Capítulo 16

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  Ele havia mordido um pedaço muito grande de pão, e a passagem do ar ficou obstruída. Johnny começou a sufocar, caiu no chão, e sua mãe, desesperada, veio para tentar acudi-lo. Ele não conseguia respirar. Mas seu irmão mais velho, que já estava saindo, voltou, segurou-o por trás e o apertou-o, fazendo com que pusesse para fora aquele grande pedaço de pão que certamente o mataria.

  Johnny, ainda nos braços do irmão, tomou um copo de água recuperou o fôlego e disse em voz alta:

  - Morte pode me pegar até mesmo aqui!
 
  E seu irmão respondeu:

  - O quê? Você ainda está acreditando nessa besteira?!

  Sem dar explicações, Johnny voltou para o quarto e trocou de roupa para sair. Pensou: "Se Morte consegue me ameaçar num simples café da manhã, não vai adiantar ficar em casa. Vou sair e tentar encontrar alguma forma de impedi-la de me levar". Assim, despediu-se da mãe dizendo que iria a uma farmácia comprar remédios para seus ferimentos e saiu.

  Sua mãe tentando empedi-lo, perguntou:

  - Johnny, aonde você vai?

  - Além da farmácia, vou comprar algum presente, afinal de contas, hoje é meu aniversário! - disse, tentado parecer alegre e normal.

  Porém, sua mãe insistiu:

  - Filho, você não está bem, fique em casa. Vamos sair juntos mais tarde, vamos no shopping.
 
  Mas ele nem respondeu, já estava descendo as escadarias do prédio, e se foi.

  O trânsito estava caótico, e milhares de pessoas se empurravam pelas ruas, entrando e saindo das lojas com sacolas nas mãos. O dia estava quente, e uma chuva fina começava a cair sobre a cidade. As músicas natalinas melancólicas tocavam em praticamente todos os lugares, aumentando a tristeza no coração de Johnny.

  Andando pelas ruas, ele esperava encontrar alguma resposta para não morrer. Decidiu que, se seus amigos e parentes acreditavam nele, talvez desconhecidos pudessem ajudá-lo em sua luta contra Morte.

Logo debaixo de um viaduto, como era véspera de Natal, Johnny viu várias sonhoras oferecendo sopa a um grupo de mendigos. Aproximou-se daquela que parecia liderar o grupo e disse:

   - Minha senhora, por favor, posso lhe falar um momento?

  - Você quer sopa também?

  - Não. Quero só sua atenção por um minuto. Vou morrer hoje. Tenho certeza disso! O que devo fazer para evitar isso?  A senhora parece ser uma pessoa que sabe ajudar as outras.

  Ela sorriu e disse:

  - Meu filho, se alguém vai morrer hoje, sou eu, pois sou muito mais velha que você.

  Ele, então, compreendeu que ela nunca acreditaria nele. Por isso: tentou o seguinte:

  - Então, imagine, só por um momento, que eu fosse morrer hoje. O que teria que fazer para evitar isso?

  Ela olhou fixamente para Johnny e respondeu:

   - Se você for bonzinho, ajudar as pessoas, fizer boas obras, tenho certeza que não morrerá. Deus não vai tirá-lo dessa vida se você prometer que vai fazer coisas boas. Se fizer isso, vão acabar morrendo bem velho e, um dia, irá morar no paraíso.

  Mas aquelas doces palavras daqula mulher, lembrou de várias pessoas que tinha visto morrer naqueles dias. Era óbvio que ser bonzinho não o salvaria, porque quase todas aquelas pessoas que havia morrido não parecia ser pessoas más.

  Mas seu pensamento foi interrompido. Desde que saíra de casa, o simples ato de atravessar uma rua se transformara num ritual cruel para Johnny. Ele olhava para os dois lados atentamente e esperava todos os carros pararem no semáforo, antes de colocar os pés na faixa de pedestre. A essa altura, ele já se questionava: " O que será pior: saber o dia em que vou morrer, ou não saber como será minha morte?" Em seu íntimo, ele já havia pensado nas três formas de morrer que ele não queria: atropelado, queimado ou afogado.

  Andando com a multidão, Johnny acabou chegando a uma esquina onde havia algumas ciganas lendo as mãos das pessoas. Entre elas havia um estranho velho trajando um turbante laranja, de barba branca e longa, com roupas indianas. Johnny se aproximou, estendeu a mão direita para uma das senhoras e ficou em silêncio.

  - Está buscando sorte no amor ou sucesso profissional? - perguntou a velha cigana que esbanjava dois dentes de ouro naquel sorriso largo, emoldurado de profundas rugas.

Antes de Johnny responder, aquela senhora olhou para a mão dele e mudou completamente a expressão. Agora, consternada e tentando achar o que dizer, a reação da mulher chamou a atenção do indiano.

  O ancião se levantou e aproximou- se de Johnny, tocou-lhe o abraço e disse:

  - Vá para casa, rapaz. Fique com sua família e procure alguém que você ama!

   - Já sei o que vocês estão vendo aí. Está escrito que vou morrer hoje, não é?

  - Quem lhe mostrou isso? - perguntou o indiano.

  - Ninguém. Eu mesmo vi! - afirmou Jhonny.

  - Só conheci pessoas que podiam ver o dia da morte de outros quando morava na Índia, anos atrás! - disse o indiano.

  - E por acaso o senhor sabe como impedir que alguém morra prematuramente? - perguntou Johnny com a esperança de ter achado a pessoa que poderia ajudá-lo.

     Mais um capítulo para vocês.
     Ótima leitura. Fiquem na paz de Deus. Beijos.

Johnny Esta Noite Pedirão a Sua Alma(em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora