigir palavra, tamanho era seu ódio por ela.
Já no elevador, Johnny se perguntava o que seriam aqueles números. Ali, lembrou-se de sua avó materna que havia falecido há dez anos. Lembrou-se com clareza do dia em que, quando ele ainda era criança, sua avó havia imposto as mãos sobre ele, dizendo em tom solene:
- Meu filho, você pertence a Deus. Nunca tente fugir dele. O senhor lhe deu dons especiais e abriu-lhe os olhos para enxergar aquilo que ninguém mais consegue ver.
Johnny pensou: "Seriam aqueles números um sinal de que Deus estava fazendo alguma coisa por aquele homem?" Mas logo as portas do elevador se abriram, interrompendo-lhe os pensamentos. Johnny agradeceu ao recepcionista e parou à porta do prédio. Eram cerca de 10:30 quando ele se virou para a esquerda, para caminhar de volta à estação de metrô, mas deparou-se com duas pessoas que caminhavam em sua direção. Sobre elas também pairavam quatro números!
Johnny não podia mais aguentar aquilo. Seguindo seu caminho, dicidiu fingir que estava tudo normal. Virou à esquina, e avistou mais três pessoas vindo em sua direção, todas com números sobre elas, e ouviu parte de uma conversa:
- E, então, não vai dar pra revisar o carro antes da viagem?
- Mas o carro está ótimo...
Johnny entrou na primeira lanchonete à sua frente, pediu um suco de laranja, e ficou olhando para fora só para ver até onde aria aquilo. Sentado ali, ele começou a notar cada um que passava pela calçada.
A grande multidão parecia normal, mas, de vez enquando, vinha alguém sebre cuja cabeça quatro números pairavam. Então, Johnny decidiu que só havia uma coisa fazer: aboradar uma dessas pessoas na rua para tentar descobrir o que era aquilo. Ele pagou o suco, saiu da lanchonete, e foi a caça.

Johnny Esta Noite Pedirão a Sua Alma(em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora